quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um dilema e minhas feras...

Eu tenho aqui dentro, dentro de mim, uma fera. Às vezes consigo fazê-la dormir por um tempo. E durante esse tempo experimento uma quase paz, um quase encontro, quase não preciso de sentido. Quando a fera dorme, consigo existir sem grandiosidade, sem questionamento, quase durmo, quase descanso. Não preciso de erudição, nem metáforas, passo longe de verbos difíceis de conjugar. Ah! Quando a Fera dorme, eu quase esqueço que há uma busca, eu apenas vivo com simplicidade e com coração puro. O tempo é sempre bom, morno até, não há frio, nem grandes opostos, sobretudo, quando a fera dorme, não há dor.
Mas um dia ... nunca é de repente, a Fera, ela é esperta, chega de mansinho, sorrateira, dribla minhas defesas, percebo que ela está acordando por pequenos sinais: uma dorzinha latente, arrepios pelo corpo, suores, gritos roucos.
Os sinais vão se intensificando: um coração que bate descompassado e acelera-se sem motivo.
E finalmente, ela desperta. É a volta da consciência da busca, do sentido, das metáforas, passo os dias conjugando verbos, respirando em arquejos, gritos mudos ecoam do meu peito.Fico alerta, sinto dor. Tenho sede, frio, fome ... fome de coisas que eu nem sequer sabia que queria. Nada me sacia quando a Fera acorda ... sou a pessoa mais exigente do mundo, quero tanto, quero a dor, quero o gozo, quero o mundo aos meus pés ... Ah! Quando a Fera desperta, não há alternativa, quero tudo em grandes goles, bebo a vida no gargalo....

Estou pensando, nesse exato momento, se canto uma canção de ninar ou se danço com minha Fera ao som de Dancin´days ... abra suas asas ... solte suas feras ....

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Deixar ir.

"deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço...."

C.F. Abreu

talvez seja isso o tal do amor incondicional...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Nonsense

Ela queria voltar ao nonsense, não porque o nonsense fizesse sentido, ele em essência não faz, mas o qu ele faz

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Noite Estrelada.

Quando o monge beneditino Dom Pérignon sorveu o primeiro gole de champagne, exclamou: “É como beber estrelas!”.

Pois é ... ontem bebi várias constelações, Ursa Maior, Ursa Menor, Cassiopeia, Cruzeiro do Sul, Três Marias ... enfim, fui dormir estrelada.
...
De bom tenho a dizer que os seres que dentro de mim habitam puderam guiar-se pelas estrelas.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cada vez acredito mais em Papai Noel

" Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra..."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A carta que eu queria ter escrito...

A carta que eu queria ter escrito, não seria noticiosa, prefiro as cartas silenciosas, que falam em voz baixa. Pegaria uma folha da impressora mesmo, capricharia um pouco na letra, mas só um pouco para não deixar a carta sem personalidade. A minha personalidade. Eu estaria nos detalhes, nas entrelinhas, minha respiração poderia ser sentida em cada vírgula. Adoraria terminar a cara com um suspiro no exato momento do ponto final. O cheiro seria sutil, o que desprendesse das minhas mãos ao escrever, não usaria artifícios para deixa-la perfumada. Junto com a carta eu colocaria aqueles bonequinhos recortados de mãos dadas e escreveria atrás - Amigos de Papel. Era assim a carta que eu queria ter escrito...

Delicadezas, Meu Deus!


Recebi um e-mail assim:
"As praças estão cheias de esquilos se preparando para o inverno e correndo e correndo para armazenar as últimas bolotas...você sempre gostou dos esquilos daqui".

Central Park - outono 2009

Desejo para 2010

Ao ler alguns livros nesse ano percebi que certas palavras deixam um gosto bom na boca. É algo real, fica-se com vontade de ler mais, de reter as palavras para que o gosto permaneça. Percebi sabores diversos ao ouvir algumas mesas literárias em Paraty, durante a Flip, algo como um manjar que alimenta a alma e deixa um gosto bom não só na boca, mas em todo o corpo. Sai embevecida de algumas falas, me senti bem alimentada, bem nutrida, salva! Depois foi a vez da Bienal do Rio, onde de novo experimentei a mesma sensação, mas com sabores novos, vindos de outros mundos, outras línguas. Enfim, 2009 foi o ano para eu entender, definitivamente, a que mundo eu pertenço.
O meu grande desejo para 2010 é que eu possa continuar bebendo, comendo e sentido todos esses sabores e que um dia, eu consiga também escrever algo que alimente a alma, traga doçura e sensações boas para quem me ler. E mais, que as pessoas me reconheçam pelo meu gosto, o gosto que minhas palavras deixam.
Que assim seja!!!
Impossível não olhar pra trás, para sucessão enorme de dias passados, 356 dias e pensar. Foi um ano e tanto!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Enquanto isso, nos braços de Morfeu.

Sonhei um sonho bom. Despertei impregnada de você, como se ao tocar em mim, minhas mãos pudessem alcança-lo. Acordei com seu gosto ma minha boca, seu cheiro estava no ar. E no meu coração a sua impressão digital. No sonho, quando eu fugiu, você ria. Quando eu voltava, me acolhia. E se eu chorasse, você acudia. E quando eu me entregava, você recebia. E me beijava e me bebia. Eu me doava e você me queria. Você estendia a mão e eu corria. Eu voltava e você pedia, dá logo a alma! Meu corpo inteiro só queria que o sonho ficasse. Mas quando eu fui ... você partia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma carta sem palavras.

Tão estranho não ser entendida, quando escrevo geralmente estou nua, dispo-me de mim mesma antes de deixar que as palavras me invadam. Tentei ler minhas palavras com seus olhos, em vão. Pra mim disseram a mesma coisa que queriam dizer, nada mais, nada menos. Nada estranho, nada hostil. Eu quase senti seus olhos fitando-me enquanto escrevia, olhos que querem enxergar além de mim, e que por isso, nem a mim enxergam. Ficou em mim um sentimento de inadequação, estranheza, quase vesti suas palavras ... Mas elas não me caiam bem, não eram meu número e mesmo assim a sensação persistia. Até que entendi, não sou eu.
Aquelas palavras hostis ficaram ecoando dentro dela a manhã inteira, na hora do almoço revolveu ir ao shopping. Foi direto para livraria e ficou zanzando por seus corredores sem rumo certo, parecia que procurava um livro, folheou vários, mas nenhum lhe disse nada, a resposta que procurava não estava ali. Quando estou triste gosto de ficar entre os livros, as palavras sempre me acolhem. E foi exatamente no meio desse pensamento que ela percebeu, ali no meio dos livros, no meio das pessoas, que ela tentava fazer as pazes suas próprias palavras.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Obliqua e Estranha?

Não era lá muito lisonjeiro. Estranha por ser diferente? Ou estranha pela estranheza que causava. Será que causava? Ou era apenas reflexo de suas palavras nos olhos alheios. As palavras tem essa peculiaridade, não são exatas, impossível não ler 2, quando se vê 2. Mas com as palavras, não existe essa exatidão. Olha-se personagem e pensa-se na sua própria concepção de personagem, somam-se a isso as suas expectativas em relação ao que gostaria de ler. O resultado é uma leitura tão pessoal quanto pessoal eram as motivações de ser algo além da compreensão. Acho que estou sendo obliqua. Percorro caminhos tortuosos para chegar aqui. Percorro explicações que não tenho para explicar-me. Talvez o obliquo seja como as reticências. Não há nada de dissimulado, ardiloso ... de través, talvez. Gosta da linguagem além da linguagem, das palavras nas entrelinhas, percebo que começo a me sentir confortável nesse espaço, talvez, afinal, estranha e obliqua seja um pouco lisonjeiro...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Esfinge ... finge.

Ela não era desvendável, simplesmente não era. Faltava a ela elementos básicos, fatos concretos, pistas a seguir. Mesmo para um observador mais atencioso. As peças não encaixavam. Ela não se importava, gostava de ser assim, essa era sua essência, o algo que a mantinha aqui. Ela era, e pronto. Mesmo faltando, ela era. E isso bastava. O seu enigma era a sua força. Uma vez ela achou que morria, naquela época ela não entendia. Ser desvendada não era como morrer. Ela finalmente entendeu, já era eterna, mesmo que por um segundo ou vários.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Poetizando o Cotidiano

Meu filho e minha mãe na cozinha da casa dela. O vento assobiando pela fresta da janela.
- Escuta! É o vento falando com a gente - diz a avó
O neto fica em silêncio, presta atenção no ruído e diz:
- Vó, eu não entendo, não falo "ventanês."

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Linguagem das fotos, dos corpos e das bocas.

Mandei um e-mail para um amigo dizendo que estava com saudades e recebi uma foto como resposta. Há algum tempo li "O Corpo Fala" com o intuito de aprender um pouco sobre a linguagem corporal, o que as pessoas realmente querem dizer, mesmo quando não dizem, o corpo diz. Mas no caso da foto como resposta, confesso que o livro pouco me ajudou, não falava nada sobre a linguagem das fotos. Fiquei imaginando o que meu amigo quis dizer com a foto: "Estou bem, feliz, gordo e realizado. Viajando com minha esposa pelos rios da vida." Ou ainda: "Não tenho tempo para responder seu e-mail". Fiquei olhando a foto e tentado imaginar o que as palavras não ditas queriam dizer. Em vão. Respondi com outra foto. E fim.
Essa história me fez pensar em outra estória. Não sou observadora. Conheci uma pessoa esse ano (assim, pessoalmente!) e passei três horas conversando (com a luz do sol) e sou incapaz de dizer que roupa essa pessoa estava usando. A verdade é que o corpo não conseguiu me dizer nada, uma vez que não observei corpo algum, o diálogo se resumiu às bocas (aliás, era uma boca linda!). Devo admitir que gosto mesmo é de ouvir o que as bocas tem a dizer, mesmo quando não dizem.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atos deliberados de uma pessoa nem sempre boa.

Ela não era má, em absoluto, não era uma pessoa má. Mas, de vez em quando, praticava uma maldadezinha ou outra. Não que achasse que era uma maldade no momento em que deliberamente estava praticando o ato. Nunca foi má com a intenção de ser má, mas de boas intenções, o tal do lugar (não vou divulgar o espaço aqui ), dizem que está cheio. Ela tenta ser nobre e praticar apenas atos de bondade, procura nunca fazer ao outro o que não quer que faça a ela e, sobretudo, não paga a maldade alheia com outra maldade. Mas, às vezes, ela não resiste, e pratica um ato vil pelo mais vil dos motivos: vingança. Manda as favas os bons sentimentos, dizem que tiro trocado não dói. Se não dói nela, tampouco doerá no outro. Ela nunca vai admitir, nem para sua própria sombra, o real motivo de praticar determinados atos, afinal, ela é uma pessoa boa, do bem, que pratica boas ações diariamente. Mas, no fundo, bem no fundo, ela sabe, e algumas pessoas (juradas de morte!) também.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Confirmando o que você já sabe.

Assuntos pendentes, família me pedindo socorro, me pedindo conselho. Eu sem conseguir ajudar, queria poder, mas estava sem respostas. O que eu devo fazer? perguntaram-me. Falei com uma amiga, ela sugeriu um Centro de Umbanda. Sou espiritualista, mas caminho por outras bandas, por isso não conhecia o lugar. Topei ir. Ela já chegou me explicando os babados, e eu bem atenta tentando assimilar o lugar, as pessoas, as energias. Pegamos nossas senhas e aproveitamos o tempo para colocar o papo em dia. Anoiteceu. Lua cheia. Começou a sessão. Rolou umas coisas que não entendi. As pessoas cantaram uns pontos. Apareceram as ciganas. Todas lindas. Demorou muito, mas muito mesmo. Chamaram minha amiga, ela foi. Fiquei sozinha. Minha amiga voltou e eu ainda esperando minha vez. Pensei em desistir. Chamaram meu nome. Fui. Cigana tão bonita, falou assim: - Fia, é isso mesmo, é isso que está no seu coração. Você já sabe a reposta. O Caminho é esse. E não precisa ter medo, não vai acontecer de novo. Você só precisava de uma confirmação. Pronto, confirmei. Agora, pode ir.
Sorri, bati minha cabeça três vezes e sai.
...

Diz coração, em alto e bom som!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O absurdo, o concreto, o onírico e a imortalidade.

Não é que ela não tenha mais nada para dizer. Ela tem. Mas as palavras, as que a habitam, resolveram simplesmente ficar por lá. Não querem sair. Porque sair é materializar-se, palavras faladas, palavras escritas, palavras lançadas ao mundo real são concretas, mesmo sendo absurdas. O concreto e o absurdo lado a lado, chega a ser bonito de ver. Tem gosto de surreal. Eu gosto e ela também. Mas as palavras resolveram que não. Preferiram o mundo onírico da-não manifestação-física. E ela se calou por algum tempo. Palavras também tem seus caprichos, assim como ela. Algumas, mais danada, cansaram-se de habitar um corpo, aspiram à imortalidade. Também foi bonito de ver.