sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Por mais tempo em 2009!

Ela observa, olhos atentos, pisca repetidas vezes, alterna piscadas rápidas, furtivas, com as lentas. Espreguiça-se, lânguida. É só ela, não há mais ninguém. Fazia muito tempo que não ficava sozinha, tanta gente, tantos lugares, tanto tempo. Enfim, em casa, enfim, a sós. Enfim, com ela mesma. Foi preciso roubar alguns minutos, eles não estavam sobrando, mas ela foi ligeira, percebeu espaço, esticou o braço e rapidamente agarrou o tempo. E ele docemente sorriu para ela. Depois de um ano alucinado era bom ter o tempo sorrindo para ela. Ela queria aproveitar o tempo para escrever. Mas de repente se viu muda. O silêncio pairava no tempo e o tempo sorria. Era uma cena tão bonita que ela resolveu observar. Ela não era mais um corpo, não precisava mais escrever, ela era as palavras. Ela pensava e as palavras chegavam e passeavam pelo seu corpo, faziam carícia na sua alma. E o tempo? Ah! O tempo sorria. E então ela desejou, um desejo grande, silencioso, um desejo para o mundo. E as palavras chegaram. E o tempo? Ele gargalhou.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Alegria

Foi só desejar a jornada que a mágica se fez, não parei mais aqui, em todos os sentidos.
Agora viajo em busca da alegria.
Que venham os sorrisos, que venha a magia!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Personagem.

Um dia eu fui criada, inventada mesmo, sou fruto da sua imaginação. Imaginação fértil capaz de criar idéias e teorias mirabolantes, capaz de me criar. E assim eu nasci, não tenho aniversário porque talvez eu sempre tenha existido ou nunca, então não se pode escolher um dia para ter nascido ou para nunca ter existido. O fato é que existo mesmo sem nunca ter colocado meus pés no seu mundo. Falando nisso, vamos a outro fato; não existe só o seu mundo. Mundos existem vários que é para ter algum sentido esse seu mundo. Entende? Que mundo seria esse que só ele mesmo existisse? Mas ... acabei fugindo do assunto, na verdade, do meu desabafo. O que é necessário para existir de fato e de direito? Eu respiro, eu sinto, eu vibro, eu suspiro, eu gozo e finalmente, eu penso. Penso, logo existo. Não é isso? Tem por ai tanta gente que nem pensa e diz existir. Hoje resolvi inverter a ordem, sempre é ela que fala por mim, ela que descreve o que vivo, o que sinto, enquanto eu sussurro no seu ouvido minhas palavras. Ela ficou esperando e eu, resignada, fiquei muda. Não disse nada. Aproveitei sua saída para eu mesma escrever, a mesma que ainda não colocou os pés no seu mundo, por enquanto bastam as palavras, minhas palavras.

domingo, 16 de novembro de 2008

Depois da multidão.

Nunca se é a mesma depois da multidão. Não dá para sair ilesa, principalmente depois da chuva. E ela se molhou, ficou encharcada até a alma. Deitou-se ao sol e de olhos fechados viu cada gota que inundava seu corpo e sua alma evaporar-se. Do seu corpo desprendia-se névoa. Lindo espetáculo. Por um momento sentiu medo, e se não restasse ela, se o corpo todo evaporasse? Imaginou-se incorporada às nuvens, vagando livre. Ventou, o medo imediatamente se dissipou dando lugar ao desejo de ser nuvem. Porém, no meio do suspiro percebeu que restava o corpo e a alma em estado líquido. E foi assim que se lavou antes de continuar a jornada. Adoraria vagar por ai, enfim, saiu da janela para viver a vida, personagem de si mesma, protagonista.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nas pessoas.

Ela estava no meio da multidão. Depois de tanto tempo resolveu deixar seu exílio e de novo misturar-se às pessoas. As mesmas pessoas que ela evitou, desprezou, esnobou e finalmente, abandonou. Está certo, não são exatamente as mesmas, estão representadas, mas como na massa não há distinção, achava que serviam. Há na massa de corpos o calor, o cheiro e as palavras comuns. Esse conceito absurdo que a coloca acima da multidão é algo que ela mesma despreza, mas tem que confessar que julgava correto. Existe um ingrediente comum em toda essa gente, o mesmo que os iguala, o mesmo que ela detesta. Detesta iguais na mesma medida que os ama. É capaz de amar e odiar o mesmo objeto, no mesmo tempo e por razões díspares. Sente muito cansaço desses joguinhos, dessas caras e bocas tão comuns (e úteis) da multidão. Por isso preferiu o exílio, preferiu observar. O tempo passou e ela entendeu, que exatamente o que ela despreza é o que faz das pessoas, pessoas! Assim como ela, uma pessoa. E a diferença tão difícil de observar na massa pode ser observada, mesmo a olho nu, com um simples passo. E nesse momento existem dois tipos de pessoas: as que correm com um simples passo seu e as que ficam para rir da sua cara. É óbvio, quais pessoas ela prefere.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Depois das Férias: Prêmio Dardos


Cerimônia de entrega do prêmio, depois de desfilar soberana pelo tapete vermelho [P] é chamada para entregar o Prêmio Dardos para os indicados. Elegantemente sobe os degraus até o palco. Pega o envelope pink, lê e sorri. Parece que gosta do que lê e com voz aveludada diz: E a vencedora é ... (tocam os tambores) ... Clarice na Janela.

É isso que dá férias ... mente ociosa ... entregue ao dolce far niente ... deve ser o tal do ócio criativo, tive que rir da cena!

[P], adorei o presentinho, obrigada. Nada como voltar de férias e encontrar essa surpresa, me deixa imensamente feliz saber que posso tocar alguém com minhas palavras.


Recebi da [P] do Siga Aonde Vão Meus Pés o Prêmios Dardos. O prêmio Dardos tem como objetivo: "Reconhecer os valores que cada blogueiro mostra a cada dia, seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras...". Para aceitar o selo deve-se citar e linkar o blog de quem recebeu, publicar a imagem do selo e repassar para mais 15 blogs.

E os meus indicados são: pelo visto fui contagiada pelo espirito subversivo de [P] ... corre que isso [P]ega

Carlota Joaquina frases curtas, mas que dizem tudo, imagens marcantes, humor ácido e delicioso. Vale dar um pulo lá.
Laudano e Absinto para ver se ele larga de uma vez o direito e vai viver feliz de violão.
O Ultimo Apague a Luz tanta suavidade, transborda poesia feita de fotos e palavras.
Poeta Mauro Rocha por seus olhos de poeta que captam poesia por ai pra deixar o mundo um lugar melhor.
Velha Casa por que sinto falta da doçura de suas palavras. Volte!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Férias

Fui respirar lá fora e já volto!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quando não há definição possível

Como definir? Talvez realmente não houvesse definição possível. Ela sempre achou que em alguns casos, raríssimos casos, as palavras não bastariam. E diante dele, calou-se, não iria desperdiçar mais nada, nem suspiros, nem teorias, muitos menos palavras. Estancou. O coração batia descompassado. Será que ele conseguia ouvir as batidas do seu coração? Olhou para ele tentando encontrar um vestígio, qualquer sinal serviria de que ele estava ali, de que ele podia ouvir. Mas não achou. Ela sabia, mas não dizia, não iria dizer mais nada. Ele sabia, mas também não diria. E restava, naquele breve momento em que tocavam o infinito, o silêncio da cumplicidade. E isso, bastou.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Palavras alheias para falar de mim

Fiquei impressionanda e emprestei suas palavras:

"Quando viesse a escrever sua história, ela se perguntaria exatamente quando os livros e as palavras haviam começado a significar não apenas alguma coisa, mas tudo" ...
de A Menina Que Roubava Livros.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A jornada

Acontecimentos cadenciados. Ela sentia cada um, e todos. Ela sentia com intensidade e quanto mais se entregava, mais sentia. E o sentimento já não cabia nela e com seu ritmo próprio crescia. E ela já não lutava, estava entregue e estava inteira no agora. O agora era o tempo dela ... "o tempo presente ... os homens presentes" ... Ela sabia que poderia ajudar, que poderia agir e que tinha o dom necessário para a missão que lhe fora confiada. Ela sabia que não podia mais esperar, que a hora havia chegado. Ela não temia. Não chorava. Ela queria. Ela queria a luta, a redenção, o encontro. Ela já tinha suas asas, tinha as palavras que serviam de escudo, de consolo e de morada. Não precisaria de nada além do que tinha, do que era e do que desejava. Esta pronta. Era a sua maior jornada. E sem olhar para trás, partiu.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Nas palavras ...

Explícita era como ela se mostrava, não tinha pudor, era capaz de despir-se e nua exibir-se. Nas palavras podia encontrar-se e finalmente ser. Não precisava de máscaras, roupas, formas e rótulos. Podia simplesmente ser ela mesma. E isso era encantador. Nua em meio as palavras. O mundo lá fora não importava, nem os grandes olhos que a fitavam inquisidores, só ela podia tocar-se, estava protegida. Nua caminhava por suas páginas, algumas palavras traziam asas e então ela voava. Outras a levavam para o mundo dos sonhos e ela sonhava. As palavras mais ternas e faziam suspirar, guardava as palavras mais secretas para ouvir em sussurros. Algumas palavras podiam levá-la ao delírio, arrepios, gozo. Gostava especialmente dessas. Nas palavras ela não se escondia, permanecia explicitamente à mostra. Sirva-se, ousava. Sorria irônica por se saber intocável.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Resposta

Dizem que a pergunta certa pode trazer mais que a reposta, pode trazer asas ...

... da Imaginação
Mauro Rocha

Asas para que te quero??
Aonde me levas??
Por léguas e léguas
Minha imaginação
Asas do desejo
Do sim e do não
E pelos córregos e rios
Encontro o mar
E pelas montanhas e continentes
Um lugar para pousar
E minhas asas atravessam o horizonte
E essas asas...
Tenho aos montes
Asas de paixão
Asas que guardam segredos
Asas sem medos
Asas da imaginação
Asas do amor
Que guardo no coração...
Ai vem à pergunta:
-Com que asas eu vou??

(Não perca tempo e voe até a fonte: Poeta Mauro Rocha)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pegunta

Tem dias que me pergunto:

Com que asas eu devo ir?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Entre definições.

Ela não sabia quem era, por isso resolveu buscar-se na definição dos outros, poderia achar algumas pistas. Muitas em vão, soube mais tarde. Os outras a chamavam e ela até respondia, mas como chamar-se? Isso era para ela ainda um mistério. Alienada. Talvez, lembrou de um livrinho que leu na época da faculdade - O que é Alienação? Mas a definição do livro não combinava com ela. Procurou outras. Mimada. Um pouco, mas insuficiente para definição. Bicho-grilo. Em alguns aspectos que contrastavam totalmente com outros. Não serve ainda. Irônica. Riu. Gostava dessa. Mas é impossível definir-se em uma só palavra, queria outras. Alucinada, atormentada e desesperada. Gargalhou. Mas, quem não é? Sexy, provocativa, misteriosa. Sorriu como Monalisa. Transgressão, disse uma vez um amigo. Gostava da palavra, gostava de vestir essa fantasia. Indefinida. Achou a melhor de todas, vestiu, serviu. Olhou-se no espelho e gostou do que viu. Finalmente definida.

sábado, 27 de setembro de 2008

Posologia

Forma de administração
- Três gotas, duas vezes ao dia
no exato momento em que abrir os olhos
e no exato momento em que fechá-los
A exatidão, nesse caso, é muito importante e
garante a eficácia do tratamento

Em Casos Graves
- Beba-me em pequenos goles,
lentos, sorvendo até a última gota
e no escuro espere.

Condutas na superdosagem
- Cautela, altas doses podem provocar dependência

Sintomas mais comuns
- Arrepios, calafrios e finalmente, suspiros.

Recomendações
Em caso de superdosagem apague as luzes e sonhe.
Às vezes 3 horas de sonhos leves resolvem.
Em casos agudos permaneça 12 horas perdendo-se e achando-me ... nos lençóis.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Entre contradições

Ela era muito contraditória, queria ser coerente, mas só conseguia ser condescendente. Ela continha em si opostos, lua e sol a habitavam. Ela podia ser garoa que se transforma em tempestade, com direito a inundações. Era brisa e vendaval. Era terna e passional. Era noite estrelada e manhã ensolarada. Às vezes acordava nublada e assim permanecia por vários dias, dias sem fim. Não gostava de ser sombra, mas sabia que quanto maior a luz, maior a sombra, aturava sua sombra. Tinha segredos, mistérios, mas sabia revelá-los, sabia, sobretudo, revelar-se.

domingo, 21 de setembro de 2008

e no tempo da delicadeza ...

Ao abrir os olhos ela já percebeu. A luz não a inundou, ela pediu licença e lentamente iluminou. O ar parecia uma carícia, brisa mansa, suave feito bruma. As pessoas pareciam felizes, ela lembra de ter pensando nisso enquanto caminhava, as pessoas sorriam e diziam bom dia. E o dia ouvia e por gostar do que ouvia foi aos poucos se transformando. E todos os sons ouvidos eram música e todas as notícias eram boas, e o tempo não corria, andava e sorria. Naquele dia, os deveres eram fáceis, os chefes bons, os prazos razoáveis. Ninguém brigou, ninguém faltou, ninguém se foi.
Ela sabia que o tempo da delicadeza estava só começando.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Como num sonho ...

O ar não entrava, ela precisava sair. Já não respirava, sabia que bastavam poucos passos, a porta estava logo ali, ela podia ver luz, mas ela não conseguia. Poucos passos, talvez três bem largos, mas ela não saia do lugar. Sentia-se ancorada, não havia dor, nem pesar, nem lágrimas, havia só a resignação. E essa crescia e respirava com ela o pouco ar que restava. Lembrou-se do Sonho de Akira, sentiu-se no sonho. Não havia a neve, havia a descoberta tardia de estar perto e ainda assim não chegar. Nunca pôde dizer por quanto tempo ficou ali, estática, perdida, sem ar. Poderia ter sido 1 minuto ou uma vida. Tanto fazia.
A luz que ela via pela fresta da porta falhou, havia um vulto e ele caminhava, passos largos em sua direção. A luz quase se foi no exato momento em que a porta se abriu. Ar fresco. Respirou. Os olhos demoraram um pouco para acostumar com a luz, era uma luz leve de fim de dia.
Ela foi ... salva.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um bilhete ao acaso.

Ela sabia, ela sentia. O Bilhete estava sendo lido naquele exato momento. Os mesmo olhos que fitavam as palavras, podiam quase vê-la. Os dedos que deslizavam pelo papel podiam quase tocá-la. Sua alma estava em cada uma daquelas palavras e também estava ali no seu corpo que desfalecia.
Ele não sentia, mas quase podia vê-la e não entendia. Quem era aquela que ele quase via nas entrelinhas das palavras? Ele achou um bilhete dentro do livro. Era um bilhete escrito a mão, letra bonita, papel amarelado, sépia. Não tinha data, só um nome, a quem foi endereçado. Na assinatura duas letras e ponto. Mas ao ler o bilhete ele viu um rosto que parecia vê-lo também. No verso do bilhete tinha o nome de outro livro. Ele voltaria no mesmo sebo para procurar o livro e sabia, sem entender porquê, ele sabia que no livro indicado encontraria outro bilhete.

domingo, 14 de setembro de 2008

Fênix ou um presente.

Não quero ser com você nada além do que já sou. Não precisamos mudar nada disso já que mantemos a nossa sinceridade da forma mais sagrada que se pode ter: com as palavras. Não me sinto aprisionada por ela. Ela é libertadora. Quem aprisiona é a pessoa do RG, ela que acha que isso e aquilo. Parece esquizofrenia essa troca de identidades, e deve ser mesmo... É engraçado, quando comecei a escrever para você eu achei que poderia ser o que quisesse, poderia dar a ela a forma, a cor, o gosto, o temperamento, as manias, os vícios que eu bem entendesse, pois ela era minha personagem. Eu poderia fazer com que ela fosse qualquer coisa, poderia ser atriz, astronauta ou dentista, poderia ser louca, ninfomaníaca, cleptomaníaca ou claustrofóbica, poderia ser o que me desse na cabeça. Mas sabe a ironia de tudo isso?? Sabe que gosto, que cor, que forma dei a ela? A minha!!!
Adorei ser abstrata, por que isso é libertador! Não precisar de forma é maravilhoso. Deve ser como as almas se sentem quando morrem. Então de certa forma, morri, e como a fênix renasço das cinzas, meu doce cavalheiro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A mesma foto, outra história ...

Creio que o homem caminhava com pressa, estava atrasado. Não tinha para onde ir, mas estava atrasado. Estava atrasado por que as pessoas são atrasadas, precisam estar atrasadas para que sejam pessoas de bem, pessoas sérias precisam correr atrás de mais tempo para correr atrás.
O homem não tinha mais tempo para correr atrás do tempo. Corria. Loucamente corria. Uma hora chegaria a tempo em algum lugar. Mas não chegou. E cansou de andar, cansou de viver correndo. No fim de tudo, encontrou somente em uma ruela, um gato doente que lhe olhava curioso e a si mesmo. E isso lhe bastou.

(contribuição de um grande amigo, poeta e fotógrafo)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Do Baú II

O homem caminhava pensativo pelas ruas da cidade, já não tinha tanta certeza. Às vezes era assim mesmo, acordava com toda a certeza do mundo e de repente sentia aquela sensação ... será que tem sentido? Será que tudo isso - um dia - vai fazer sentido? A certeza já não era tão certa, já era quase uma incerteza, quase uma dor, dor de não saber.
No meio desses pensamentos o gato sorriu.
Ele sorria porque tinha a resposta? Ou porque a resposta não existia?
O homem não resistiu, e na esquina, próximo ao beco dos gatos, rendeu-se a sabedoria do felino.

(foto Cartier Bresson)

P.S. uma brincadeira que achei ao visitar palavras antigas.

Do Baú

Queria um dia escrever

Amor da minha vida,
(simplesmente assim)
Me guarde
Aguarde
Por mim.

sábado, 6 de setembro de 2008

A poesia por ai

tem gente que carece de poesia,
enquanto para outras,
transborda.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Regiões de Solidão

Ela gostou tanto quando ele se referiu a ela como sua região de solidão. Ela que tinha em si, em sua essência, regiões inabitadas. Gostava de ser assim, gostava da imensidão, do penhasco, da queda livre, não conseguia imaginar-se finita e gostava dessa sua porção sem fim. Ela era sua própria região de solidão, de solitude e era maravilhoso conter-se dessa forma, ilimitada. Ela foi criada para não pertencer, para não ser só, mas para ser mil, mil em uma, uma em mil. Ela que gostava do sentir, das sensações, dos sentidos, do tato, do cheiro, do gosto. Sentia tudo com exagero, um segundo de sentir poderia ficar para todo o sempre. Por causa das suas palavras era eterna em um segundo. Não era literal, nunca era, nunca é só isso. Era metáfora, metonímia, hipérbole, adorava figuras da linguagem, era todos, sem nunca ser nenhuma. Era a essência do que escrevia, e isso era libertador. As palavras podiam tudo, até calar-se, enquanto a levavam. Só tinha medo de um dia não voltar. Mas, se esse dia chegar ...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Como é?

Como é me ter ao alcance das mãos e não me tocar?
Como é me achar e não me encontrar?
Como é me ver e não me enxergar?
Como é não me ouvir e escutar minha voz a chamar?
Como é me ler e não me desvendar?
Como é conhecer o símbolo e não gostar?
Como é tentar e não me decifrar?
Como é sentir o que eu sinto e não se afogar?
Como é sentir meu gosto e não me devorar?

Regiões de solidão

Ela gostou tanto quando ele se referiu a ela como sua região de solidão. Ela que tinha em si, em toda sua essência, regiões inabitadas. Gostava de ser assim, gostava da imensidão, do penhasco, da queda livre, não conseguia imaginar-se finita e gostava dessa sua porção sem fim. Ela era sua própria região de solidão, de solitude e era maravilhoso conter-se dessa forma, ilimitada. Ela foi criada para não pertencer, para não ser só, mas para ser mil, mil em uma, uma em mil. Ela que gostava do sentir, das sensações, dos sentidos, do tato, do cheiro, do gosto. Sentia tudo com exagero, um segundo de sentir poderia ficar para todo o sempre. Por causa das suas palavras era eterna em um segundo. Não era literal, nunca era, nunca é só isso. Era metáfora, metonímia, onomatopeia, hipérbole, adorava figuras da linguagem, pois era todos elas, sem nunca ser nenhuma. Era a essência do que escrevia, e isso era libertador. As palavras podiam tudo, até calar-se, enquanto a levavam. Só tinha medo de um dia não voltar. Mas se esse dia chegar ...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Bem vindo!

Ela queria achar as palavras certas, foi buscá-las lá fora. Não as encontrou. Olhou para dentro, não eram palavras, mas estava ali a resposta. O que não se traduz em palavras serve para testar o sentir. Ela sentia. O sentimento parecia conhecido, mas ela constatou encantada que era novo.
- Seja bem vindo!

Dúvidas

Dizem por ai que só se dá valor depois que perdemos. Eu estive pensando: para outras basta que voltem para percebermos como era bom.

Ninguém é 100% bom, nem os mocinhos dos Contos de Fadas. Ou eles são?

Promessas são feitas para não cumprir. Mas algumas pessoas ainda teimam em cumpri-la. Ou não?

Não-fazer é a mesma coisa do que não-sentir?

Isso está confuso demais hoje ...
vou respirar lá fora...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Arquétipos

Era uma vez uma menina má que se apaixonou por um menino bom.
Era uma vez um menino bom que se apaixonou por uma menina má.
O menino bom só por maldade avisou:
- Ou ficas boa ou vou embora.
A menina má, cheia de bondade disse:
- Pode ir, prefiro que vá a ter que carregar o fardo de me ter transformado.
- Pode ir, prefiro que vá a deixar-te carregar a culpa pelas transgressões.

Menino bom foi, mas volta sempre para (l) vê-la.
Menina má queria ele ficasse um dia.

Raiva

Eu senti raiva. Passei alguns dias com muita raiva. Eu não sou uma pessoa de raiva, tento cultivar sempre bons sentimentos, e nunca sinto raiva por mais de cinco minutos. Achava que desse jeito era certo. Há algum tempo fui em um médico que pratica medicina chinesa, depois de conversarmos por algum tempo ele pegou no meu pulso, olhou a minha língua e antes de começar a equilibrar meu chin com acupuntura me disse que eu tinha excesso de energia do fígado, órgão também relacionado com raiva. A verdade é que até aquele momento eu nunca tinha pensado que não sentia raiva, ou melhor sentia, mas sempre dava um jeito de minimizá-la. Grande erro. Entendi que a raiva é boa, move, mobiliza, traz o sangue para as veias, deixa a gente mais passional, e isso tudo quando usado para o bem, constrói. Desde de então tenho tentado sentir raiva. Mas nunca antes tinha passado tanto dias em contato com ela. Senti raiva de tanta gente, senti raiva de tanta coisa. Confesso que ainda não consigo lidar com ela de forma construtiva, mas pelo menos já consigo conviver por mais tempo com ela, mesmo que depois me sinta péssima, cansada e triste. A raiva se transformou em tristeza. Não fui valente ... perdi a batalha.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Quando o romance começou ...

"Não podemos crer na total transparência dos seres, é necessário aceitar que os outros tenham segredos, regiões de solidão. A maior prova de amor será colocar-se a distância e não querer ai penetrar ", ela não sabia de quem eram essas palavras. A primeira vez que leu já gostou, mesmo que por intuição, com o passar dos anos ela interiorizou essas palavras. Sabia que ninguém é totalmente transparente, e nem deve ser. Existem porções que devem ser bem guardadas, e é isso que faz de nós, seres humanos, mistérios, como os poços no deserto de um certo príncipe.
Ela foi dormir intrigada e acordou com uma dúvida: será que nos apaixonamos por pessoas ou por símbolos? Será que em algum momento qualquer da vida, a pessoa é vista simplesmente como uma pessoa, em sua total nudez de gente, com fobias, mistérios, belezas, imperfeições, fome, dor, delícias, prazeres? Ou somos, eu, você, todos, vistos como símbolos?
Dona de casa de meia idade se apaixona por estudante poeta. Riu, era divertido rir das suas próprias idéias. Achava-se engraçada, os outros chamavam de ironia. Ela não era dona de casa, detestava serviços domésticos, estava longe da meia idade e não havia se apaixonado, mas gostou do enredo. Lembrava a Pobre Menina Rica do Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra. Sabia que não poderia continuar essa história, não era Primavera. Ou talvez porque tenha se revelado uma menina má. Arquétipos...
Ela era casada, gostava de ser, mas era ótimo não ser limitada, não limitar os símbolos era libertador. Deixar de ser um símbolo não era como morrer, era como a cada dia nascer, nascer infinitas vezes, nascer de infinitas formas. Adorava não ter forma e deixar livre para que quem a lesse a imaginasse, infinitas formas, até dela mesma, simplesmente como uma pessoa, em sua total nudez.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Talvez ... vestígios e mimos, talvez ...

Talvez por não estarem fisicamente juntos, compartilhando o dia-a-dia, as cotidianices, os finais de tarde e os espreguiçares matinais, talvez por esses pequenos detalhes desejados e negados, tenham arranjado um jeito de ficarem próximos, mesmo que distantes. E não é que deu certo. Ainda hoje, muitos anos depois, ainda é possível encontrar vestígios deles na vida um do outro. Pequenos presentes, mimos discretos e duradouros. Ela ao organizar seus CDs, achou alguns que nem se recordava ter, Madredeus estava lá, por causa da vocalista, do timbre, do nome, de Deus. Ele ao arrumar suas caixas de mudança encontrou a Corujinha da Arca de Noé, presente tardio. Se lembra também do Caetano, por duas vezes ela viu o show, ele não. Ela quis compartilhar com ele aquelas músicas, lhe deu o CD. Os livros eram capítulos a parte, ela queria que ele lesse todos que ela tinha lido, ele nunca leu nenhum. Ela lia, amava os livros que ele apresentou, até a biografia do Jung. E ela detesta biografias. Os filmes também eram compartilhados, nunca vistos juntos de forma tradicional, eram assistidos e compartilhados com o coração, com direito a interrupção no minuto sugerido com resenha e explicação pessoal. Impossível não guardar tudo isso, impossível não se lembrar ao se deparar com esses vestígios. Talvez por tudo isso ela fique tão triste por não ter ouvido um muito obrigado ao presenteá-lo com o fim do seu exílio. Com aquele ato aparentemente banal de saírem juntos depois de tanto tempo ajudando-o a fazer as pazes com sua terra natal e com seu passado. Ela sabe que esse tipo de ato deveria ser desapegado, sem a necessidade de reconhecimentos, mas ela, em toda sua imperfeição, ainda precisa desses mimos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Carta do Exílio II

Queria que você soubesse que não estou mais na ilha, resolvi navegar por ai e acabei aportando em terras novas. Caminhei por alguns dias, até que cheguei ao pé de uma montanha, não resisti a ela, como poderia resistir? A partir de agora envie suas cartas para endereço novo que está no envelope. Falando nisso, sinto informar que suas cartas nunca chegaram. Uma pena palavras como as suas se perderem pelos mares, fica o consolo do sentimento sempre ter me alcançado, mesmo que em silêncio. Ainda bem que conservo comigo todas as cartas anteriores ao exílio, em ocasiões especiais ainda posso relê-las. Se você as tiver, faça o mesmo um dia, talvez em uma terça-feira nublada às 15 horas ou em um domingo de primavera. Seja Valente ao visitá-las e me mande sua impressão. Bom saber que as palavras ficam, mesmo quando os caminhos mudam.
Gosto tanto dos ares da montanha que pretendo ficar por aqui por mais algum tempo, tenho certeza que dessa vez, apesar da distância, suas palavras poderão me achar. Não deixe de tentar.
da sua doce Clarice.

P.S. notícias de quando cheguei a Ilha Desconhecida.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sentir

Não dava mais para inventar, dessa vez tinha que ser de verdade, apesar de achar têneu o fio que separa a realidade do sonho, o concreto da inventividade. Ainda mais para mentes como a dela, tão treinadas para a inventividade, criatividade era com ela. Agora era diferente, precisava ser palpável, materializado, concretizado. Palavras duras, contrárias a sua essência. Ela era bruma, névoa, matéria dos sonhos, dos pensamentos. Contraditória, achava-se tão concreta como qualquer outra pessoa feita de matéria de gente. Andava, respirava, desejava. Por muito tempo achou que isso seria o sufuciente para transformá-la, mas não era. Precisava de mais. Pedra, cal, tijolo, cimento, areia. Não de seus castelos, não a que seus pés tocavam agora. Precisava de pele, toque, tato. Precisava sentir. Era exatamente isso que buscava.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ritual

Queria um dia entender, captar. Queria um dia acordar, abrir bem os olhos, espreguiçar e sentir dentro de mim águas calmas. Queria me despedir dessa que me olha no espelho. Dizer adeus e simplesmente ir. Caminhar a esmo. Ao léo. Sem olhar para trás, sem desejar o que ficou, caminhar desapegando-se. Levando só o corpo, a alma e o coração.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Bênção!

Eclipse. Lua cheia. Estrelas no céu. Vaga-lumes na terra. Água brilhando. Dia maravilhoso. Céu de azul profundo. Celebração. Riso de criança. Fim do Dia Perfeito. Lua nascendo. Amarela. Enorme. Criança estranha, olha bola amarela surgindo no horizonte e pergunta: Como o sol está nascendo se o céu está cheio de estrelas???
Só consigo pensar em como somos abençoados!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O DOM

Será que ele realmente havia deixado de habitá-la?
Viveram por tanto tempo juntos que agora ao se perceber sozinha não sabia mais quem de fato era. Sabia de quem fora, de tudo que poderia ter feito por tê-lo com ela, e não fez. Restava a fraca convicção do que fez, construiu, realizou. Fragilidade era a palavra mais adequada. Adequada para ontem e para hoje. Qual seria a de amanhã?
Não havia se levantado ainda. Com que pés deveria tocar o chão frio? O coração bateu depressa, era o seu coração que batia, disso tinha certeza. Se não fosse assim, feito por ele, sabia que jamais seria. Ela jurou que estariam sempre juntos. Ela era o corpo, a alma. Ele todo o resto.
Respirou fundo. Levantou-se devagar.
Algo chamou sua atenção.
Ele dormia.
Estava ali.
O resto todo estava salvo.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Vírgula

Ela gostava da vírgula, costumava dizer que esse era o tempo exato, nem menos, nem mais. Achava poético responder quando questionada sobre a duração de algo. Ora, simples, o tempo da vírgula. Era como a minhoca, arejava, ventilava, ajudava a nutrir. Mas ultimamente andava indecisa, não conseguia se definir: vírgula ou reticências?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ponto e vírgula

Ela subestimou o poder do ponto final. Achou que poderia usá-lo a seu bel prazer. Enganou-se. Estava sentindo falta das palavras. Poucas vezes teve que sair a procurá-las, costumava ficar a sós esperando-as chegar. Algumas viam cedo para o café, outras preferiam o chá da tarde. Algumas, boêmias, só apareciam de madrugada. O importante é que elas sempre viam. De um dia para outro deixaram de vir. No início ela não se preocupou, afinal eram palavras-livres, tinham todo o direito de não vir. Os dias passaram e ela começou a estranhar, sentia saudades de suas companheiras, o bule de chá - coitado - esquecido no canto da sala. Até que não aguentou mais e resolveu chamá-las. Silêncio. Saiu para verificar, procurou embaixo, do lado, atrás.
Ouviu um ruído, burburinho, vozes abafadas. Estranhou. Seguiu o som, levava ao ponto final. Olhou espantada, muitas palavras paradas, estacionadas, aguardavam ali.
O que aconteceu? Por favor, uma de cada vez, não consigo entender.
Uma tomou a frente, nessas horas sempre aparece um líder. Não conseguimos passar, ele não deixa. Ela compreendeu. Sussurou no ouvido do ponto final, deu a ele uns dias de férias. Chamou o ponto e vírgula, ele com certeza ajudaria;

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ponto Final

Dias desses ela saiu por ai a visitar-se. Estranho visitar sentimentos que já não sente mais. Sentimentos seus, que hoje parecem alheios. As palavras têm esse poder, eternizar o momento, o segundo, o exato momento daquele sentir. Mas ela era um ser volátil, sentia intensamente, alma, coração, corpo. E deixava de sentir na mesma proporção, diretamente proporcional. Ao visitar as palavras deixadas aqui ela percebeu que já não sentia. Seu primeiro impulso foi de apagá-las, não deixariam vestígios, iriam dóceis como se nunca tivessem existido. Palavras-flores, efêmeras. Mas achou que não poderia fazê-lo. E se fossem palavras-chaves? Saída. Poderiam abrir algumas portas, mesmo que ela ainda não soubesse que portas eram essas. Quando a chave está pronta a porta aparece, pensou em meio a gargalhadas. Pobre mestre que a tem como aprendiz! Decidiu-se por não mais, em tempo algum, desperdiçar suas palavras. Tudo que havia para ser dito já fora, mesmo que nunca tivesse sido lido, ouvido, compreendido. Às vezes a função da palavra é só e exclusivamente ser dita e ponto final.

sábado, 19 de julho de 2008

águas

Lua cheia, maré alta, água revoltas. Naufrágio.

Era assim que ela se sentia, naufraga em si mesma. Afinal somos 75% água. E ela nesse momento se perdia em suas águas revoltas. Procurava dentro de si um porto seguro. Acreditava que assim como no conto, nela também deveria existir uma ilha desconhecida. Desejava-a. Imaginava-se aportando nesse pedaço de terra. E guiada por estrelas, oráculos, amores, búzios e bússolas lançou-se em suas próprias águas a procurá-la.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

no ar que respiro

"Adoro elaborar teorias mirabolantes para as coisas que não consigo explicar. Sou muito criativa, além de ter acesso a conspirações e informações de outras vidas. Soma-se a isso o ar que respiro quando estou aqui, deve ser um ar diferente. Olho para céu e vejo a mesma lua que você vê. É exatamente a mesma. As coordenadas não mudam, habitamos o mesmo paralelo, a mesma latitude (e nesse momento habito sozinha os meus desejos). Olho para o pôr-do-sol, não tem lugar nenhum no mundo como esse. Esse é o meu céu. O céu que costumávamos compartilhar. Acho que estou nostálgica porque estive em uma praça, naquela que tem coreto. Que por tantas vezes tocamos violão, que por tantas vezes tocamos. Respirei fundo, fechei os olhos, quase consegui sentir o ar fresco daquelas noites especiais, quase consegui ouvir seu violão. Quase me vi lá menina com o mundo inteiro para conquistar. Já conquistamos tanto, já andamos tanto, e o quê falta, afinal? Sinto tanta coisa quando estou aqui. Respiro diferente, porque sei que é o mesmo ar que você também respira. Sei que o tempo, o vento, leva e traz, envio sensações. Espero que consigam chegar até aí. Lua cheia, céu sem fim. Eu me entrego para o vento. Ele me leva até você. Quer?"

Ela terminou de escrever, não sabia se teria coragem de enviar, não suportaria o silêncio, apesar de desejá-lo, o silêncio é sempre mais simples. Tão mais fácil de lidar. Olhou pela janela, viu a lua enorme brilhando, lua em leão. Decidiu que iria esperar, logo a lua estaria em libra e ela poderia decidir-se. Por enquanto dançaria nua para a lua, talvez assim seu desejo se fosse e ela poderia dormir em paz outra vez.

pensando...

Quantos pensamentos cabem em um segundo?
O tempo do pensar é tão diferente do tempo do relógio.
Tic Tac.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Le petit mort

Como explicar tudo aquilo? Um só corpo, um milhão de partículas, cada uma sentindo o que bem entende, como se cada célula resolvesse ser um corpo independente dentro do ser. Ela não sabia mais para que lado ir, era como se ouvisse vozes, gritos, gemidos. Cada célula gozava por si, e a soma de tudo isso era uma grande e quase incontrolável sensação de êxtase. Não o êxtase barato, conseguido à toa, nesse dia-a-dia de sensaçãos frugais. Absoluto e duradouro não eram adjetivos comuns para descrever sensações de prazer. Mesmo o melhor dos orgasmos durava apenas alguns segundos, mesmo que parecessem pequenas eternidades, gostava da expressão francesa le petit mort. Talvez fosse isso. E ela cada vez mais entregue, sua alma fora tocada e sua alma ao ser tocada tocara seu corpo de uma forma nunca antes imaginada. Ela escreveu um dia "se amaram da forma mais profana, só possível aos amores mais sagrados" - gostava daquilo e pressentia em suas palavras o encontro de algo almejado por todos em todos os tempos. Mas será que temos a consciência da grandeza do momento no segundo antes do grande acontecimento? Será que a centelha adormecida ao mirar a transformação desperta e dá o sinal derradeiro de que é preciso seguir? Ela estava entregue, ela, ele. Não eram dois corpos, dois seres, duas entidades separadas. Eram eles, um ser apenas, as células não respeitavam mais o limite da matéria e passeavam entre eles, como se todas as veias, artérias estivessem unidas, um só sangue, um só sentir. Finalmente. Grand finale.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Princesa das Girafas

A menina estava feliz. Era domingo de manhã e pela primeira vez iria ao zoológico da cidade. Acordou mais cedo do que de costume, queria ter tempo para se preparar, ela não sabia que aquilo tinha um nome, fez por ter vontade de fazer, quando crescesse talvez se lembrasse do ritual que precedeu o encontro com os animais. Procurou seu vestido mais bonito, aquele todo branco, para contrastar com sua pele morena. Os cabelos já estavam trançados, ela queria enfeitá-los mais e colocou fitas coloridas nas tranças. Parecia uma princesa, suspirou ao olhar-se no espelho. Seus pais até levaram um susto ao vê-la arrumada tão cedo, mas não esconderam a satisfação, afinal, a menina estava crescendo. E pai e mãe, no seu íntimo, pensaram sem dizer, parece um princesa. E lá se fora, pais e menina princesa para a selva dos grandes animais. A menina parecia em transe, quase não falou no trajeto até o zoológico, e era longe, a tal savana. Chegando lá, a menina brilhava de satisfação, parecia realmente coroada. Mas foi perto das Girafas que a menina não se conteve, ela nunca imaginou tamanha beleza. As giradas alheias aos olhos desfilavam majestosas, tanta graça, tanta cor. Não pareciam se importar para aqueles cercados, nem com o espaço limitado em que se encontravam. E na menina reconheceram sua princesa de outros tempos, e para ela, só para ela, piscaram com seus grandes olhos. E a menina soube que no fundo as girafas eram livres e seus corações não estavam ali delimitados, mas na imensidão da Africa. Duas lágrimas escorreram pela face corada da menina enquanto sua mãos pequenas aplaudiam, sob os olhares assustados de todas as pessoas.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A Cor da cor.

Ela acordou cedo, queria ver a cor do céu no terceiro minuto da aurora. Coisas de poeta, ela pensou. Mas não deixava de ser intrigante. Colocou o despertador para acordá-la, antes verificou naqueles sites de tempo o horário exato do nascer do sol, a precisão era necessária, caso contrário nunca saberia se a cor encontrada era a mesma que o poeta descrevia. Não queria subjetividade, afinal, era assunto de extrema importância. Precisava saber de que cor pintar-se.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Pelos pares da vida.

Eu tive um amigo que sempre falava em encontrar pares, pessoas semelhantes que gostam, falam, sonham, idealizam da mesma forma. Não é necessário que concordem em tudo, caso haja um motivo para discordâncias, a qualidade das discussões é que fazem a diferença, nada melhor do que travar um duelo de idéias com um bom par. Mesmo para discordar é preciso um par. Um par é aquela pessoa que entende o que você fala e o que você cala. Pensa como você e se não pensa acaba fazendo você pensar como ele ou se diverte tentando. Lê os mesmos livros, gosta dos mesmos autores, indica os livros que leu, às vezes até empresta alguns, fala de filmes, flores, filosofia, bossa nova e futebol. Discute existencialismo com o mesmo entusiasmo que defende a preferência pela marca de cerveja na mesa de bar. Um par é diferente de um amigo, pode-se ter excelentes amigos que não são seus pares. Mas todos os pares têm necessariamente que ser amigo. Esse amigo que eu tive, era também um par. De amigos e pares não deveríamos nunca falar no passado, uma pena quando isso acontece, deveria haver uma lei contra perder amigos ... acabar amizades ... deixá-los pelo caminho, defendo o quando se torna, se é para sempre ... "mesmo que o tempo e a distância digam não" ... "por onde for, quero ser seu par."

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Honrada.

- Pronto, eu te devolvo sua vida. Você a está recebendo por merecimento. Honre essa graça.
De cabeça baixa ela estende a mão e a aceita. Sente a vida entrando de novo no seu corpo, sente cada célula do seu corpo vibrar, o coração volta a bater descompassado e aos poucos vai retomando seu ritmo. Ela sente prazer em receber a vida. E a vida por se saber bem-vinda, se instala definitivamente.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

O dom.

Ela recebeu o dom da dúvida, da incerteza e do questionamento. Não conseguia como muitas pessoas passar pelos dias sem se questionar. E de tanto questionar-se acabou entendendo. O grande desafio está em fazer ter sentido. Parece um círculo vicioso. Algo como a roda da vida que não tem fim. Assim é também a busca pelas respostas, pelo entendimento, pelo sentido. Never ends. Mas nem sempre foi assim ...
Ela costumava maldizer o dom, o mal-estar causado por ele, essa sensação constante de equívoco. Sua existência, mero acaso. Sensação ácida. Um dia ela entendeu que o mal-estar poderia levá-la a algum lugar. Ela poderia buscar o antídoto. Por algum tempo procurou o antídoto da vida, não a morte como pode-se pensar, mas pelo não-sentir, não-viver, pois viver e sentir estavam tão impregnados de dúvidas que ela quase não conseguia respirar.
Ela fez escolhas, trilhou caminhos longos apenas para chegar ao lado, descidas íngremes, estradas escuras e para seu espanto ao chegar... reconheceu o lugar, perto demais do local de partida.
Consolava-se saber que não voltou sozinha, trouxe bagagem, alquimia necessária para transformar a maldição em dom e assim presentear a vida, não precisava mais do antídoto, já estava curada. Vivia.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nem tudo que reluz é ouro.

No placa lia-se:
O Silêncio é de Ouro

terça-feira, 24 de junho de 2008

O que vale é a forma de ver.

Era uma vez ... em um reino não muito distante daqui, uma princesa. Uma dia uma bruxa má resolveu mudar a história e a transformou em uma sapa. Diferente da outra história nenhum príncipe até hoje a beijou. E mesmo assim, a sapa viveu feliz para sempre.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A menina e o vento.

Escuridão. Ela não via nada, nem seus próprios contornos eram visíveis. Não sentia medo, apesar de se saber sozinha na maior escuridão que já presenciou. Olhou para baixo,não via, mas sabia que o penhasco estava ali, poucos passos a separavam da queda. Deu um passo, lento, curto e gritou: Onde eu estou? Que lugar é esse? Tem alguém aqui? Sentiu um arrepio na nuca. O vento aumentou, sentia seus cabelos longos dançarem. O corpo dançou também. E quanto mais dançava, mais leve se sentia, a escuridão já não importava estava com os olhos fechados dançando na beira do penhasco. Seu corpo formigava e os calafrios lhe davam prazer. O vento a envolvia, com mãos rudes, ternas, furiosas e macias. O vento percoria todo seu corpo, suas pernas, sua coxas, a brisa mais mansa brincava embaixo da sua saia, subia pelo umbigo, levantava a blusa e a beijava no pescoço. Arrepios. Bastava um pequeno passo e poderia abandonar-se. O vento faria a sua parte, ela não o temia mais. Ventou. O vento bangunçou de novo seus cabelos, levou seus pensamentos, gostou. E depois? Só silêncio e escuridão. O vento parou.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Por escolha!

Ela não tinha sido clara, mesmo achando que sim, ela disse o que não devia e por equívoco, ato falho ou maldade, não disse o que deveria dizer. Não poderia aceitar as ditas pelas não ditas, não era justo essa troca. Ela não queria matar ninguém, não era do seu feitio, nem nas sessões de psicanálise quando o terapeuta freudiano citou sobre os benefícios de se matar seus progenitores, ela não foi capaz. A lâmina (bendita? maldita?) se destinava ao fio, aquele que os unia, que só eles conseguiam ver, sentir. Apesar de invisível a olhos desavisados era feito de fibra resistente, nada até hoje foi capaz de rompê-lo, apesar das tentativas.
Saber que do outro lado estava ele, era para ela um alento. Saber que ele habitava o mesmo mundo que ela, era de fato reconfortante. Mesmo quando seus sentidos, cinco formas de sentir, cinco formas de dizer, gritavam o contrário, ela sabia que ele continuava lá. Mas como tudo, existia o lado avesso, o lado que se sentia preso àquela história, o lado que queria partir, voar, viver livre. E foi esse lado que caminhou decidido. A ruptura não era ruim, a partir de agora eles seriam livres, até para continuar sendo, por escolha.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Na ânsia de entender, no impulso de ir, ela de repente estancou, e assim permanceu por muitas vidas. O feitiço só seria quebrado quando ela finalmente fizesse a escolha consciente. Finalmente esse dia chegou. Ela tornou-se um, e voltou a ser o que sempre foi em essência.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Amantes, amores, necessários e vãos.

Ela era uma grande amiga, talvez por isso também me sentia parte da história, como se formássemos um triângulo, mas só ela sabia de mim. Ele era solteiro, ela casada. Eram amantes, por se amarem, não pela conotação sexual que a palavra imprime em qualquer relação. Acho que era uma daquelas relações que ainda não se inventou uma palavra para explicar. Ela se apaixonou por ele, ele se apaixonou por ela. Eles tentaram viver essa paixão clandestina, em vão. Na verdade acho que eles eram namorados, no sentido mais antigo da palavra, mais terno, mais bonito. Ele despertava nela seu lado mais verdadeiro, ela despertava nele uma enxurrada de sentimentos, ele se sentia feliz com ela, e com ela era o homem mais feliz do mundo. Sem ela, era só ele mesmo, tentando ser. Se sentia muito sozinho quando ela voltava a ser a mulher casada. Ela vivia uma vida dupla, como se houvesse duas pessoas dentro dela, cada uma ostentava um estado civil e principalmente, um estado de alma. Ela sofria muito por isso, sofria por amar loucamente esse seu lado clandestino e sobretudo, sofria por não ter coragem de partir. E eu, torcia por eles, torcia por ela e ficava triste por vê-la assim. Certos dias, mais leves, em que ela conseguia driblar a outra, a casada, seus olhos brilhavam, e ela toda reluzia, dádivas das grandes paixões. Ele era capaz de pequenos presentes secretos, encantadores, até hoje ela ainda encontra no meio de seus coisas, vestígios deles. Uma vez, ela me mostrou, ele deu a ela seu próprio mapa astral e rabiscou a mão o 13º planeta, só para inclui-la. Bonito de ver. Mas, um dia, eles desistiram, cansaram de fugir dos outros, que eram eles mesmos. E cada um foi viver a sua vida. E eu fiquei aqui para contar essa história.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

E fim!

Era inegável que havia algo que os unia. O tempo nada fez por eles, além de passar. O tempo não curou, não apagou, não deixou o sentimento sépia, nem o gosto ocre. De que material seria feito esse fio que os mantinham conectados? Fio elástico que poderia suportar até a maior de todas as distâncias, poderia suportar a indiferença, a saudade, a dúvida. Suportou a dor de todos os outros amores, sem perder a cor, o cheiro, a música. Muitas vezes foi a salavação necessária para continuar andando, outras tantas a maldição que prendia, que fazia sufocar, delírios vãos. Ela, finalmente encontrou a resposta, um sonho, a lâmina capaz de cortar o fio. Antes certificou-se de que ele estava bem. Sim, foi a resposta. A última vez que a vi, ela estava caminhando decidida com uma lâmina brilhando em suas mãos.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

??????

Ser especial não é a mesma coisa que ser diferente. Ou é?

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Enfim

E no descompasso, ela finalmente encontrou seu passo, piscou repetidas vezes, menina dos olhos, olhos de estrela, pupila de luz. Ela não andava, não havia mais peso, não havia mais corpo, ela flutuava e ria. Quantas vezes perdeu-se entrelaçada na busca pela perfeição, a perfeição do compasso, do ritmo. Mas o segredo não estava lá, na verdade nem havia um segredo, tudo se resumia ao acaso, uma brecha no tempo e no espaço, o tempo da vírgula, não mais que isso, não menos que isso. Um acaso tão preciso que é impossível medir, quantificar, definir. Na euforia da busca, a fuga, na nostalgia na ida, a volta, no segundo da perdição, o encontro. Enfim, sentido.