quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um dilema e minhas feras...

Eu tenho aqui dentro, dentro de mim, uma fera. Às vezes consigo fazê-la dormir por um tempo. E durante esse tempo experimento uma quase paz, um quase encontro, quase não preciso de sentido. Quando a fera dorme, consigo existir sem grandiosidade, sem questionamento, quase durmo, quase descanso. Não preciso de erudição, nem metáforas, passo longe de verbos difíceis de conjugar. Ah! Quando a Fera dorme, eu quase esqueço que há uma busca, eu apenas vivo com simplicidade e com coração puro. O tempo é sempre bom, morno até, não há frio, nem grandes opostos, sobretudo, quando a fera dorme, não há dor.
Mas um dia ... nunca é de repente, a Fera, ela é esperta, chega de mansinho, sorrateira, dribla minhas defesas, percebo que ela está acordando por pequenos sinais: uma dorzinha latente, arrepios pelo corpo, suores, gritos roucos.
Os sinais vão se intensificando: um coração que bate descompassado e acelera-se sem motivo.
E finalmente, ela desperta. É a volta da consciência da busca, do sentido, das metáforas, passo os dias conjugando verbos, respirando em arquejos, gritos mudos ecoam do meu peito.Fico alerta, sinto dor. Tenho sede, frio, fome ... fome de coisas que eu nem sequer sabia que queria. Nada me sacia quando a Fera acorda ... sou a pessoa mais exigente do mundo, quero tanto, quero a dor, quero o gozo, quero o mundo aos meus pés ... Ah! Quando a Fera desperta, não há alternativa, quero tudo em grandes goles, bebo a vida no gargalo....

Estou pensando, nesse exato momento, se canto uma canção de ninar ou se danço com minha Fera ao som de Dancin´days ... abra suas asas ... solte suas feras ....

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Deixar ir.

"deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço...."

C.F. Abreu

talvez seja isso o tal do amor incondicional...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Nonsense

Ela queria voltar ao nonsense, não porque o nonsense fizesse sentido, ele em essência não faz, mas o qu ele faz

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Noite Estrelada.

Quando o monge beneditino Dom Pérignon sorveu o primeiro gole de champagne, exclamou: “É como beber estrelas!”.

Pois é ... ontem bebi várias constelações, Ursa Maior, Ursa Menor, Cassiopeia, Cruzeiro do Sul, Três Marias ... enfim, fui dormir estrelada.
...
De bom tenho a dizer que os seres que dentro de mim habitam puderam guiar-se pelas estrelas.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cada vez acredito mais em Papai Noel

" Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra..."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A carta que eu queria ter escrito...

A carta que eu queria ter escrito, não seria noticiosa, prefiro as cartas silenciosas, que falam em voz baixa. Pegaria uma folha da impressora mesmo, capricharia um pouco na letra, mas só um pouco para não deixar a carta sem personalidade. A minha personalidade. Eu estaria nos detalhes, nas entrelinhas, minha respiração poderia ser sentida em cada vírgula. Adoraria terminar a cara com um suspiro no exato momento do ponto final. O cheiro seria sutil, o que desprendesse das minhas mãos ao escrever, não usaria artifícios para deixa-la perfumada. Junto com a carta eu colocaria aqueles bonequinhos recortados de mãos dadas e escreveria atrás - Amigos de Papel. Era assim a carta que eu queria ter escrito...

Delicadezas, Meu Deus!


Recebi um e-mail assim:
"As praças estão cheias de esquilos se preparando para o inverno e correndo e correndo para armazenar as últimas bolotas...você sempre gostou dos esquilos daqui".

Central Park - outono 2009

Desejo para 2010

Ao ler alguns livros nesse ano percebi que certas palavras deixam um gosto bom na boca. É algo real, fica-se com vontade de ler mais, de reter as palavras para que o gosto permaneça. Percebi sabores diversos ao ouvir algumas mesas literárias em Paraty, durante a Flip, algo como um manjar que alimenta a alma e deixa um gosto bom não só na boca, mas em todo o corpo. Sai embevecida de algumas falas, me senti bem alimentada, bem nutrida, salva! Depois foi a vez da Bienal do Rio, onde de novo experimentei a mesma sensação, mas com sabores novos, vindos de outros mundos, outras línguas. Enfim, 2009 foi o ano para eu entender, definitivamente, a que mundo eu pertenço.
O meu grande desejo para 2010 é que eu possa continuar bebendo, comendo e sentido todos esses sabores e que um dia, eu consiga também escrever algo que alimente a alma, traga doçura e sensações boas para quem me ler. E mais, que as pessoas me reconheçam pelo meu gosto, o gosto que minhas palavras deixam.
Que assim seja!!!
Impossível não olhar pra trás, para sucessão enorme de dias passados, 356 dias e pensar. Foi um ano e tanto!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Enquanto isso, nos braços de Morfeu.

Sonhei um sonho bom. Despertei impregnada de você, como se ao tocar em mim, minhas mãos pudessem alcança-lo. Acordei com seu gosto ma minha boca, seu cheiro estava no ar. E no meu coração a sua impressão digital. No sonho, quando eu fugiu, você ria. Quando eu voltava, me acolhia. E se eu chorasse, você acudia. E quando eu me entregava, você recebia. E me beijava e me bebia. Eu me doava e você me queria. Você estendia a mão e eu corria. Eu voltava e você pedia, dá logo a alma! Meu corpo inteiro só queria que o sonho ficasse. Mas quando eu fui ... você partia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma carta sem palavras.

Tão estranho não ser entendida, quando escrevo geralmente estou nua, dispo-me de mim mesma antes de deixar que as palavras me invadam. Tentei ler minhas palavras com seus olhos, em vão. Pra mim disseram a mesma coisa que queriam dizer, nada mais, nada menos. Nada estranho, nada hostil. Eu quase senti seus olhos fitando-me enquanto escrevia, olhos que querem enxergar além de mim, e que por isso, nem a mim enxergam. Ficou em mim um sentimento de inadequação, estranheza, quase vesti suas palavras ... Mas elas não me caiam bem, não eram meu número e mesmo assim a sensação persistia. Até que entendi, não sou eu.
Aquelas palavras hostis ficaram ecoando dentro dela a manhã inteira, na hora do almoço revolveu ir ao shopping. Foi direto para livraria e ficou zanzando por seus corredores sem rumo certo, parecia que procurava um livro, folheou vários, mas nenhum lhe disse nada, a resposta que procurava não estava ali. Quando estou triste gosto de ficar entre os livros, as palavras sempre me acolhem. E foi exatamente no meio desse pensamento que ela percebeu, ali no meio dos livros, no meio das pessoas, que ela tentava fazer as pazes suas próprias palavras.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Obliqua e Estranha?

Não era lá muito lisonjeiro. Estranha por ser diferente? Ou estranha pela estranheza que causava. Será que causava? Ou era apenas reflexo de suas palavras nos olhos alheios. As palavras tem essa peculiaridade, não são exatas, impossível não ler 2, quando se vê 2. Mas com as palavras, não existe essa exatidão. Olha-se personagem e pensa-se na sua própria concepção de personagem, somam-se a isso as suas expectativas em relação ao que gostaria de ler. O resultado é uma leitura tão pessoal quanto pessoal eram as motivações de ser algo além da compreensão. Acho que estou sendo obliqua. Percorro caminhos tortuosos para chegar aqui. Percorro explicações que não tenho para explicar-me. Talvez o obliquo seja como as reticências. Não há nada de dissimulado, ardiloso ... de través, talvez. Gosta da linguagem além da linguagem, das palavras nas entrelinhas, percebo que começo a me sentir confortável nesse espaço, talvez, afinal, estranha e obliqua seja um pouco lisonjeiro...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Esfinge ... finge.

Ela não era desvendável, simplesmente não era. Faltava a ela elementos básicos, fatos concretos, pistas a seguir. Mesmo para um observador mais atencioso. As peças não encaixavam. Ela não se importava, gostava de ser assim, essa era sua essência, o algo que a mantinha aqui. Ela era, e pronto. Mesmo faltando, ela era. E isso bastava. O seu enigma era a sua força. Uma vez ela achou que morria, naquela época ela não entendia. Ser desvendada não era como morrer. Ela finalmente entendeu, já era eterna, mesmo que por um segundo ou vários.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Poetizando o Cotidiano

Meu filho e minha mãe na cozinha da casa dela. O vento assobiando pela fresta da janela.
- Escuta! É o vento falando com a gente - diz a avó
O neto fica em silêncio, presta atenção no ruído e diz:
- Vó, eu não entendo, não falo "ventanês."

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Linguagem das fotos, dos corpos e das bocas.

Mandei um e-mail para um amigo dizendo que estava com saudades e recebi uma foto como resposta. Há algum tempo li "O Corpo Fala" com o intuito de aprender um pouco sobre a linguagem corporal, o que as pessoas realmente querem dizer, mesmo quando não dizem, o corpo diz. Mas no caso da foto como resposta, confesso que o livro pouco me ajudou, não falava nada sobre a linguagem das fotos. Fiquei imaginando o que meu amigo quis dizer com a foto: "Estou bem, feliz, gordo e realizado. Viajando com minha esposa pelos rios da vida." Ou ainda: "Não tenho tempo para responder seu e-mail". Fiquei olhando a foto e tentado imaginar o que as palavras não ditas queriam dizer. Em vão. Respondi com outra foto. E fim.
Essa história me fez pensar em outra estória. Não sou observadora. Conheci uma pessoa esse ano (assim, pessoalmente!) e passei três horas conversando (com a luz do sol) e sou incapaz de dizer que roupa essa pessoa estava usando. A verdade é que o corpo não conseguiu me dizer nada, uma vez que não observei corpo algum, o diálogo se resumiu às bocas (aliás, era uma boca linda!). Devo admitir que gosto mesmo é de ouvir o que as bocas tem a dizer, mesmo quando não dizem.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atos deliberados de uma pessoa nem sempre boa.

Ela não era má, em absoluto, não era uma pessoa má. Mas, de vez em quando, praticava uma maldadezinha ou outra. Não que achasse que era uma maldade no momento em que deliberamente estava praticando o ato. Nunca foi má com a intenção de ser má, mas de boas intenções, o tal do lugar (não vou divulgar o espaço aqui ), dizem que está cheio. Ela tenta ser nobre e praticar apenas atos de bondade, procura nunca fazer ao outro o que não quer que faça a ela e, sobretudo, não paga a maldade alheia com outra maldade. Mas, às vezes, ela não resiste, e pratica um ato vil pelo mais vil dos motivos: vingança. Manda as favas os bons sentimentos, dizem que tiro trocado não dói. Se não dói nela, tampouco doerá no outro. Ela nunca vai admitir, nem para sua própria sombra, o real motivo de praticar determinados atos, afinal, ela é uma pessoa boa, do bem, que pratica boas ações diariamente. Mas, no fundo, bem no fundo, ela sabe, e algumas pessoas (juradas de morte!) também.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Confirmando o que você já sabe.

Assuntos pendentes, família me pedindo socorro, me pedindo conselho. Eu sem conseguir ajudar, queria poder, mas estava sem respostas. O que eu devo fazer? perguntaram-me. Falei com uma amiga, ela sugeriu um Centro de Umbanda. Sou espiritualista, mas caminho por outras bandas, por isso não conhecia o lugar. Topei ir. Ela já chegou me explicando os babados, e eu bem atenta tentando assimilar o lugar, as pessoas, as energias. Pegamos nossas senhas e aproveitamos o tempo para colocar o papo em dia. Anoiteceu. Lua cheia. Começou a sessão. Rolou umas coisas que não entendi. As pessoas cantaram uns pontos. Apareceram as ciganas. Todas lindas. Demorou muito, mas muito mesmo. Chamaram minha amiga, ela foi. Fiquei sozinha. Minha amiga voltou e eu ainda esperando minha vez. Pensei em desistir. Chamaram meu nome. Fui. Cigana tão bonita, falou assim: - Fia, é isso mesmo, é isso que está no seu coração. Você já sabe a reposta. O Caminho é esse. E não precisa ter medo, não vai acontecer de novo. Você só precisava de uma confirmação. Pronto, confirmei. Agora, pode ir.
Sorri, bati minha cabeça três vezes e sai.
...

Diz coração, em alto e bom som!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O absurdo, o concreto, o onírico e a imortalidade.

Não é que ela não tenha mais nada para dizer. Ela tem. Mas as palavras, as que a habitam, resolveram simplesmente ficar por lá. Não querem sair. Porque sair é materializar-se, palavras faladas, palavras escritas, palavras lançadas ao mundo real são concretas, mesmo sendo absurdas. O concreto e o absurdo lado a lado, chega a ser bonito de ver. Tem gosto de surreal. Eu gosto e ela também. Mas as palavras resolveram que não. Preferiram o mundo onírico da-não manifestação-física. E ela se calou por algum tempo. Palavras também tem seus caprichos, assim como ela. Algumas, mais danada, cansaram-se de habitar um corpo, aspiram à imortalidade. Também foi bonito de ver.

domingo, 29 de novembro de 2009

Em casa.

Viajar é sempre bom. Voltar para casa, cada vez melhor. Nada como a minha cama, nada como o meu teclado.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Onde eu perdi minhas certezas?

Onde foi que eu perdi minhas certezas? Ela perguntou para ele. Ele só sorriu, ela não estava falando com ele, mas era para ele que olhava, enquanto fazia a pergunta. Ele poderia responder, preferiu sorrir. Ela estava cansada de procurar, sabia que tinha deixado suas certezas por ali. Mas já tinha olhado nas gavetas, na mesinha da sala, ao lado do computador... Ela se lembrava de ainda estar com as suas certezas, todas elas, no momento que escrevia aquele maldito e-mail. Era uma lembrança nítida: ela sentada, cheia de certeza, seus dedos rápidos digitando palavras contundentes, frases cheias de efeitos, usou algumas metáforas, mas não abusou delas, afinal, estava com suas certezas e com certezas não são necessárias metáforas. Depois de escrever sentiu sede, foi até a cozinha. Mas já havia procurado na cozinha, suas certezas não estavam ali também. Onde ela poderia ter deixado??? Depois foi para o quarto, mas a lembrança do quarto não era tão nítida, as certezas não estavam tão certas. Ela se lembra disso porque ao se jogar na cama, pensou: mas eu tinha certeza, não tinha? Era isso, ela havia perdido suas certezas entre o computador, a cozinha e o quarto. Já havia refeito o caminho diversas vezes e nada.
Ele ouviu com atenção toda história, sorriu mais uma vez, deu um beijo bem de leve na sua boca despida de certezas e foi embora. Ela ficou ali, parada, sem saber o que fazer, já não tinha mais certezas.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uma confissão, enquanto voltamos para ficar.

Andei ausente, mas se me perguntar onde fui, não saberei responder. Não estava aqui e tampouco sei onde estive. Escolhi o silêncio para morar por um tempo, confesso que é uma grande tentação continuar por lá, mas sei que ainda não posso. Não chegou a hora. Queria ter as palavras certas para explicar o que se passa aqui dentro. Pensei em partir, deixar esse espaço, porque era ela que falava e não eu, e por ser ela, eu podia falar o que bem entendesse, era libertador. Até o dia que resolvi reivindicar esse espaço para mim, eu é que queria falar, não mais ela. Mas ela não era eu? Não, não somos a mesma. E era esse o tênue equilíbrio que mantinha tudo funcionando. Percebo, agora, nesse exato momento que escrevo, que no meio do caminho me perdi, perdi a voz. E ela se calou. Não queria usar a minha voz, queria a dela de volta. Ela é uma porção muito preciosa, matá-la é matar o que me salva. Ela é o caixa dois, o lado B, o heterônimo. Preciso disso como preciso do ar que respiro.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Aprendendo a dizer adeus...

- Adeus!

ainda estou aprendendo, mas já consigo repetir

-Adeus!

desapego, let it go ... it go.

eu?

eu fico!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fiquei na dúvida de como responde seu e-mail. Primeiro por não saber se posso reponder, posso? Depois por não saber se quero responder, quero? Depois por não saber que tom usar. Qual uso? Fiquei na dúvida se deveria ser ironica, acida ou doce. O que acha?
Não seja tão presunçoso... acho engraçado como você se identificam e toma para si o que é do outro, deve ser a uviversalidade dos sentimentos. A arte se inspira na vida, na minha, e na de qualquer outra que cruze ou não meu caminho. Vc não é fantasma, nem nunca foi, não se preocupe com isso. Não entendi nada do que escreveu e não se preocupe em explicar, a não ser que seja para vc mesmo. Não faça promessas que não pode ou não quer cumprir ...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Meu aniversário.

Hoje é meu aniversário. Gosto muito de aniversários, apesar de nem sempre querer comemorar com festa, bolo e pessoas, todo ano celebro a vida. Acho que tenho a obrigação de agradecer. Lógico que existem problemas, uns bem grandes, surpresas que a vida nos reserva, cirurgias de uns, problemas financeiros de outros, diferenças de muitos, amigos que partem, pessoas que vão... Mas os amigos que voltam, os novos amigos que surgem, as oportunidades e soluções, os bons resultados são motivos suficientes para celebrar a vida.
Aniversário pra mim é como um ano novo particular, hoje começa meu novo ano. Novas resoluções, ideias, sonhos, ideais renovados, esperança de poder fazer diferente, e principalmente, a chance de fazer melhor. Queria agradecer pelas palavras boas de novos amigos, de velhos amigos que ressurgiram e de grandes amigos que estão sempre por perto. Tenho 365 dias pela frente, isso é uma baita de uma responsabilidade e uma delícia sem tamanho.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Carta a um Jovem Amigo, a um velho amigo e a um amigo que parte.

Eu guardei você, nunca quis deixá-lo ir, não conseguia, queria retê-lo em mim, como se assim eu pudesse guardar os momentos bons, os sentimentos, as sensações que compartilhamos. Sou apegada, tenho muito dificuldade em dizer adeus. Não porque não posso viver sem você, isso eu posso e faço, diariamente, há algum tempo escolhi que assim era melhor. Não digo adeus por gostar de saber de você, gosto de saber que em algum lugar do mundo você está. E o simples fato de saber que eu algum lugar do mundo você vive, respira, ama, e é feliz, me deixa feliz. Faz com que o mundo seja um lugar melhor para mim também. Acho que por isso mantenho um laço, um fio, uma conexão. Resolvi que não quero mais isso, não quero mais olhar para trás, não quero mais ouvir músicas que me lembrem uma vida que eu escolhi não viver. Eu escolhi, escolhi todos os meus caminhos e você não estava lá. E por não saber dizer adeus eu esperei que você dizesse, mas você nunca disse, partiu algumas vezes, voltou inúmeras, sem nunca dizer adeus. Eu sei, você também não podia. Gostava também de saber que eu estava aqui, no mesmo mundo que você, mesmo sendo mundos tão diferentes, dimensões que habitamos. Cruzamos nossos caminhos algumas vezes, outras apenas nos tocamos de longe, algumas vezes valeu a pena, como naquele dia que você me consolou e me pegou no colo enquanto eu chorava. Talvez aquele momento justifique tudo, justifique o que escolhemos. Eu não quero mais fantasmas na minha vida, não quero mais alguém me assombrando. Não quero mais tentar entender, nem desvendar nossa conexão, nem entender porque nunca conseguimos dizer adeus. E por isso, sou eu que digo adeus. Digo por você que não consegue, por você que não sabe como fazê-lo e por você que quer partir e me fez uma promessa. Por todos vocês hoje eu digo adeus. Quero a leveza de não olhar para trás, de mirar para frente sem receio do que vou deixar de ver por não olhar para trás. Há muita vida pela frente, vida que não quero mais compratilhar com você, de forma alguma, nem por palavras, nem por espasmos de arremedo de comunicação. Não quero mais reter ninguém na minha vida, acredito na liberdade e no direito absoluto de ir, ir quando bem se entende, ir. Não foi tarde para dizer adeus, acho que nunca é. Adeus!

domingo, 18 de outubro de 2009

Enquanto isso ...

Há algo, aqui dentro, que parece ter vida própria, acorda nas horas mais improváveis e sussurra verdades inconvenientes. Esse algo, que aqui habita, precisa ter seus desejos sempre satisfeitos, caso contrário, permanecem em pauta. Não há descanso, não há ponto cego. Fica-se a mercê de seus devaneios, vontades, prazeres. Já tentei negociar, sem sucesso...

"O que será que será,
que dá dentro da gente
que não devia????"

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Na vanguarda.

Ela andava muito perceptiva, intuitiva. Os pensamentos pareciam borbulhar dentro dela. Ela sabia, mesmo sem saber como, sabia. E, por algum tempo, bastou. Ela estava ali, em pé, esperando, porque queria esperá-lo, gostava de saber que podia esperar o tempo que quisesse. Era dona do seu tempo, do seu desejo. Podia fazer o que bem entendesse e fazia. Ela não se importava com o tempo dos outros, queria fazer os caminhos se cruzarem, queria uma brecha no tempo-espaço dele, queria poder existir ao mesmo tempo que ele, mas sabia que por hora isso não era possível. Eles não poderiam coexistir, mas existiam. Mesmo sem poder existir. A própria existência dela era um desafio à existência dele. Mas o coração no peito que batia descompassado era prova mais do que suficiente de que existiam, duas almas. Ela e ele, ambos sabiam.
Ela aguardava que um dia ele entendesse o que tinha para oferecer. Era precioso demais para não ser valorizado, mas não é isso vanguarda?

Sou toda ouvidos.

Não sou dada a tristeza, não gosto de falar dela e muito menos escrever sobre ela. Quando estou triste fico em casa, não acho de bom tom exibir tristeza por ai. Mas, o fato, é que hoje percebi que estou triste. Não é uma tristeza doída e sufocante, é só uma tristeza triste. Há algum tempo ignoraria essa pontinha de tristeza, não deixaria ela se aproximar, sei que posso fazer isso. Dessa vez não quero. Esses dias me disseram que a tristeza pode ser uma excelente mestra, hoje escolhi aprender com ela. Pode vir que "sou toda ouvidos".

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

De novo

"Foi bom ter descoberto esse amor, estava faltando em mim meio ao mundo louco..."

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Nada?

Um amigo me perguntou o que eu quero com isso. Respondi que não quero nada. Ele não ficou satisfeito, refez a pergunta.
- O quê você quer dizer com tudo isso?
Olhei para ele, tentei olhar dentro dos seus olhos, demorei algum tempo para responder, não sei quanto tempo, o suficiente para ele piscar alguma vezes, impaciente, tempo também para que eu pudesse pensar em uma boa resposta . Em vão, só consegui repetir:
- Não quero nada.

Acho que ele se convenceu ... ou desistiu de mim,
não sei ainda.

sábado, 10 de outubro de 2009

Me leve, leve-me

Sim, é isso mesmo, por favor, não me deixe aqui sozinha. Sim, é sério o pedido que eu fiz. Sim, eu não quero ser levada a sério, mas quero ser levada. Estou pronta para seguir. Vamos!? Mas sei que mesmo sem você, mesmo sem alguém, mesmo em mistério, eu vou. O bom é que sempre volto, volto para contar, que sem contar não sei viver.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Não me leve a sério.

- Não! Já disse, mil vezes, por favor, não me leve a sério. Não é bom para mim. Parece que você não entende. Já pedi, me leve, mas não a sério. O que ganhamos com isso? Nada, mil vezes, já disse, nada. Nada do que digo, nada do que faço, nem atos, nem palavras. Aprendi bem cedo, aprendi que não se deve ser levada a sério. Finjo que digo o que quero, para em seguida, dizer que não disse o que você jura ter ouvido de mim. Gosto de flertar fazendo de conta que jamais faria isso. E, sobretudo, divirto-me fazendo. Gosto especialmente quando você tenta me desvendar. Devo alertá-lo: jamais alguém poderá fazê-lo, mesmo que eu diga, por compaixão, que sim, que alguém já fez. É mentira. Mas é verdade, quando eu digo que minto, às vezes, minto, mas é sem intenção. E, algumas vezes, uso a mentira para dizer a verdade mais louca, absurda. Um segredo: ali, nas entrelinhas, sempre há verdade, verdades despidas, mas se você disser que leu, terei que negar, por pudor, por costume ... Sempre.
Por isso, só me leve, por favor, me leve.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O que quero com isso?

Andei desconcetada, andei pelos cantos. Quem sou? Perguntei para várias pessoas. Ninguém respondeu. Quem sou? Peguntei para mim mesma, e não ouvi a resposta. Fiquei passeando por palavras antigas, naveguei por mares estranhos, andei por ilhas, visitei continentes, subi montanhas. Cheguei ao cume, palavras boas me esperavam por lá. Mas, como em toda jornada, perdi algumas, não pude mantê-las aqui. Selecionei as que contam uma estória, a história que eu também gostaria de contar, cada post é um capítulo, uma pista, uma revelação. Devo adverti-lo que para desvendá-la é preciso ler não com os olhos. O que quero com isso? Não sei. Talvez alguém me diga, talvez não. Não quero mais respostas prontas, nem meias respostas. Sei que esse caminho que comecei a trilhar não tem volta, e agora me pego parada, estática, no meio da ponte, sem saber se volto ou se dou o próximo passo. Vou? Volto? Digo que não sei para onde ir? Explico que perdi o rumo? Não, não vou dizer mais nada ...

Crise

Vivo uma crise, de identidade, de finalidade, de idade, de decisões, de expectativas, de fim de ano, de perspectivas. E num súbito ataque resolvi que escreveria um post de despedida. Pensei até no absurdo de partir sem um bilhete, mas seria incapaz. Respirei fundo e deixei esse ataque passar. Mas não tive ilusão de que a crise estava resolvida. Percebi que um novo ataque se preparava dentro de mim. Resultado: deletei 250 posts. Deixei só os que contavam a minha história, queria me despedir com a verdade. Mas, quanto mais eu preparava minha despedida, mas eu sentia que não poderia fazê-lo, não consigo ir, não consigo não olhar para trás. Mas sei que esse caminho que comecei a trilhar não tem volta, e agora me pego parada, estática, no meio da ponte, sem saber se volto ou se dou o próximo passo. Fiquei esperando que uma luz surgisse e que as mudanças pudessem acontecer como em uma passe de mágica.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Sentido.

Não fazer-sentido deixou de fazer sentido para mim. Preciso do sentido para continuar aqui, preciso acreditar que pessoas fazem sentido, que sentimentos fazem sentido, que acordar faz sentido. E, de repente, me vi acreditando. Acredito no sentido.

"O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo. Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e eventos. O sentido dos gestos. O sentidos dos produtos. O sentido do ato de existir. Me recuso a viver num mundo sem sentido. Este anseio/ensaios são incursões conceptuais em busca do sentido. Pois isso é próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação. Só buscar o sentido faz, realmente, sentido. Tirando isso, não tem sentido”."
Paulo Leminski

Hoje li sobre Ocupação Paulo Leminski no Itaú Cultural em SP, e lá estava a resposta, eu que já gostava do Leminski, gostei mais ainda.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

No começo da primavera.

Ela finalmente assumiu, para ela e para o mundo, havia se apaixonado. Não era uma paixão comum, banal. Não que não gostasse dessas paixões, ditas banais, eram boas, como sol de meio-dia. Mas, o fato, é que sua paixão não foi desse tipo. Foi de outro. Suave, como nascer do sol.
Havia escuridão dentro dela, percebe agora, mas a despeito de acharem que isso era ruim, vai logo esclarecendo: era uma escuridão estrelada. E tinha lá seus encantos. Assim como o sol. Lados opostos do mesmo todo.
Voltando a paixão da aurora, era assim que ela se sentia, abrindo os olhos, despertando devagar, nada era brusco com esse tipo de luz. Nem as cores, nem a intensidade. Paixão suave, quando se percebe, já se está.
Era assim que ela estava, no começo da primavera ...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

UP ... and down

Você percebe que as coisas não vão muito bem, quando resolve levar o filho ao cinema e chora durante o desenho (mais de uma vez).
Acaba o filme, o filho olha para mãe muito sério e pergunta:
- Mãe, você gostou do filme?
- Adorei.
- Mas, porque você chorou?
- Veja bem, meu filho!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Saudades

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença" Clarice Lispector

Percebo que estou com saudades de certas pessoas, sentimentos, lugares, sensações.
Ando com fome ... muita fome.

domingo, 27 de setembro de 2009

Saudades

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença" Clarice Lispector



Saudades de certas pessoas, sentimentos, lugares, sensações. Ando com fome ... muita fome.

Falar ou não Falar eis a questão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Mas era Primavera ...

Carlinhos Lyra e Vinícius de Moraes estavam escrevendo uma peça de teatro, tudo ia muito bem, as músicas bonitas, o enredo bacana. Até que Vinícius resolve que a pobre menina rica iria se apaixonar pelo mendigo poeta da comunidade ao lado.
- Poetinha, você não acha que fica meio forçado? A menina bacana vai se apaixonar logo pelo nosso pobre coitado?
Vinícius olhou sério para seu parceirinho e diz:
- Mas, Carlinhos, era Primavera!!
- Ah! Então está tudo certo.


Carlinhos Lyra contou essa história em um show, eu estava lá e fiquei encantada. Acho que é a síntese da Primavera.

http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86554/

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A primavera chegando.

Combinei de encontrar uma amiga ontem, mais ou menos no mesmo horário da chegada da Primavera. Escolhemos o lugar, um café charmoso, próximo a um bosque, assim poderíamos "ver" o exato momento da primavera chegando. A mesa ficava de frente para um gramado de onde se via as grandes árvores do bosque. Conversa vai, conversa vem, olhamos juntas para fora: e eis que vem um moço (era uma graça de moço). Parecia atrasado, olhava o relógio, passos apressados. Entra no café, procura com os olhos alguém que não encontra, tira o casaco, encosta o guarda-chuva na parede. Respira aliviado e coloca alguma coisa na mesa. Estávamos, as duas, olhando para o moço. Ele era o tipo que merecia ser olhado. Estiquei o pescoço para ver melhor o que estava na mesa. Era um florzinha amarela!! Uma flor do campo que ele pegou pelo caminho. Lógico que fizemos um: - ahhhhhhh! que fofo! E voltamos para nosso papo. Hoje, percebi que era ele. Era ele que esperávamos. A primavera chegando ... no moço com a flor amarela.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Social na Bienal

Inspirado no post da Alma, Social na Bienal (editado)
1. Não seguir uma pessoa só porque a pessoa falou: - sigam-me. 2. Não fazer cara de bobinha, mesmo sendo uma bobinha verdadeira 3. Que igrejas podem ser feitas de granizo e mármore 4. Que a "trepada" do Raj é objeto de desejo da mulherada. 5. Que o Arthur é maravilhoso e a Trinity é uma fofa. 6. Que não se usa flash nesse tipo de lugar, com esse tipo de luz. 7. Que bluetooth funciona no Galeão e na Bienal. 8. Que celular não funciona quando deve (quando foi isso mesmo?). 9. Que eu sempre posso escolher a alternativa menos madura. 10. Que a gente ainda chora de rir juntas. 11. Que bala de tamarindo é a bala dos cariocas. 12. Que a Jabaquara fica em algums lugar. 13. Que a vaca de salto alto é bem fotogência. 14. Que você é uma excelente companhia!!!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bienal do Livro


Eu fui. E fiquei encantada com o que vi. Toda vez que entro em uma livraria sou invadida por um desespero, uma sensação de impotência: há tanto para ler e, tão pouco tempo. Sempre acho que não vou conseguir ler tudo o que tenho para ler. Se isso acontece quando eu entro em uma livraria, imagine meu "desespero" ao percorrer os corredores da Bienal do Rio... Mas, valeu! Dá para se perder em meio aos livros e perder-se em meio as palavras é bom demais.

A programação do Café Literário e do Livro em Cena, com temas e escritores muito interessantes, deu um empurrãozinho a mais no meu "desespero". Mais livros na minha lista, já gigantesca, de livros para ler.

Depois de visitar a Bienal do Rio, de ver o público prestigiando o evento (mais de 640 mil pessoas) não posso acreditar no que dizem por ai: que brasileiro não gosta de ler (tudo bem, eu conheço as estatísticas, mas prefiro pensar que está mudando...) Vi crianças, adolescentes, jovens, adultos, senhores, senhoras, enfim, todas as idades passeando por lá. Isso só pode ser um bom sinal.

A ida para a Bienal rendeu boas gargalhadas, confira aqui outras impressões: http://acalmando.blogspot.com/2009/09/rio-de-janeiro.html

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Craque da Rodada

------------abre parênteses nesse blog -----------------
Campeonato Brasileiro, quarta-feira à noite. No Alto da Glória rolava o tal do Green Hell, barulho, luzes, fogos. Corinthians e Coritiba em campo. E, uma mãe quero-quero protegendo seu filhote contra tudo e todos. Ela não se importava com as 22 enormes pernas, coxas brancas, pretas, mulatas e caboclas, ela só se importava com seu filhote. Contra um mundo ameaçador de eventos que ela sequer entendia, e mesmo assim, estava lá, protegendo o pequeno quero-quero.
Se eu fosse escolher a imagem da rodada (eu, de cronista esportivo?!) ou o bola cheia da semana escolheria a mãe quero-quero. Mas sei que a campanha desastrosa do Fluminense rumo a Segundona, a volta do Ronaldo aos campos, o sofrível 1 X 0 do Furacão na Arena e os 2 x 0 do Vitória impedindo que o Inter dormisse líder, são notícias que interessam muito mais aos torcedores do que a mãe quero-quero e seu filhote.
Gosto de imaginar a cena, jogo encerrado, torcida deixando o estádio, luzes se apagando, o gramado vazio, silêncio, a mãe quero-quero falando para o filhote: viu, filho? Enfim a sós, enfim em paz.
------------- fecha parênteses ----------------

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Filosofia de Taxi

Vou falar uma coisa, disse com ar bem sério: - São Paulo tem as melhores coisas e as piores também. Acho que essa máxima vale para o Mundo também. O Mundo é esse lugar, onde há as melhores coisas e as piores também. Mas que vale a pena. Como vale!

Ponto de Encontro

Sistema de som.
- Favor encaminhar as pessoas perdidas para o Ponto de Encontro.
Tive que ir dar uma olhada nesse tal lugar de pessoas perdidas, afinal, devia ser um lugar interessante, porque não há nada mais chato do que gente achada.

Sinto-me intensa, como se uma onde de proporções gigantescas se formasse dentro de mim. Sinto a pressão das águas, sinto o mar de avolumando, tomando forma. Esses movimentos inernos me deixam inquieta, não há silêncio, não há espaço. Estou perdida, perdi o eixo, não me encaixo. Tento equilibrar tantas coisas, tantos sentires, tantas dores, sem senti-las, apenas sendo uma morada,

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um delírio.

Com que direito você derrama palavras no meu ouvido? E coloca palavras doces na minha boca, enquanto, com sua língua, tira as minhas palavras da sua? Está certo que quero o gosto das suas palavras no meu corpo, deixadas, como por acaso, no meu colo. Palavras que eu pedi e você não deu, e quando eu não quis mais, você as trouxe e derramou em mim, sem respeitar meus limites, meus espaços, meus delírios. Suas palavras me fizerem delirar ainda mais e desejar mais, mesmo sabendo que não poderia suportar. Com que direito essas palavras passeiam pelo meu corpo, penetram no meu sangue e brincam com minha alma? Foi você que disse que elas podiam, foi você que deu a elas o direito de passear pelo meu corpo, minha alma, minha lucidez. Já não tenho nem palavras, nem lucidez, ou as tenho em demasia. Por isso derramo minhas palavras nos seus olhos, para que você finalmente possa ver o que eu não digo. Palavras que possam alcançá-lo onde eu não consegui, por caminhos que não são meus e nem a mim foram revelados. Não quero mais suas palavras, não quero mais minhas palavras. Cansei de um cansaço que parece não ter cura, não ter tamanho, por ser imenso. Cansei de me fazer em letras, em frases bem construídas, cansei da vírgula, quero o ponto final. Não quero mais figuras de linguagem, quero a linguagem simples e crua. É isso o que desejo, hoje, enquanto ainda não descansei.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Só sei que nada sei", de novo!

Ela queria respostas. Mas ao ser questionada sobre quais eram as perguntas, constatou perplexa: já não sabia. Já não importava. Há tempo de perguntas, há tempo de respostas ...mas o tempo, o tempo passa ...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um Alento

Pra mim, alento é carinho na alma. Fui dormir pedindo um alento, precisava desesperadamente de um pequeno animo que me aliviasse aquele sentir

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Travessias

Gosto de travessias, adoro pontes. Gosto da simbologia que atravessar possui. Fiz uma travessia pelo mar hoje. Chovia muito, do barco não víamos nada, a água batia no meu rosto, e eu só conseguia rir. Cheguei molhada, descabelada, gelada e feliz. Nada melhor do que banho de chuva no mar!

sábado, 5 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mais uma carta.

Querido,
Saudades de você, saudades de escrever para você.
Sou diferente, tenho por essência licença poética, e não tenho receio de fazer uso da poesia em meio ao caos urbano. Poderia ser eu a que enfeita seus viadutos, poderia escrever neles minhas palavras. Escreveria embaixo IMPORTANTE PRA C***! Sobre o amor, sabe? Ficaria bonito de ver o amor assim: O Amor é Importante, porra. IMPORTANTE PRA C***! E com isso selaria a sentença de forma absoluta. E, ficaria imaginando você passar por ali, enquanto corre em direção às suas escolhas. Por um segundo, você me leria e, ao me ler estaria me vendo, porque sou eu ali estampada e não minhas palavras. Possui-las é como me possuir e ler-me é uma forma de me ter. Mas isso, meu amigo, é segredo que conto apenas para você. Não, não conte a ela que eu lhe disse. Ela não é o tipo que cora, mas também não é o tipo que se expõe.
Tenho lido suas palavras, aquelas que não são direcionadas a mim, mas devo confessar que leio como se fossem, saboreando você também nas suas palavras. É isso, sinto seu gosto ...
C.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ela gostava de falar, falava demais, mesmo não falando o essencial. Ele falava demais, sempre tinha uma colocação brilhante em defesa de seu ponto de vista, mesmo negando que o fizesse. e possuía uma habilidade especial para fugir das perguntas que pudessem desvendá-lo ou que pudesse desvendar a eles, um para o outro. A despeito de tanto falarem ainda eram um mistério. .............................................................................

No meio de tantas falas e bocas, ele chegou. Bateu à porta, ela não o esperava, mas ficou muito feliz em vê-lo. Abraçaram-se. Ela fechou os olhos, entregue ao abraço que dizia o que eles nunca conseguiram dizer. Seu coração batia enlouquecido, insano, entendia mais que eles.
Quando nada de meu tenho, busco alucinadamente em outros recantos o que possa confortar-me
Sou muitas, como já disse um milhão de vezes aqui, aliás, acho que me repito tanto na esperança de um dia eu mesma me ouvir. E faz parte dessas muitas que eu sou, a mulher, parece tão óbvio, lógico que existe a mulher, deveria ser a primeira a existir. Sexo: feminino. Mas, veja bem, nem sempre é o que acontece. Sou filha, sou mãe, sou esposa, sou amiga, sou profissional, e, a mulherzinha, jaz, muitas vezes, ali esquecida.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sem palavras, Com bocas.

Ele quis dizer alguma coisa, mas sua boca não falou, preferiu procurar a dela, os lábios tocaram-se muito de leve, as bocas entreabertas, respiraram o mesmo ar, hálito morno. Ela beijou os dois cantos da boca dele, lugar certeiro, onde morava seu sorriso, o sorriso que ela amava. E, de repente, o sorriso estava lá, na boca que agora ela amava também. Ele puxou seu corpo ainda para mais perto, não havia espaço entre eles, toda e cada parte do seu corpo tocava o dela. Ela sorria maliciosa, queria ele, queria que ele soubesse que ela o queria e com a ponta da sua língua úmida desenhou a boca dele na sua.
Nada disseram.
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domingo, 30 de agosto de 2009

Uma pergunta

Quando se tem que falar alguma coisa é necessário falar para alguém ou valem palavras ao léu??

sábado, 29 de agosto de 2009

- Posso fazer uma pergunta?

- Manda

- Não, deixa prá lá

- Ai faz logo.

- Você tem alguma coisa para me dizer?

- Como assim?
Se eu pudesse escrever anonimamente, sem que ninguém, absolutamente ninguém soubesse de onde saem as palavras, o que exatamente eu diria????

Toca Raul

"Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir..."

(Maluco Beleza - Raul Seixas)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector

De fato em fato ... ao ato(?!)

Ela não sabia, era um fato. Fato 1.
E dessa vez nem sua criatividade borbulhante pode ajudar, primeiro achou que deveria haver uma explicação mágica para tudo aquilo. Fato 2, ela adora dizer que acredita no significado oculto dos acontecimentos, atualmente anda achando que as palavras são mais bonitas do que o tal do significado oculto em si. Analise: Não se sabe mesmo, com certeza, o significado de nada, então ou tudo é oculto ou nada tem um significado.
Fato 3. Demorou elaborando e escrevendo tantas teorias que acabou dizendo sem dizer e falando sem falar. E olha que isso é uma estratégia refinadíssima, demora-se anos para entender o poder de dizer sem falar. O pior de tudo é que as pessoas ouvem o que você não diz e não ouvem o que você diz. Parece confuso e é mesmo, se não fosse confuso ela não precisaria se explicar.
Fato 4. Ela não disse o mais importante. Fato 5. Ela ainda não sabe o quê é, mas sabe que tem algo a dizer que não disse, apesar de ter dito muito.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Gato Subiu no Telhado

- Então me diga o que eu tenho para dizer que eu não disse ainda?
- A verdade.
- Eu fui super e absolutamente verdadeira. O que vc acha que eu não disse?
- Talvez não seja o quê, mas como. Se vc escreveu cheia de bossa.. não foi verdade.
- Como assim??????
- Não sei, mas tenho uma intuição que vc não escreveu despida.
- Eu estava super nua, até passei frio, o que vc acha que eu devo falar que eu não falei?
- Não sei o que você escreveu, mas acho que mexeu tanto com vc que vc se perdeu..como há muito não acontecia. Mexeu com o seu 'poder', com a sua capacidade de controlar esse poder. E vc ficou ali.. simplesmente uma menina.. sem saber o que fazer.
- Porque vc acha isso?
- Por que vc SEMPRE tem alguma coisa pra dizer, mesmo quando não diz. E agora vc simplesmente NÃO tem nada pra dizer!!!! entende????
- Não, não entendo e quero desesperadamente entender, porque essa situação está me tirando o sono, porque eu não entendo
- Qual foi a última vez que vc ficou sem saber o que dizer? REALMENTE sem saber o que dizer.. e não não querendo dizer.

...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Estou encantada ... "a poesia prevalece".

Sina Nossa - Teatro Mágico
...
Teu sagrado e tua besteira
Teu cuidado e tua maneira
De descordar da dor
De descobrir abrigo
Entre tanto amor
Entretanto a dúvida
A música que casou
Um certo surto que não veio

Há uma alma em mim,
Há uma calma que não condiz...
Com a nossa pressa!
Com resto que nos resta
Lamentavelmente eu sou assim...

Um tanto disperso
Às vezes desapareço
Pois depois recomeço
Mas antes me esqueço

Nossa sina é se ensinar...
A sina nossa é...
Nossa sina é se ensinar...
A sina nossa...

Minha senhora diz:
Bons ventos para nós
Para assim sempre
Soprar sobre nós...

http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/1256100/ - lindo!
http://www.youtube.com/watch?v=ZvcKC7a3riI - em libras!

sábado, 22 de agosto de 2009

Dias que não, mas sim, são.

Tem dias, dias valiosos, que amanheço assim, meio sem mim. E na leveza de não ser, posso ser o que bem quiser. E, exatamente nesses dias preciosos, as palavras faltam. Faltam porque não são necessárias, já que tenho o que necessito, espaço. Tento segurar os ponteiros, deixar o dia manso, passando sorrateiro, passando sem passar, porque não se percebe que anda, pois não. - Pois não, meu dia?! - digo, olhando-o com olhos marejados por tê-lo aqui, assim tão pertinho, ao meu lado. E alguma coisa, muito leve, muito minha, tipo sina, mexe dentro ...."mexe qualquer coisa dentro doida, já qualquer coisa doida dentro mexe" Mexe embalando, embalando-me no tempo, que sorrateiro, não.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E no meio das palavras, FIM!

Ultimamente ela andava falando demais. Escreveu e-mails, cartas, bilhetes, manifestos e recados. Gritou, sussurrou, verbalizou. Escreveu mais um pouco, mandou um torpedo, deixou uma mensagem. Falou pelos cotovelos, pelos joelhos e pelos calcanhares. Escreveu um Romance, alguns contos e um Tratado. Usou tinta azul, vermelha e preta, escreveu a máquina, dedilhou no teclado, riscou no muro, pichou viadutos. Falou mais um pouco, ficou quase rouca e falou bem baixinho. Pediu desculpas, cobrou notícias, contou histórias, esmiuçou sentimentos, aumentou uns pontos. Falou muito sério, mentiu um pouco, brincou com verdades, riu de si mesma. Falava pra cá, colocava um ponto final aqui, mas faltava outro ali. E nada de achar que já tinha dito tudo. Ela queria falar mais, eloquência sem fim. E falou mais um pouco ... dias e dias. E no meio de tantas palavras, recebeu um bilhete que dizia assim:

Cala a boca que Eu te amo.

Fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os outros que aqui habitam.

- Meu Deus, como tenho encontrado respostas!
Ela ria de si mesma, se achava e se perdia mil vezes ao dia, mil vezes sabia de tudo, era senhora de seus passos, senhora de si. E em segundos ... se perdia, nem sabia mais onde pisava, nem quem era, nem para onde ia. Mas mesmo assim ia, mesmo quando não sabia. Ontem, entendeu que não era UMA só, não adiantava tentar reduzir-se.
- São muitos os seres que me habitam!
Era isso ... uma pessoa, muitas formas de expressão, por isso, às vezes não se reconhecia. Mas, matar qualquer um deles seria impossível, seria como matar a si mesma. Chegou a escrever uma carta de despedida. Mas como poderia dela mesma se despedir?
Não, não era dela que se despedia, se despedia dos olhos dos outros, dos olhos dos que conheceram as outras.
- Será que deixamos de existir por não haver olhos que nos vejam?
... não, acho que não, pois não somos vistos apenas pelos olhos ... existem os outros sentidos... e são eles que nos salvam, me salvam, a salvam.
Amém!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SOLITUDE

"Não podemos crer na total transparência dos seres, é necessário aceitar que os outros tenham segredos, regiões de SOLITUDE. A maior prova de amor, será colocar-se à distância e não querer ai penetrar"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A arte de dizer algo ... não dizendo.

"Eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer
Eu amo você
Mas não sei o quê
Isso quer dizer...
Eu não sei por que
Eu teimo em dizer
Que amo você
Se eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer..."

Lenha - Zeca Baleiro

Carta

À você,



Deixei para enviar a despedida um dia antes de partir, não só porque nunca é fácil de despedir, mas principalmente porque sabia que você só receberia quando fosse algo consumado. Não sei se você tentaria me impedir ou se ficaria em silêncio, não gosto de nenhuma das alternativas, por isso parto assim mesmo.


não havia outra alternativa, fiquei muito tempo em terra firme, e a solidez da terra e das pessoas me faz mal, preciso navegar, uma ilha a procura de outras ilhas. Você bem sabe que há no mundo muitas ilhas desconhecidas, há mais ainda pessoas porntas para lançar-se ao mar e conhecê-las. E isso é um alto, às ilhas que precisam ser conhecidas para tornarem-se ilhas, realizadas em sua condição, porque dizem que somos o que somos porque há alguém que nos vê. Somos como os átomos que teimam em se comportar diferente quando não há ninguém olhando. O olhar interfere, sempre.


Se eu ficasse, morreria, disso tenho certeza. Ela preferiu que eu partisse e eu também, acrediamos no livre-arbitrio e nas escolhas que fazemos, somos sempre responsáveis, sempre. Até pelas não escolhas. Não ir, não fazer, não dizer, também são escolhas, só que inversas.


Fui feliz, muito feliz enquanto estive em terra. Muito feliz em ter bons amigos, mesmo que

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Coração...

Ela finalmente entendeu, desperdiçava energia, deixava seu coração bater errado. - Meu Deus, como tenho me enganado ultimamente! - Deixei meu coração bater descompassado por ai, era só uma caminhada, e ele, danado, batia como se estivesse em uma maratona. Leu esses dias que as emoções eram como cavalos selvagens. Seu coração galopava. O que poderia fazer para evitar? O coração que ouve seu dono é menos um coração. Coração que se preza tem que ser assim mesmo, desobediente. E deve, sob pena de virar um não-coração, bater forte quando bem entender. Ela sabia, seu coração é um tambor que dita o ritmo. Durante muito tempo fingia que não ouvia, ele lá, batendo, batendo, batendo e ela cá, fingindo, fingindo, fingindo. Até que não foi mais possível, coração tem suas manhas, sabe o que fazer, sobretudo, como fazer. Mas não posso aqui relevar, é segredo. Segredo de coração. Pergunte ai para seu, ele há de saber.

sábado, 1 de agosto de 2009

E no novo ... de novo, o amor!

Ela percebeu alarmada que faltava algo, algo importante, que por algum motivo que não conseguia entender, deixou faltar. Sabia que não tinha sido intencional, substituiu a descrença por um sentimento de praticidade moderno e o pragmatismo veio com o tempo. Ela deixou ele entrar, deu a sua permissão, sorrateiro instalou-se.
O que faltava era o amor, o amor ... como energia ... que mobiliza, que traz ar fresco ... Mas como pode o amor arejar se ela deixou que a descrença fizesse morada? O amor que faltava não era aquele do cotidiano ... todo dia ela faz tudo sempre igual ... esse, ela tinha. Achou que fosse suficiente, até entender que vivia um tempo de enganos. - Meus Deus, como tenho me enganado ultimamente. Lembrou-se de Rubem Bragra "Ultimamente tem se passado muitas anos."
O tempo para ela sempre foi relativo, não se apegava a dias, meses, anos, sempre a vidas. Quantos vidas foram necessárias? Intuia que o tempo dos enganos findava-se. Dera lugar a um novo tempo, brisa fresca, que mobiliza. Era o tempo do amor ... como energia que move. Movia-se de encontro a ele, ao que fazia falta ...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

De novo, o amor ...

"É desconcertante rever - ver, viver, pegar, tocar- um grande amor".

E, é ???

Novo tempo.

Ela percebeu alarmada que faltava algo, algo importante, que por algum motivo que não conseguia entender, deixou faltar. Sabia que não tinha sido intencional, substituiu a descrença por um sentimento de praticidade moderno e o pragmatismo veio com o tempo. Ela deixou ele entrar, deu a sua permissão, sorrateiro, se instalou.

O que faltava era o amor, o amor como energia ... que mobiliza, que traz ar fresco ... Mas como pode o amor arejar se ela deixou que a descrença fizesse morada? O amor que faltava não era aquele do cotidiano ... todo dia ela faz tudo sempre igual ... esse, ela tinha. Achou que fosse suficiente, até entender que vivia um tempo de enganos. Meus Deus, como tenho me enganado ultimamente, disse em voz alta para si mesma lembrando-se de Rubem Bragra "Ultimamente tem se passado muitas anos.

O tempo para ela sempre foi relativo, não se apegava a dias, meses, anos, sempre a vidas. Quantos vidas foram necessárias? Ela sabia que o tempo dos enganos findava-se. Dera lugar a um novo tempo, brisa fresca, que mobiliza. Era o tempo do amor ... como energia que move, movia-se de encontro a ele, ao que fazia falta ...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Reflexões pé n´areia


  • Quando estamos no nível do mar nossas águas oscilam com a maré?
  • O mar coleciona pegadas na areia?
  • O sol brinca de esconde-esconde com as nuvens, e quando o sol não quer brincar as nuvens emburram e chove.
  • O mar e o céu se encontram ou se perdem no horizonte?


Gosto muito do dolce far niente, sou a favor do ócio, mesmo que não criativo, mas o criativo tem sempre um sabor melhor. Com os pés na areia de uma praia da Bahia deixei as palavras brincarem comigo, pensei em assuntos sérios, rindo. E muito séria, pensei em besteiras que me fizeram rir muito. Dessas reflexões destaco algumas, as piores e mais engraçadas não tenho coragem de postar, mas garanto que ri muito!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Mantra????

"Foi bom ter descoberto esse amor, estava faltando em mim, meio ao mundo louco!"

(Já faz um tempo que essa frase não sai da minha cabeça, fica às voltas, feito mosca, e sem mais nem menos me vejo repetindo essas palavras ... será um mantra? um ato falho? uma verdade?? - resolvi escrever para ver se ela sai de mim.)

domingo, 26 de julho de 2009

A ironia ...

Olha a ironia ... quanto mais verdade derramava por ai, mais ela mentia. Há uns meses quis a qualquer preço encontrar sua própria verdade, entrou numas de achar que devia sua verdade às pessoas. Nessa mesma época achava que se não fosse sua verdade integral, não seria nada. E nessa busca gastou tempo, energia e palavras, todas vãs. Chegou a dizer com sinceridade: - fui o mais verdadeira que consegui. Só percebeu ontem, o mais verdadeira que conseguiu era pouco, pouquíssimo. Em sua defesa devo acrescentar que até ela mesma acreditou. Ela é muito convincente, persuasiva mesmo, consegue convencer qualquer pessoa do que quiser. Sabe que tem esse poder e o usa a seu bel prazer. Ela realmente não se importa. Achava que se importava, mas percebeu que mentia. E agora é essa verdade que ela tem para dar, a maior de todas as verdades é a sua mentira. Mas, percebe aliviada que confessar que mente é a maior forma de ser verdadeira, caminhos tortos a levam adiante. Andou sumida de si mesma, errou o alvo, deu importância a quem não merecia, disse meias verdades e mentiras inteiras, mas todas sem intenção. Talvez isso a redima, talvez não, mas a verdade mesmo ... é que ela não se importa.



"A gente só mente para dizer a maior verdade" li isso na Velha Casa e essa verdade ficou ecoando dentro de mim ... até explodir nessa grande mentira ou grande verdade, nem sei mais.
Quanto mais me derramo em verdades, mais minto. Recentemente eu disse, assim mesmo com essas exatas palavras:- Fui o mais verdadeira que consegui. E, confesso, que no momento que disse, acreditava no que dizia. Paradoxal mesmo. Olha a ironia, percebi ontem ao ler a Velha Casa "A gente só mente para dizer a maior verdade", eu estava mentindo. Eu menti. As vezes nem eu acredito nas bobagens que eu falo, mas, na maior parte das vezes sou muito convicente. As pessoas, elas sempre acreditam em mim, irônico mesmo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ciúmes

É engraçado a forma que o mundo tem que me fazer pensar sobre determinado assunto, de repente me vi cercada por pessoas ciumentas ou

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ilha

Estou entre o mar e o rio, por definição, uma ilha, essa, conhecida. Apesar de me saber em uma ilha, me sinto por vezes no continente, cercada de terra e pessoas por todos os lados. E, em algum breves momentos em mar aberto, cercada por mim.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A arte de dizer coisas indizíveis é para mim o maior mistério e o maior prazer da literatura. Busco a Terra dos Livros Prontos* como os exploradores procuraram Eldorado.
Vou ali e já volto.


*Domingos de Oliveira disse que nem gosta de falar muito nisso, pois as pessoas podem pensar que ele perdeu juizo ... para ele o escritor só precisa ficar leve o suficiente para conseguir acessá-la, e é lá, na Terra dos Livros Prontos, que os livros moram.

http://www.youtube.com/watch?v=ZWye5Eqjfps e http://www.youtube.com/watch?v=v9x82yjwrQE

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Manifesto em Defesa do Mundo - Parte 2

[Aquela não tinha sido uma experiência fácil, em meio a meia dúzias de palavras ditas, duas dúzias por dizer. Além dos gestos feitos, uma série de gestos contidos. Percebeu-se triste, fora contagiada pela tristeza que emanava de seu amigo? Ou aquela tristeza era sua mesma? Estava de fato triste, triste e cansada, sem nem ao menos entender o porquê ... Passou a noite sem dormir, elaborando um Manifesto em Defesa do Mundo. Imaginou-se discursando enquanto a névoa que encobria seu amigo se dissipava ... Ela diria: - O Mundo é esse lugar imperfeito, mas perfeitamente viável. Onde algumas pessoas fazem diferença, simplesmente porque resolvem fazer algo. É esse lugar onde há amor, doação e fé. Um lugar meio mágico onde corpos emanam um campo eletromagnético que interagem entre sim, complementando-se, alinhando-se, apaixonando-se. O Mundo é esse lugar onde há rio, céu estrelado, arco-iris, primavera, beijo na boca, cachaça, Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector e Kafka. Chocolate, orgasmo, estrela-do-mar, pó de arroz, laranjeiras, abraço, amigos, mesa de bar. Madre Tereza, Gandhi e Garrincha ... isso tudo no mesmo mundo. E ela diria muito mais ...argumentos elaborados que misturavam física quântica com poesia orgânica, história da humanidade com contos infantis. Mitos gregos com jogadores de futebol na final da Libertadores da América ... Mas ... ela não teve a oportunidade de dizer ... ainda!]

Manifesto em Defesa do Mundo - Parte 1

Foi caminhando pelos ruas de pedra de uma cidadezinha encantadora que ela percebeu que seu amigo estava seriamente desencantado e descrente com esse Mundo. Ela se preocupou, afinal, o Mundo é o nosso lar e estar no lar deve ser sempre reconfortante. Fez graça falando em nome da humanidade, não em causa própria, apesar de sentir desesperadamente vontade de fazê-lo, desejava enumerar razões de ordem muito pessoal para trazê-lo mais perto, queria dizer coisas sérias rindo, sobretudo poesia. Ou gritar palavrões terríveis, desses de fazer corar a tia, sabia que também poderia dizer docilidades acidamente só para chamar sua atenção. Mas ela não fez nada disso, ali naquele fim de tarde, limitou-se a olhar o rio e dizer algumas frases desconexas, ainda em nome da humanidade. Não era ela que falava, ou era, mas não exatamente o que queria dizer. Apesar disso, acreditava nas suas palavras, mesmo aquelas, mesmo as ingênuas que enalteciam o mundo. Só não conseguiu convencê-lo. E de repente se viu invadida por um cansaço enorme, estava confusa, com frio ... Caminharam mais um pouco juntos, ela não conseguia se concentrar em mais nada, não tinha mais argumentos brilhantes, via vultos ao seu redor e via seu amigo distante, mesmo quando seus corpos se tocaram em um brevíssimo abraço, caminhavam em direções opostas, lado a lado. Despediram-se, ela ainda com vontade de gritar obscenidades da forma mais doce possível. E ele? Ele ... procurava a Rua da Lapa esquina com a Rua do Comércio.

domingo, 12 de julho de 2009

Final de Flip

Por A.C.A.B.

(Uma contribuição de uma amiga que precisa entender que ...escrever é preciso!)

Final de FLIP, chovia e as pessoas se dispersavam, depois de dias e dias de saudável embriaguez literária. Estávamos, uma amiga e eu, na Tenda dos Autógrafos, ensaiando para também deixar aquele espaço de tanta poesia, tanta pulsação. A chuva, porém, nos fazia hesitar e por ali ficamos um tempinho, em frente a um espaço onde estava o grande jornalista Zuenir Ventura, autografando livros. Havia pouca gente no local, muitos já nem ligavam para o que estava acontecendo ao redor. Foi quando olhei para a fila de autógrafos e ali avistei a miúda Ministra Carmem Lúcia, do STF. É, estranhamente, uma Ministra da mais alta Corte brasileira postava-se em fila, como qualquer cidadão “mortal”. Fiquei olhando para aquela cena, pensativa, admirando o singelo gesto de civilidade e respeito ao cidadão, no país dos “acima da lei”, do nepotismo, da desfaçatez, da vergonha moral... Uma Ministra ousou ser igual a nós perante a lei e não se valeu de seu nobre cargo para dar um jeitinho e passar na frente dos outros. Ela estava ali, esperando, como todos os outros. Um exemplo tão pequeno, que passou desapercebido. Deixou-me, contudo, a sensação de que o Brasil não está de todo perdido...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Embriagada de poesia

Descobri que a poesia pode ser tão subversiva para o superego quanto beber a noite inteira, com a vantagem de não dar amnésia alcoólica.

O Lobo Bom

A Mesa Literária com o Lobo Antunes foi de uma beleza comovente ... queria conseguir traduzir em palavras, mas acho que não conseguiria me exprimir de forma adequada ... sai de lá impactada pela contundência de suas histórias, suas metáforas ... tão lindas. Eu não queria reproduzir aqui o que se pode encontrar de forma brilhante na cobertura da Flip, nem sei fazer esse tipo de coisa, mas queria conseguir compartilhar a comoção que me tomou ...
Sua fala foi um passeio por suas memórias afetivas e literárias. "O Brasil não é um país, são cheiros, música, livros, poesia ... é a minha origem .. " enfim, o Brasil de seus avós brasileiros.

E continua, falando de literatura com paixão e exprimindo-se com imagens belíssimas.
"O livro é um organismo vivo ..."
"Um bom livro se faz sozinho. Só o que você tem que fazer é tornar sua mão feliz. Se a mão está feliz, o livro sai fácil.”
“Todo grande livro é uma profunda e constante reflexão sobre o ato de escrever."
"O Livro inteiro tem que ser uma enorme metáfora"

Citando um livro que gostou diz: "É uma prosa maravilhosa, como se a mão estivesse cheia de dedos mindinhos, então, todos os dedos dele são mindinhos quando escreve"

Ao final, foi aplaudido em pé, e quando o público já estava deixando o local ele voltou e disse:
"- Eu queria antes de ir embora agradecer pela maneira extraordinária, a generosidade, o carinho e a ternura com que me receberam aqui. Deus vos pague!"

...sem palavras ...


vale a pena assistir: http://www.youtube.com/watch?v=I1rLwKHE_74

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As Pedras do Caminho

Percebi que há dois tipos de pessoas em Paraty: as que andam olhando para baixo, tentando se equilibrar nas pedras e as que simplesmente, andam. É bonito de ver as que simplesmente andam. Segundo um amigo há também as pessoas que cortam caminho. Quanto a essas nada posso dizer.

Ao meus companheiros de Flip

OBRIGADA.

Percebi em determinado momento da noite que eu estava compartilhando a mesa com as duas únicas pessoas no mundo que me leram. E nesse breve espaço ... dois mundos em que eu existia de modo tão diverso, uniram-se em um só. Enfim, uma para todos!
mesmo que breve, mesmo que embaraçada ... uma!

Vim, Vi e Amei!

Há anos namoro a Flip à distância ... e finalmente rompi minha inércia e fui. A-M-E-I.

Enquanto eu estava em Paraty queria desesperadamente escrever, afinal lá as palavras pairam no ar, basta esticar os braços para alcançar poesia ... mas eu não tinha um computador ...

Cheguei transbordando palavras por todos os meus poros, louca para escrever ... corri para minha mesa e ela estava vazia .... meu computador estava sendo reformatado.

Meu computador voltou.

E as palavras já estão gritando dentro de mim e eu não tenho outra alternativa senão colocá-las para fora em uma sequência frenética de postagens.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A Morte da Personagem

Ela se viu parada na esquina da Praça da Matriz, nas suas costas as águas, ao alcance dos seus olhos uma baleia branca e ao seu lado alguém que lhe garantia que somos muitos mais que essência, somos também um corpo. Dizia isso tocando a mão dela, talvez para se assegurar do que falava. Durante aquele breve espaço de tempo entre o encontro na ponte e a despedida na Praça, ele havia dito várias vezes com ar de satisfação e até com um certo alívio: - você existe.
Era fato, ela existia, e estava ali postada na frente dele. Imersa em si mesma, imersa em seu corpo decarneeosso, com um coração que aquela altura batia descompassado.
- você existe ... ela aquiescia tomada subitamente por um tristeza doce e ácida, sabia que o fato dela existir e estar ali vestindo seu corpo significava a morte de alguém que ela amava, mas ele estava tão embevecido por ela existir que não viu ... nem ela. Foi só após alguns dias e um punhado de acidez desnecessária que ela percebeu a dimensão caótica de existir. Existir, enfim, não era o oposto da morte, como ela pensara, existir era um intervalo entre dois pontos, um milhão infinito de nuances, entre o preto e o branco.

http://claricenajanela.blogspot.com/2008/11/personagem.html

segunda-feira, 22 de junho de 2009

... com um toque de dalí...

Ela passou o dia ruminando um sentimento, vaca de si mesma. Achou graça da imagem de si, vaca. Cílios longos, malhada, mastigando o tal do sentimento feito capim gordura. E nada de sentimento dar a cara. E nada de conseguir botar nome naquele bolo de capimsentimento, sentimento ruminado. Ela, vaca de si, ruminando o sentimentocapim, esperando pela metaformose que fará dela pessoa de si, mastigando o sentimento, em meio a saliva doce, depois do vinho rubi. Ela, pessoa de si, com o sentimento na mão esquerda, na outra mão a taça de vinho. Ela, pessoa de si, rindo da vaca, tão mais (sur) real. Ela, não mais vaca, não mais pessoa, só sentimento de si.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Nesses dias frios só quero saber de ficar sentada bem quieta no sol. Fecho os olhos e deixo o sol aquecer cada pedacinho do meu corpo. É engraçado, quando eu fecho os olhos o sol parece mais forte. Ilusões da não-ótica!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Para Viver um Grande Amor

"Era isso, ela sentia e por sentir desejava mais, desejava mais palavras, desejava mais amor. Queria afogar-se naquele amor que não era seu, que não era para ela, mas que dele foi vítima, vítima de algo que foi maior do que a história de amor deles, o amor sobreviveu alheio ao fim da relação. O amor venceu por não estar enclausurado nas pessoas, o amor sobreviveu pelas palavras. Ela descobriu sem querer a fórmula do amor que fica, do amor que dura, além das pessoas, além das conveniências, além das escolhas. Enfim, o grande amor."



http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86815/

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um eu, muitas porções.

Tem certos dias, geralmente os nublados, que eu amanheço cansada. Mal abro os olhos e já desejo fecha-los. Abro a boca e desisto, finjo um bocejo, finjo... Meu cansaço não vem do corpo doído pelo sono mal dormido. Quem dera assim fosse, quem me dera assim padecer. O cansaço das manhãs nubladas vem da alma que já não se aguenta, coitada, contida. Sabe? Queria usar as palavras mais ácidas e áridas, não queria ser boazinha, sensata, gentil. Sou doce, impregnada da doçura que conquista, que agrada. Não, eu não queria ser agradável. Tem aqui dentro, bem guardada, uma porção selvagem, desagradável e sobretudo divertida. Diverte-me e, tenho certeza, poderia diverti-los também. Essa porção - que é muito mais eu do que esses eus que por aqui passeiam - diz o que pensa. Aliás, apenas diz, porque não pensa, não pensa como nós pensamos assim de pensamento na cabeça que fica o dia martelando. Não pensar pode pesar como um defeito, mas não é, ou é, e eu não me importo. Adoraria não pensar. Imagina um dia inteiro livre de pensamentos? Cabeça leve sustentando apenas o ser. Geralmente leio, pondero se essas palavras cabem aqui, escrevo para quem, afinal? Pondero, deleto, não digo, calo. Mas essa porção divertida resolveu que hoje não, e eu cansada demais para resistir, cedo, fecho os olhos, volto a dormir.

Explico que não sou eu esse eu que aqui escreve? Não, não explico nada ... assim é mais divertido...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

estranho

Dias estranhamente mornos em meio ao frio intenso
Palavras estranhamente obliquas

Sentimentos estranhamente intensos
... largados
bem no meio
dos dias mornos e das palavras obliquas.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"O que será que será
que dá dentro da gente que não devia?"

domingo, 24 de maio de 2009

Confissões soltas

Ando há dias tateando algumas palavras, elas estão bem ao meu lado ... me olhando, e eu fingindo que não é comigo, continuo olhando para frente, como quem procura alguma coisa, olhos fixos no horizonte, vai que elas cansam.
Mas a verdade, a verdade mesmo, é que eu nem sei o que elas querem me dizer. E depois que eu ouvir não poderei mais ignora-las, palavras ditas são palavras ouvidas, ou não? Nem sempre.
A bem da verdade de novo, verdade muito das verdadeiras: tenho medo delas.
Esses dias eu li que dizer o que se sente é mais perigoso que sentir de fato, dizer é oficializar e sentir... ah! sentir pode, que isso fica lá dentro e lá de dentro quem sabe somos só nós mesmos.
Então faço assim, continuo olhando para frente, às vezes dou uma espiadinha com o canto do olho só para ver se elas ainda estão ali, deusmelivre deixa-las partir.
Quem sabe amanhã eu acorde corajosa e deixe elas chegarem e baixinho se revelarem em meus ouvidos. Quem sabe?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

É como beber estrelas ...olhando o mar.

Era uma noite especial
e um observador mais próximo
pode ver estrelas no céu da sua boca.
- Olha, uma estrela cadente! Faz um pedido!

Ela fez:
Morar para sempre
no mar verde de seus olhos.



("É como beber estrelas". Foi desta forma que o monge beneditino Don Pérignon descreveu a sensação de degustar o primeiro vinho tipo espumante do mundo, criado no século 17)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

De volta para casa ...

Eu sabia que sonhava, mas a realidade que eu sentia no meu corpo me fazia duvidar que era um sonho. As sensações confrontavam-se com a atmosfera onírica; muito real em um mundo irreal. Eu não andava, flutuava entre os seres que habitavam aquele espaço. Eram seres alados, lindos, claros, luminosos. Anjos? Não, não eram anjos, eram seres que habitavam aquele mundo irreal. E eu? Era incrível, mimetizada naquele mundo. Como se aquele, e não esse, fosse minha casa. Era isso! Eu me sentia em casa. E a sensação de conforto me invadia, igual quando a gente chega de uma viagem longa e cansativa, abre a porta e respira fundo para sentir o cheiro familiar. E meus pulmões estavam impregnados daquele cheiro, que era tão conhecido, apesar do mundo irreal. E enquanto eu flutuava naquele espaço eu prendia minha respiração e mesmo assim eu sentia o cheiro adocicado de enfim chegar, enfim pertencer. Eu pertencia àquele espaço. Eu sabia que não podia abrir os olhos, não podia deixar o sonho, eu queria ficar ali, simplesmente ficar, entregue, pertencendo. Mas ...tive que partir. Finalmente meus olhos se abriram. Olhei ao redor, o sol brilhava lá fora, a vida me chamava...
Meu coração estava tranquilo, eu sabia como voltar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Real e Absurda

Ela foi amável, escreveu palavras bonitinhas, argumentou com coerência. Mas não disse o mais importante, desperdiçou palavras comuns para explicar o inexplicável. Que saber a verdade? Nem todos querem. Ela sempre foi livre, podia voar e ser o que bem quisesse. Não tinha forma, nem voz, nem cor, nem nome. Ou tinha todos, e ser assim, sem ser, é a melhor forma de ser livre. E ela era. O tempo passou e os significados mudaram. Ele era a ponte entre ela e a outra, a outra que existia aqui, enquanto ela era onipresente nos seus devaneios mais absurdos e ousados. E ele estava ali, no meio, docemente sendo. Quando, por algum motivo, ela quis mudar a natureza dessa história, necessitava coragem. Ela precisaria despir-se numa nudez maior que simplesmente tirar as roupas. Uma nudez de alma, toda aquela história merecia esse passo. Ela queria ser real, mesmo que houvesse um custo, mesmo que ele não pudesse vê-la, mesmo que ele não quisesse. Ele quis. E seus olhos puderam vê-la totalmente nua e inteira. Sem falsos pudores. E o melhor foi que ela não sentiu vergonha de ver-se pelos olhos dele, não sentiu medo, sem receio, nem pesar. Ela estava à vontade. E isso é o melhor presente que ela poderia lhe dar. Mesmo que ele nunca entenda, mesmo que ela nunca consiga explicar.

domingo, 10 de maio de 2009

Reflexões

Basta piscar os olhos para tudo mudar.
Nós não controlamos nada na nossa vida, só achamos que temos algum controle.
Ou somos responsáveis por tudo que acontece ou não temos responsabilidade nenhuma.
A vida é breve, por mais longa que pareça quando as coisas estão dando errado.
Só temos consciência da brevidade da vida quando nos deparamos com a morte.
A morte é certa, todos vamos morrer um dia, mas insistimos em viver como se fossemos eternos.
A dor ensina, mas para aprender o amor é sempre melhor.
Podemos aprender mais em dez dias do que em séculos, para isso basta abrir os olhos e o coração.
O coração sabe de tudo ..."só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos"
No fim, tudo isso tem algum sentido, mesmo que seja aprendermos que precisamos viver apesar de ... mesmo se ... além de.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mais do livro

C,

Ainda estou com fome.
E eu nem sabia que este tipo de fome existia, uma fome que não se sacia. Antes de ter você achei que sentisse fome da sua presença, do seu corpo, do seu cheiro – tão apetitoso. Mas eu estava enganado, percebi logo que você saiu ... eu ainda estava com fome.
Quanto mais dessa fome posso suportar?

A.

(o bilhete foi encontrado por Clara dentro do livro Paris é Uma Festa)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Algumas coisas ... também tem preço.

Descobri, não sem pesar, que tudo tem um preço.
Não existe um caminho priceless.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Aos pequenos milagres.

- Eu entendi - ela disse para a amiga - finalmente entendi tudo.

Ela estava eufórica, queria compartilhar sua descoberta, e mais do que isso, queria dizer para si mesma em voz alta. Não é isso que a gente faz o tempo todo? Falamos ao outro para dizer a nós mesmos?

- Então me explica - replicou a amiga enquanto dava um gole no vinho tinto, rubi profundo, notas de frutas vermelhas, como dizia o rótulo chileno.

- Não é a pessoa em si, é o que a pessoa significa. É o que a pessoa faz com que a gente faça. É o que a pessoa desperta na gente.

- Não entendi ainda. Então a pessoa, qualquer pessoa, deixe de importar?

- A pessoa passa a importar muito mais, porque tinha que ser aquela - e ela força a palavra para se fazer entender - e não qualquer outra.

- O santo não importa, o que importa é o milagre.

Ela sorriu, a amiga disse tudo, resumiu brilhantemente toda a sua teoria. Taças na mão, rubi intenso dançando com notas profundas. Brindaram. Aos santos, por via das dúvidas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Socorro, Sócrates!

Eu também Só Sei Que Nada Sei ... sem pretensão alguma.
Sócrates já sabia disso há mais de 2.000 anos.
Será que não mudamos nada desde então?
Continuamos sem saber ... um dia saberemos?

sábado, 18 de abril de 2009

Ela e o Vento que Vem do Mar.

Ela caminhava lentamente, o lugar parecia deserto.
E o silêncio era quase absoluto, ela podia ouvir seus próprios passos e o vento. Ela gostava do vento manso, da brisa e até do vendaval.
E o vento brincava com ela, eram amigos, caminhavam de mãos dadas.
Nas noites quentes de verão, eram amantes.
Ela esperava na varanda, deitada na rede, fingia que dormia, ele chegava de mansinho.
Uma carícia.
Ela respirava fundo inalando seu cheiro.
Maresia.
Dentro dela suas águas cresciam.
Mar manso.
Ele então passeava pelo seu corpo, bagunçava seu cabelo, erguia sua saia.
Ela ria.
Ventava mais forte, mais forte, mais ... até ele estar por ela, envolvendo todo seu corpo.
E ela ventava.
Sua respiração ofegante era vento. Dentro dela, ele respirava seu ar.
Na hora de ir, dizia adeus com um beijo, brisa mansa em seu rosto.
Ela respirava fundo, retendo um pouco dele em seus pulmões.


*Aracati é o vento que vem do mar no nordeste, dizem que chega todos os dias na mesma hora e que faz com que as pessoas levem as cadeiras para fora de casa e esperem por ele, como quem espera um visitante.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eu sou.

E ela sabia, a certeza era tão grande que doía, e a dor se unia à outra, mas antiga, arraigada.
Ela já não era a mesma, a trégua terminara. Por quanto tempo pode-se fazer dormir as feras? Por quanto tempo pode-se negar a vida? E o que era essa vida, afinal?
Foram as escolhas, os caminhos. E por um tempo deu certo. Ela não imaginou que os acordos expiariam.
E agora, atônita, sentia. Sentia tudo que se negou sentir. Quanto mais seu corpo suportaria? Estava exausta do esforço intenso, tentava renegociar os prazos, mas não tinha certeza. E a falta de certeza era sua maior fraqueza e paradoxalmente, o maior trunfo.
Ela equilibrava-se dentro de si mesma. E a luta, a trégua, as negociações, os pactos, a entrega, os vencedores e perdedores estavam todos ali, no espaço limitado e ao mesmo tempo infinito; do ser.
Ela dizia: - eu sou.
E era.
E é.

(para sempre)

terça-feira, 7 de abril de 2009

As portas e suas chaves.

Algumas portas não podem ser abertas; ou não devem.
Mesmo tendo as chaves em suas mãos ela achou melhor mantê-la fechada.
Depois de tanto tempo nada de bom poderia sair de lá.
Elementar, meu caro.

Um adendo
A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Paulo Mendes Campos - do Livro o Amor Acaba - vale a pena ler.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Primeiro Bilhete

C,
E o jogo começou.
Siga meus passos, deixe seus rastros.
Não havia como ser diferente, não há sentido para nós que não seja nas palavras de nos encontremos de fato.
Esse é meu primeiro passo, escolhi criteriosamente, não sem paixão, não apenas pelas palavras, mas, e principalmente, pelas sensações que elas imprimem em nossos sentidos, quase se vê a boca, quase se sente o hálito, e sim, ficamos sem fôlego.
Já espero pela sua escolha, seus passos...
A.


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Ela não sabia quantas vezes tinha lido aquele bilhete. Dezenas? Centenas? Como se a repetição fosse lhe trazer a revelação. Ela tentava beber as palavras, sorvendo uma a uma, aos goles, como quem degusta um bom vinho. Tentou também entornar todas num gole só, esperando que torpe pelo excesso pudesse entender. Ainda estava com sede, não havia entendimento e o mistério... ah! o mistério a deixava ligada.

(Clara encontrou o bilhete dentro de um livro na Biblioteca Pública, e com o tempo outros foram surgindo...)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Coisas que começam pelo fim ...

- Por favor, responde! - ela pediu.

- Não consigo falar sobre isso. Não assim.

- Por favor, é importante - ela quase implorou.

- Não - e foi definitivo - Boa noite.

...........off line .............

Ela ficou estática, olhando para o monitor.
Não foram as palavras, foram as não-palavras.
Finalmente ela entendeu.
A revelação estava no silêncio, nas pausas, nas entrelinhas.
O mais estranho é que o entendimento não era consciente, as sinapses aconteciam alheias a ela. Ela sabia que estava próximo, quase podia ouvir seu cérebro trabalhando; e deixou que ele trabalhasse em paz. Foi dormir, feliz.
Rindo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Uma carta - fragmentos

A,
Parece magia ... de repente me senti nua. E imediatamente soube que estava sendo lida por você; e enquanto seus olhos miravam minhas palavras era como se a mim olhassem, mas eu não estava vestida, era só meu corpo nu e minha alma deliciosamente exposta. E então, você passou a me ler em voz alta e era como se sua boca pudesse me tocar e eu senti seu hálito morno no meu corpo nu. E seu hálito era como pequenas asas tocando-me em leves caricias e todas essas sensações me transportaram para Sonho de uma noite de Verão.
E foi ai que eu percebi que não eram minhas palavras que você desvendava ao me ler, era a mim. E eu me senti ameaçada pela exposição extrema, e ao mesmo tempo o medo me excitava e me fazia querer ainda mais que você me desvendasse, até não haver mais mistério. Até que estivéssemos plenos de nós mesmos e fôssemos, não algo a se encontrar, mas como se já fôssemos o encontro. E a sensação de repente em meu corpo ficou quase insuportável, de boa e ruim ao mesmo tempo. Uma explosão de asas e toques sutis, meu corpo já não me pertencia e minha alma agradecia por isso. Enfim, adormeci e sonhei com uma linda noite de verão.
Com amor,
C.

(a carta faz parte do livro que finalmente estou escrevendo)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Fazer ou não fazer sentido?

Eu queria desesperadamente fazer sentido,
até que li: "Quem faz sentido é soldado"
E agora, o que que eu quero mesmo?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Declaração - parte I

Como eu pude subestimar o poder delas? Logo eu. Andei sem rumo por tanto tempo, negando quem eu sou, tentando arrancar de mim vestígios delas. Escolhi caminhos tão equivocados, cada vez me afastava mais, cada vez mais longe, longe de mim mesma. Neguei a força arrebatadora que elas sempre exerceram em mim. Fugi delas, enquanto fugia de mim mesma. Ficar sem elas era como ficar sem ar, como existir sem viver de fato, mantendo minha existência a apenas respirar, sem aspirar, suspirar, arfar.
Elas sempre mexeram comigo de uma forma visceral, com o poder de remexer minhas entranhas, de fazer meu coração disparar e meu sangue ferver circulando a toda velocidade.Têm a capacidade única de mexer em porções minhas intocáveis, porções que nem eu mesma conhecia. Tocam meu corpo e minha alma como nenhum amante ousou. Conseguem driblar as máscaras, os muros, as desculpas, as escolhas que fiz e chegar realmente até mim.

É tão óbvio, tudo tão claro agora, a luz me invade, meus olhos lutam para se acostumar... mas há em mim algo prestes a acontecer ...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Meu desejo de paz!

Tem dias que não consigo me conter, no sentido de estar contida em mim mesma, não caibo, sobra alma no corpo, falta calma, transborda. Queria exorcizar de mim o grande amor, o amante e o amigo, o emprego que não foi, o dom que não cala, a palavra que não diz. O vazio que não acaba, a paz que nunca chega. Queria exorcizar essas dores crônicas que por costume não se sabe mais viver sem. Queria fechar o olhos e não pensar, queria dormir e não sonhar. E logo eu que nunca escrevo em primeira pessoa, minhas palavras na boca alheia, para que eu, alheia a tudo isso, possa usar sua boca para encontrar a minhas palavras. Palavras definitivas para esvaziar a alma. Mas enquanto minha alma transborda a boca sussurra nos ouvidos alheios, aos olhos alheios, meu desejo de paz.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

SIM!

No corpo uma sensação boa, era um prazer sutil. Ela precisava prestar atenção em si mesma para senti-lo. E no meio do dia, de repente ela se lembrava da sensação, parava, fechava os olhos e abandonava-se por alguns segundos, sutilmente. E nesse momento parecia que ela fazia sentido, parecia que sua existência não era fruto do acaso. Parecia que sim! Ela tinha um porquê. E sim! Ela deveria mesmo estar ali. E, por Deus, sim, ela deveria estar sentindo aquilo. Sim! Sim! Sim! Ela tinha vontade de gritar, era um grito rouco, visceral, primal. SIM! Ela queria mais.
Mas ela não dizia, não gritava, quase não existia, só sorria, sorriso debochado, luxuria pura. Esse intenso e breve momento deixava em seu corpo uma marca, como se nela morasse uma brisa, leveza de carícia, sutil. Parecia pouco, mas era muito.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Inédito

Ela olhou pela janela. Os carros passavam como naquelas fotos em que se vê a luz e seus contornos, mas não o carro em si. Como se os carros fossem borrões de luz. Luz branca, luz vermelha. Indo. Vindo. E ela ali, parada, olhando, sem ver. E os pensamentos correndo, deixando também borrões de luzes, multicoloridas. Ela não se fixava em nenhum pensamento, deixava-os flutuando, podiam ir e vir. Ela não queria ordená-los. A ordem era essa: não há ordem. E isso era inédito.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Além do entendimento...

Eu acredito na beleza além do entendimento. Mesmo não entendendo, gosto, talvez por intuir a poesia. A poesia, muitas vezes, mora nas entrelinhas. Como em um jogo, gosto de adivinhar sentimentos, inventar sensações, ver entre as linhas, ver além das linhas. Sou levada pelo ritmo das palavras, mesmo as estáticas, mesmo as que fingem não ser o que são. Discretamente, com o canto do olho, vejo o que está atrás da sentença. As palavras mais doces sussurram seus segredos. Gosto do que não entendo, mas que sinto, assim mesmo, ou por isso.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Será que há uma questão?

Termino com uma questão que talvez só você possa me ajudar: Será que há uma questão?

Ele primeiro achou graça da pergunta. Até sorriu ao terminar de ler, em seguida pensou em respostas espirituosas que pudessem mostrar como ele era inteligente e bem humorado. Todo mundo quer ser inteligente e bem humorado, alguns são, outros demonstram ser. Mas acabou achando que não tinha graça nenhuma, aliás que tipo de pergunta era aquela? Lógico que há uma questão. Sempre há. Ou não? Ele era o amigo imaginário dela, ela queria ter um amigo. Primeiro criou ela mesma, que é para ter alguém, antes de ter o amigo. E ele apareceu. Ela fez o teste: Por favor, Sir, desenha-me um carneiro? Ele disse que sim, quantos carneiros ela quisesse. Ela só quis um. E a partir desse dia eles se tornaram amigos. Mas voltando a questão ... e ele finalmente entendeu. Era um adeus. Ela sabia a hora de partir e a hora de deixar partir. Grandes amigos são assim. Talvez fosse essa a questão. Talvez, ele pensou.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Catarse

Transbordar. Revelar. Assumir. Ela desejava. Era mais que desejo, ou era o maior dos desejos. E por ser, transbordou. E por não poder conter, revelou-se. E na revelação veio a sabedoria, a entrega, a redenção. Não havia outra alternativa. Não havia outro caminho possível. O atalho não existia, não se pode passar pela vida, sem vivê-la. Desistiu do mapa, dos esquemas orientativos, das palavras alheias. Desistiu do fácil. Afinal, era simples. A simplicidade do encontro, do entendimento, da resposta. A resposta perseguida, enfim, com grandes asas pousa no seu colo. Para ela não restava nada, além de tudo. Isso, por enquanto, era suficiente. Assumiu.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Vestida de Ouro

Ela achou que não tinha mais o que dizer. Já disse tanto em tantas vezes que resolveu deixar o silêncio fazer a sua parte. Em semana de Fashion Week viu em alguns desfiles muito ouro nos modelitos de inverno (dourado está demode, a cor agora se chama ouro) e achou que ficaria na moda se o adotasse, afinal, dizem que o silêncio é de ouro. E fingindo-se na passarela desfilou trajando silêncio. E não é que a tal roupa é muito confortável. Enfim, na moda.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Inusitado.

Ela gostava do inusitado, tudo que aos outros parecia esquisito, para ela era lindo. Muitas vezes as pessoas não sabiam se ela estava falando sério, julgavam-na brincalhona. Está certo, ela era um pouco esquisita. Adotava uma dieta alternativa que ela mesma tinha inventado, não era totalmente vegetariana, pois acreditava que alguns animais queriam de fato ser comidos e era incapaz de decepcioná-los. Comia verduras, legumes e frutas da estação, tinha um calendário na bolsa. Sempre que estava na fila de um restaurante por quilo, sacava o calendário antes de colocar qualquer legume no prato. - Deus me livre comer de fora da estação dizia enquanto fazia o sinal da cruz. Nunca comprava roupa nova, era contra a indústria da moda, suas roupas foram herdadas e exibia com muito orgulho as saias da avó. Ela tinha sido hippie, autêntica, dizia. Não andava de ônibus, só a pé ou de carro, lógico, porque afinal ela também gostava de conforto. Em casa só assistia desenhos, não gostava de novela, de jornais e de filmes tristes. Mas lia muito, comprar livros era uma compulsão e um grande luxo que se permitia.
Tinha uma linda biblioteca em casa, os livros estavam divididos em ordem alfabética, em outros casos pela nacionalidade do autor, outros pelo tema, mas existia uma prateleira especial, eram Os Intocáveis. Livros tão importantes na sua vida, palavras, personagens, histórias preciosas. Era uma ofensa pedir emprestado.
Fiquei sabendo que no seu testamento ela deixou a prateleira dos Intocáveis para sua neta, como fez a avó hippie. Ela ainda não tinha filhos, muito menos netos, mas sabia que um dia eles chegariam e seu tesouro já tinha destino certo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Perdão.

Ela ensaiou muitas vezes, voz baixa, voz alta, aos gritos, em pensamento. A frase era simples, muito fácil de repetir. Mas ela sabia que só teria o efeito esperado se fosse dita com o sentimento correto. Mais que expressão corporal ela queria a expressão do sentir. Ela precisava sentir o que iria dizer. Ficou dias se preparando. Finalmente se sentiu pronta, precisava fazer logo.
Postou-se na frente do espelho, espelho de corpo inteiro, corpo presente. Olhou-se, intensamente, olhos nos olhos, e disse:
- Você me perdoa?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Astro-rei

Clareou. Mas ainda não era dia. Ela gostava do silêncio, desse possível apenas nessas horas que precedem o dia, gostava também do céu da madrugada, era como ver as estrelas se despedindo. Mãos cintilantes. Foi durante essas observações que percebeu que o sol chegava devagar, clareando de mansinho, coisa de astro-rei, que por ser, não precisa ostentar o título. Aprendeu com o sol.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Novo de fato!

Ela queria encontrar as palavras mais frescas possíveis, palavras vindas da aurora. Queria o frescor da madrugada, apenas alguns minutos antes do dia ser anunciado. O ano novo era assim. Mesmo sendo só uma mudança na folhinha, o ar parecia mais leve, a esperança revigorada, a fé renovada. Um ciclo novo. E com o novo, parece que tudo fica mais fácil, pode-se começar de novo, amar de novo, desejar de novo, enfim, pode-se viver de novo. Ela sabia que poderia se reinventar, ir dormir de um jeito e acordar de outro, modelo renovado, versão 2009. Fechar os olhos em 2008 e abrir em 2009, bastava piscar os olhos na hora certa. E foi exatamente o que ela fez. Esperou a meia noite e enquanto os fogos pipocavam no céu ela fechou os olhos e desejou o novo. Ao abri-los viu algo riscando o céu, uma estrela cadente (mesmo que de pólvora), desejou, dessa vez de olhos bem abertos, apreciando o novo que chegava.