terça-feira, 7 de julho de 2009

A Morte da Personagem

Ela se viu parada na esquina da Praça da Matriz, nas suas costas as águas, ao alcance dos seus olhos uma baleia branca e ao seu lado alguém que lhe garantia que somos muitos mais que essência, somos também um corpo. Dizia isso tocando a mão dela, talvez para se assegurar do que falava. Durante aquele breve espaço de tempo entre o encontro na ponte e a despedida na Praça, ele havia dito várias vezes com ar de satisfação e até com um certo alívio: - você existe.
Era fato, ela existia, e estava ali postada na frente dele. Imersa em si mesma, imersa em seu corpo decarneeosso, com um coração que aquela altura batia descompassado.
- você existe ... ela aquiescia tomada subitamente por um tristeza doce e ácida, sabia que o fato dela existir e estar ali vestindo seu corpo significava a morte de alguém que ela amava, mas ele estava tão embevecido por ela existir que não viu ... nem ela. Foi só após alguns dias e um punhado de acidez desnecessária que ela percebeu a dimensão caótica de existir. Existir, enfim, não era o oposto da morte, como ela pensara, existir era um intervalo entre dois pontos, um milhão infinito de nuances, entre o preto e o branco.

http://claricenajanela.blogspot.com/2008/11/personagem.html

5 comentários:

Anônimo disse...

entendi ...

[P] disse...

Você voltou! Acho que entendi seu texto [é só um 'achismo', levando em conta que houve Paraty, né?] e fico aqui me perguntando se a morte da personagem poderia dar lugar ao nascimento de uma nova dona para as palavras da Clarice [aquela história de que às vezes é preciso morrer, ou deixar ir, pra nascer, ou surgir algo, enfim...].

Curiosa para saber se o Chico foi devidamente agarrado e beijado no meu lugar :)

Um beijo, moça.

ps: andando pelos blogs da vida, descobri um site [http://www.quemmeama.co.cc/index.php] que detecta se há cópias dos nossos textos por aí pela net, sabe? Cópia, no caso, sem dar os devidos créditos, ou seja, plágio mesmo! Encontrei um texto meu num blog de uma pessoa, acho que você devia verificar se não fizeram o mesmo com suas postagens]

Poeta Mauro Rocha disse...

Ola!! Que delicia sua viajem literaria e seu texto maravilhoso.Tenho certeza que vamos nos saborear com contos e poemas maravilhosos depois dessa volta emParati.

Um grande abraço.

Clarice disse...

[P], é isso que vc está pensando, acredito que vc realmente tenha entendido esse post ... rsrsrsrs ... mas como preciso falar assim mesmo vou te mandar um e-mail.
Obrigada pelas dica do site, vou lá, vi um post meu em dois blogs diferentes e sem nada de credito, não é por mesquinharia, mas afinal, são meus filhos, né?
beijos

Poeta, a viagem foi maravilhosa mesmo ... respira-se poesia. Espero conseguir colocar em palavras tudo o que vivi lá.

a calma alma má disse...

Flor,
A personagem não morre.. continua existindo insistentemente dentro da gente.
Somos todas? Somos essas? Somos inventadas?
Não, essas personagens somos nós.
Talvez outro dia sejamos capazes de criar pessoas que carreguem apenas pedacinhos da gente. Mas essas? Essas nasceram para nos trazer de volta à vida. Ainda que eu não saiba bem pra que isso sirva...
beijos