domingo, 30 de maio de 2010

No espaço mais sagrado que há.

Aquele espaço era sagrado para ela. Para ele qualquer espaço que compartilhassem palavras poderia ser considerado sagrado. Andavam por tantos espaços sagrados ultimamente, no meio das árvores, das lojas, das poltronas, das mesas, do edredon, ou ali, no meio dos livros.
Assim que ele chegou a atmosfera mudou. Era bom saber que ele estava ao alcance do seus olhos, das suas mãos. Ele sentou ao lado dela, ela sentiu seu cheiro. Era confortável, como estar em casa, seu cheiro tinha o poder de fazê-la sentir em casa, mesmo ali, naquele espaço sagrado.
Ela lia, ele escrevia. Ela espiava e sorria para ele. Ele sorria para ela. E a tarde nublada ganhou sol. Ela se levantou, ele foi atrás, nada disseram. As bocas se encontraram. E o beijo no meio dos livros teve um gosto especial. Gosto de palavras compartilhadas. Gosto de paz selada. Gosto de quero mais. Muito mais.

sábado, 29 de maio de 2010

Onde tudo começou e onde uma história ainda é contada.

Ele relia suas próprias palavras.
Palavras que não eram mais dele, agora eram dela. Ele disse que nunca fazia esse tipo de coisa, mas com ela foi diferente. Tudo começou com um convite, um convite para cinema. Ela disse que não poderia aceitar, não habitavam o mesmo mundo. Era verdade. Ele ficou interessado e insistiu, queria entender aquele enigma. Ela deu pistas, decifra-me ou terei que devorá-lo. Ela ainda não o devorou, mesmo não tendo sido decifrada. E muitas palavras foram ditas, cada vez mais próximos, cada vez mais perto. Ela contou segredos que não costumava contar a ninguém. E não sabe explicar por que fez. Ela também não fazia esse tipo de coisa. Mas fez, com ele fez. E as palavras não bastaram, as palavras eram apenas o caminho. Ela desceu as escadas, ele a viu. O coração batia dos dois lados. Isso também não foi suficiente. Ela aceitou o convite, foram ao cinema. O coração bateu, as mãos se tocaram. Mas isso também já não bastava, precisavam de mais, mais dele, nela, mais dela, nele. Beijaram-se. Beijo bom aquele. Desse dia ela se lembra da forma como foi vista, como seus olhos decifravam ela. Precisavam de mais. Mais de cada um. E as palavras, sempre as palavras, mais as bocas, abraços, línguas, cheiros, gostos, carinhos, olhares, trocas, livros, juras, encontros, corredores, árvores, contos. Tudo isso ao mesmo tempo, e quando menos se esperava, havia ali uma história de amor.
Uma história que eles contavam, com suas próprias palavras ...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Do onírico ao que chama. E eu vou.

Acordei as 4 horas da manhã. Parecia que alguém me chamava. Acordei olhando para o lado, não tinha ninguém. Isso já havia acontecido uma vez, há muito tempo. É uma sensação estranha, porque eu sei que não foi um sonho, a voz não vinha de dentro de mim, vinha de fora, eu ouvi alguém me chamando mesmo. Era uma voz de homem. Na primeira vez eu tive medo, dessa vez não. Acordei tranquila, só olhei para o lado procurando por quem me chamava. Logo entendi e respondi bem baixinho, já vou. E fui.

sábado, 22 de maio de 2010

Isso de buscar respostas, isso de tentar entender o sentido. Isso de achar de precisa saber de tudo antes de. Isso de achar que o próximo passo é definitivo. Isso de não fazer, não achar, não buscar, não atravessar, não dizer... Isso, já está demais.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Aos bons amigos - Parte 2.

Ela perguntou, ele respondeu. Ele respondeu de verdade, palavras vindas lá de dentro, sem pensar. Ele falava e ela sentia. As palavras tocavam porções bem esquecidas dentro dela. Ela não julgou o que ele dizia, só sentiu. Sentiu a verdade em cada pausa, na escolha de cada palavra. Perversidade. Mesquinharia. Egoísmo e Preguiça. Palavras que poderiam ter uma conotação ruim, mas que não tiveram, talvez por que fizessem sentido. Ou pelo esforço em dizê-las em voz alta, em assumi-las, era a redenção. Ele se redimia, ela entendia e sentia. As palavras ficaram dentro dela.
.
.
Hoje novas palavras juntaram-se àquelas. Novos sentidos para antigos padrões. Mais uma vez um amigo, outro amigo, mais uma vez palavras ruins ditas pela boca mais gostosa do mundo. E de novo, ela estava repleta de palavras ... entendia e sentia ...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aos bons amigos - Parte 1



Alma diz: tudo que ele escreve pra mim no msn ele coloca uns rsrsrsrs. coisa mais besta e chata do caramba.
Clarice diz: eu vi, hahaha - mas acho que é nervoso
Alma diz: acho que no dia seguinte a gente conversou de novo
Clarice diz: o que vc vai fazer hoje a noite?
Alma diz: vc vai me propor alguma coisa???
vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai? vai?
Clarice diz: rsrsrssrsrsrs - igual o moço
Alma diz: hahahahahahaah
Clarice diz: vou vou vou vou vou vou vou
Alma diz: sério, ele é tão bobo. fico meio irritada com tanta bobeira.. eu queria que ele fosse diferente..
Clarice diz: e a gente não tá muito atrás, né? o que vc vai fazer, cacete?
Alma diz: mas o nosso bobo é um bobo legal. eu tenho aula de dança. mas dependendo do que vc me propuser eu repenso. tô muito bored hj..
Clarice diz: aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh! ia te propor um vinho
Alma diz: ficou bonito isso na minha tela
Alma diz: só não pode ser bubbles.. que tô meio ainda.. asssim.
Clarice diz: não, queria um vinho tinto, corpo médio, tanino redondo, cor rubi, notas frutadas
Alma diz: pareceu bom. apesar do corpo médio. e das notas frutadas.
Clarice diz: é, vamos ter que procurar um assim na carta de vinho.
Alma diz: eu já sou mais chegada num cara grande... encorpado.. meio ogro..
Clarice diz: um vinho leve, descompromissado, para um papo denso e bem compromissado
Alma diz: se bem que depois do último eu andei repensando essa coisa de ogro



(bebemos o vinho, falamos sobre a vida, depois bebemos o vinho e falamos sobre os ogros que já não eram tão ogros assim. Bebemos os ogros e brindamos o vinho!)



Fim

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Menina, engula esse choro.

Acho que aprendi tão bem a engolir lágrimas que agora não sei mais fazer diferente. Mas fico me perguntando: Será que engolir lágrimas não dá indigestão? Acho que dá é inundação. Estou inundada.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

As palavras que ela lia sem querer.

Ela lia palavras que não queria ler. Ela lia, relia e as letras insistiam em dançar. As palavras não faziam sentido. Seus olhos se inundaram e as palavras fizeram menos sentido debaixo d'água. E subitamente tudo parou dentro dela. Por um segundo tudo ficou suspenso, como se o mundo lá fora não existisse mais. Seu coração não bateu nesse segundo que durou uma eternidade, nem o ar entrou ... ela respirava dentro d'água, de olhos abertos.
As palavras nadavam ao seu redor. Três palavras peixes. Três peixes palavras.
NÃO. VOU. MAIS.
NÃO. VOU. MAIS.
Era tudo o que ela via, porque não sentia, estar debaixo dágua era bom, o mundo visto dali parecia tão mais fácil e infinitamente mais silencioso.
Mas o coração voltou a bater, o ar entrou e as palavras-peixes se foram quando ela limpou os olhos inundados. A vida retornou a ela, mas ela não era a mesma.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

El segreto de sus ojos... e outros segredos.

Eu tenho um amigo que fala comigo através de filmes. Ele assiste, lembra de mim e me recomenda. Ele é sempre sucinto, diz: Você tem que assistir esse filme.
Eu sempre assisto, gosto das sugestões dele. Ele, esse amigo, é uma das pessoas que mais me conhece no mundo. Então, eu assisto. Mas, depois de assistir fico pensando ... O que será que eu deveria ver? Será que eu vi? Ontem assisti El segreto de sus ojos. É um grande filme, mas ele não me recomendou por ser um bom filme, recomendou? Uma voz dentro de mim diz que sim, ele recomendou. Afinal, eu já tentei falar com ele sobre isso e ele não quis, não falou, muitas vezes me ignorou... então nem sei o que pensar ... da próxima vez, no próximo filme, vou só assistir, sem pensar em nada, talvez assim eu consiga entender...

...............

Eu mandei esse e-mail para ele, brincando ... e ele (inédito!) respondeu. E agora? Eu falo o quê??? Estou pensando em um filme como resposta. Já que alguns monstros acordaram com fome indico Onde Vivem os Monstros. Já falei sobre o filme aqui. http://claricenajanela.blogspot.com/2010/02/os-monstros-e-eu.html