segunda-feira, 27 de setembro de 2010

De novo, o sentido.

Ela passou o fim de semana imersa em um céu profundamente nublado, mas acordou com o sol brilhando. Prova de que aquela máxima que o sol sempre está lá, é verdadeira. Mesmo quando a gente não vê, o sol está lá. Ela sorria satisfeita por perceber que esses dias de sombra ajudaram-na a ver. Como naquelas experiências de quase-morte que a pessoa vê a si mesma de outra perspectiva. Analisando melhor, ela sabia que tinha morrido um pouco nos últimos dias, foi uma experiência de umpouco-morte. Ela se viu por outros olhos, olhos claros de clareza. Subitamente entendeu. E até a tristeza fez sentido, porque fazia parte do que entendia. E tudo o que sentia fez sentido, porque eram olhos novos de se ver. E o sentido fez sentido, porque agora ela sabia. A magoa não existia mais, nem as dúvidas pairavam no ar. Ela percebeu que andava perdida, passou um tempo andando sem direção. Mas não foi tempo perdido, foi o tempo necessário para andar perdida sem direção. As palavras brincavam com ela, porque eram mais que palavras, eram o sentido. Não mais perdido. Mas ali, bem na sua frente, fazendo sentido.

Olha Chico, o que será que me dá?

"O que será que me dáQue me bole por dentro,será que me dáQue brota à flor da pele, será que me dáE que me sobe às faces e me faz corarE que me salta aos olhos a me atraiçoarE que me aperta o peito e me faz confessarO que não tem mais jeito de dissimularE que nem é direito ninguém recusarE que me faz mendigo, me faz suplicarO que não tem medida, nem nunca teráO que não tem remédio, nem nunca teráO que não tem receitaO que será que seráQue dá dentro da gente e que não deviaQue desacata a gente, que é reveliaQue é feito uma aguardente que não saciaQue é feito estar doente de uma foliaQue nem dez mandamentos vão conciliarNem todos os unguentos vão aliviarNem todos os quebrantos, toda alquimiaQue nem todos os santos, será que seráO que não tem descanso, nem nunca teráO que não tem cansaço, nem nunca teráO que não tem limiteO que será que me dáQue me queima por dentro, será que me dáQue me perturba o sono, será que me dáQue todos os tremores que vêm agitarQue todos os ardores me vêm atiçarQue todos os suores me vêm encharcarQue todos os meus órgãos estão a clamarE uma aflição medonha me faz implorarO que não tem vergonha, nem nunca teráO que não tem governo, nem nunca teráO que não tem juízo..."

olha de novo!

sábado, 25 de setembro de 2010

Perguntas que não sei responder.

Será que conhecemos realmente uma pessoa? Ou só pedaços de pessoas? Será que para conhecer realmente alguém precisamos saber todos os seus segredos? São os segredos guardados, omitidos, não ditos que fazem o que somos ou são as verdades escancaradas, ditas e gritadas que mostram o que somos? Somos pessoas em pedaços? Somos pedaços de pessoas? Fico pensando se conheço alguém de verdade mesmo nesse mundo.
Às vezes, acho que não.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A morte

Tenho pensando na morte. O lado finito da vida. Assunto que ninguém gosta de falar. Afinal, só os outros morrem. A gente não. Mas, enfim, tenho pensado na morte. Não na minha, lógico (só os outros morrem...), mas tenho pensado em quem pode morrer. E só de pensar que todo mundo que eu amo pode morrer já me dá uma vontade de morrer antes. Assim vou logo saber como é o outro lado. Eu acredito no outro lado. Aliás, acredito em todo os lados. Não sou egocêntrica a ponto de achar que só existe o meu lado. Mas, voltando ao assunto do post, a morte. Tenho pensando na morte. Li um livro, vi um filme, conversei, sonhei e a morte estava presente. Não, não tenho medo de falar dela, mas confesso que esse pensamento recorrente tem me deixado encanada. Por isso resolvi escrever, as vezes quando eu escrevo exorcizo o assunto.

sábado, 4 de setembro de 2010

Lágrimas

Ainda não, as lágrimas teriam que esperam mais. O telefone tocou, a porta bateu, o cachorro latiu, alguém chegou, o filho perguntou e as lágrimas foram adiadas mais um pouco. Quando eu estiver sozinha, ela pensou. E a vida seguia acontecendo.
Almoço servido, dentes escovados, filho na escola. Sozinha no carro. Agora! Alguém buzinou, a música tocou. O sinal abriu. O mundo andou. Choro foi de novo adiado. Mais tarde.
Estacionou no trabalho, sorriu para todos. Respondeu e-mails, abriu planilhas. Terminou o planejamento, fez uma reunião. Sorriu mais um pouco. Fechou o computador. Pegou a bolsa, deu o último sorriso e foi.
Entrou no carro, colocou óculos escuros, desligou o rádio. Desligou o celular. O sinal fechou. Ninguém buzinou. O guarda não multou e finalmente ela chorou.
Chorou sozinha, dentro do seu carro, sem música, sem testemunhas, parada na esquina.
O sinal abriu, alguém buzinou, o mundo voltou, ela chorou mais um pouco, mas no fundo, sorria.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito"

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A sabedoria que vem do coração.

"Amo como ama o amor.
Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.
Que queres que te diga, além de que te amo,
se o que quero dizer-te é que te amo?"

Fernando Pessoa