terça-feira, 28 de abril de 2009

Algumas coisas ... também tem preço.

Descobri, não sem pesar, que tudo tem um preço.
Não existe um caminho priceless.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Aos pequenos milagres.

- Eu entendi - ela disse para a amiga - finalmente entendi tudo.

Ela estava eufórica, queria compartilhar sua descoberta, e mais do que isso, queria dizer para si mesma em voz alta. Não é isso que a gente faz o tempo todo? Falamos ao outro para dizer a nós mesmos?

- Então me explica - replicou a amiga enquanto dava um gole no vinho tinto, rubi profundo, notas de frutas vermelhas, como dizia o rótulo chileno.

- Não é a pessoa em si, é o que a pessoa significa. É o que a pessoa faz com que a gente faça. É o que a pessoa desperta na gente.

- Não entendi ainda. Então a pessoa, qualquer pessoa, deixe de importar?

- A pessoa passa a importar muito mais, porque tinha que ser aquela - e ela força a palavra para se fazer entender - e não qualquer outra.

- O santo não importa, o que importa é o milagre.

Ela sorriu, a amiga disse tudo, resumiu brilhantemente toda a sua teoria. Taças na mão, rubi intenso dançando com notas profundas. Brindaram. Aos santos, por via das dúvidas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Socorro, Sócrates!

Eu também Só Sei Que Nada Sei ... sem pretensão alguma.
Sócrates já sabia disso há mais de 2.000 anos.
Será que não mudamos nada desde então?
Continuamos sem saber ... um dia saberemos?

sábado, 18 de abril de 2009

Ela e o Vento que Vem do Mar.

Ela caminhava lentamente, o lugar parecia deserto.
E o silêncio era quase absoluto, ela podia ouvir seus próprios passos e o vento. Ela gostava do vento manso, da brisa e até do vendaval.
E o vento brincava com ela, eram amigos, caminhavam de mãos dadas.
Nas noites quentes de verão, eram amantes.
Ela esperava na varanda, deitada na rede, fingia que dormia, ele chegava de mansinho.
Uma carícia.
Ela respirava fundo inalando seu cheiro.
Maresia.
Dentro dela suas águas cresciam.
Mar manso.
Ele então passeava pelo seu corpo, bagunçava seu cabelo, erguia sua saia.
Ela ria.
Ventava mais forte, mais forte, mais ... até ele estar por ela, envolvendo todo seu corpo.
E ela ventava.
Sua respiração ofegante era vento. Dentro dela, ele respirava seu ar.
Na hora de ir, dizia adeus com um beijo, brisa mansa em seu rosto.
Ela respirava fundo, retendo um pouco dele em seus pulmões.


*Aracati é o vento que vem do mar no nordeste, dizem que chega todos os dias na mesma hora e que faz com que as pessoas levem as cadeiras para fora de casa e esperem por ele, como quem espera um visitante.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eu sou.

E ela sabia, a certeza era tão grande que doía, e a dor se unia à outra, mas antiga, arraigada.
Ela já não era a mesma, a trégua terminara. Por quanto tempo pode-se fazer dormir as feras? Por quanto tempo pode-se negar a vida? E o que era essa vida, afinal?
Foram as escolhas, os caminhos. E por um tempo deu certo. Ela não imaginou que os acordos expiariam.
E agora, atônita, sentia. Sentia tudo que se negou sentir. Quanto mais seu corpo suportaria? Estava exausta do esforço intenso, tentava renegociar os prazos, mas não tinha certeza. E a falta de certeza era sua maior fraqueza e paradoxalmente, o maior trunfo.
Ela equilibrava-se dentro de si mesma. E a luta, a trégua, as negociações, os pactos, a entrega, os vencedores e perdedores estavam todos ali, no espaço limitado e ao mesmo tempo infinito; do ser.
Ela dizia: - eu sou.
E era.
E é.

(para sempre)

terça-feira, 7 de abril de 2009

As portas e suas chaves.

Algumas portas não podem ser abertas; ou não devem.
Mesmo tendo as chaves em suas mãos ela achou melhor mantê-la fechada.
Depois de tanto tempo nada de bom poderia sair de lá.
Elementar, meu caro.

Um adendo
A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Paulo Mendes Campos - do Livro o Amor Acaba - vale a pena ler.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Primeiro Bilhete

C,
E o jogo começou.
Siga meus passos, deixe seus rastros.
Não havia como ser diferente, não há sentido para nós que não seja nas palavras de nos encontremos de fato.
Esse é meu primeiro passo, escolhi criteriosamente, não sem paixão, não apenas pelas palavras, mas, e principalmente, pelas sensações que elas imprimem em nossos sentidos, quase se vê a boca, quase se sente o hálito, e sim, ficamos sem fôlego.
Já espero pela sua escolha, seus passos...
A.


---------------------------------------------------

Ela não sabia quantas vezes tinha lido aquele bilhete. Dezenas? Centenas? Como se a repetição fosse lhe trazer a revelação. Ela tentava beber as palavras, sorvendo uma a uma, aos goles, como quem degusta um bom vinho. Tentou também entornar todas num gole só, esperando que torpe pelo excesso pudesse entender. Ainda estava com sede, não havia entendimento e o mistério... ah! o mistério a deixava ligada.

(Clara encontrou o bilhete dentro de um livro na Biblioteca Pública, e com o tempo outros foram surgindo...)