segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sem palavras, Com bocas.

Ele quis dizer alguma coisa, mas sua boca não falou, preferiu procurar a dela, os lábios tocaram-se muito de leve, as bocas entreabertas, respiraram o mesmo ar, hálito morno. Ela beijou os dois cantos da boca dele, lugar certeiro, onde morava seu sorriso, o sorriso que ela amava. E, de repente, o sorriso estava lá, na boca que agora ela amava também. Ele puxou seu corpo ainda para mais perto, não havia espaço entre eles, toda e cada parte do seu corpo tocava o dela. Ela sorria maliciosa, queria ele, queria que ele soubesse que ela o queria e com a ponta da sua língua úmida desenhou a boca dele na sua.
Nada disseram.
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domingo, 30 de agosto de 2009

Uma pergunta

Quando se tem que falar alguma coisa é necessário falar para alguém ou valem palavras ao léu??

sábado, 29 de agosto de 2009

- Posso fazer uma pergunta?

- Manda

- Não, deixa prá lá

- Ai faz logo.

- Você tem alguma coisa para me dizer?

- Como assim?
Se eu pudesse escrever anonimamente, sem que ninguém, absolutamente ninguém soubesse de onde saem as palavras, o que exatamente eu diria????

Toca Raul

"Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir..."

(Maluco Beleza - Raul Seixas)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector

De fato em fato ... ao ato(?!)

Ela não sabia, era um fato. Fato 1.
E dessa vez nem sua criatividade borbulhante pode ajudar, primeiro achou que deveria haver uma explicação mágica para tudo aquilo. Fato 2, ela adora dizer que acredita no significado oculto dos acontecimentos, atualmente anda achando que as palavras são mais bonitas do que o tal do significado oculto em si. Analise: Não se sabe mesmo, com certeza, o significado de nada, então ou tudo é oculto ou nada tem um significado.
Fato 3. Demorou elaborando e escrevendo tantas teorias que acabou dizendo sem dizer e falando sem falar. E olha que isso é uma estratégia refinadíssima, demora-se anos para entender o poder de dizer sem falar. O pior de tudo é que as pessoas ouvem o que você não diz e não ouvem o que você diz. Parece confuso e é mesmo, se não fosse confuso ela não precisaria se explicar.
Fato 4. Ela não disse o mais importante. Fato 5. Ela ainda não sabe o quê é, mas sabe que tem algo a dizer que não disse, apesar de ter dito muito.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Gato Subiu no Telhado

- Então me diga o que eu tenho para dizer que eu não disse ainda?
- A verdade.
- Eu fui super e absolutamente verdadeira. O que vc acha que eu não disse?
- Talvez não seja o quê, mas como. Se vc escreveu cheia de bossa.. não foi verdade.
- Como assim??????
- Não sei, mas tenho uma intuição que vc não escreveu despida.
- Eu estava super nua, até passei frio, o que vc acha que eu devo falar que eu não falei?
- Não sei o que você escreveu, mas acho que mexeu tanto com vc que vc se perdeu..como há muito não acontecia. Mexeu com o seu 'poder', com a sua capacidade de controlar esse poder. E vc ficou ali.. simplesmente uma menina.. sem saber o que fazer.
- Porque vc acha isso?
- Por que vc SEMPRE tem alguma coisa pra dizer, mesmo quando não diz. E agora vc simplesmente NÃO tem nada pra dizer!!!! entende????
- Não, não entendo e quero desesperadamente entender, porque essa situação está me tirando o sono, porque eu não entendo
- Qual foi a última vez que vc ficou sem saber o que dizer? REALMENTE sem saber o que dizer.. e não não querendo dizer.

...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Estou encantada ... "a poesia prevalece".

Sina Nossa - Teatro Mágico
...
Teu sagrado e tua besteira
Teu cuidado e tua maneira
De descordar da dor
De descobrir abrigo
Entre tanto amor
Entretanto a dúvida
A música que casou
Um certo surto que não veio

Há uma alma em mim,
Há uma calma que não condiz...
Com a nossa pressa!
Com resto que nos resta
Lamentavelmente eu sou assim...

Um tanto disperso
Às vezes desapareço
Pois depois recomeço
Mas antes me esqueço

Nossa sina é se ensinar...
A sina nossa é...
Nossa sina é se ensinar...
A sina nossa...

Minha senhora diz:
Bons ventos para nós
Para assim sempre
Soprar sobre nós...

http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/1256100/ - lindo!
http://www.youtube.com/watch?v=ZvcKC7a3riI - em libras!

sábado, 22 de agosto de 2009

Dias que não, mas sim, são.

Tem dias, dias valiosos, que amanheço assim, meio sem mim. E na leveza de não ser, posso ser o que bem quiser. E, exatamente nesses dias preciosos, as palavras faltam. Faltam porque não são necessárias, já que tenho o que necessito, espaço. Tento segurar os ponteiros, deixar o dia manso, passando sorrateiro, passando sem passar, porque não se percebe que anda, pois não. - Pois não, meu dia?! - digo, olhando-o com olhos marejados por tê-lo aqui, assim tão pertinho, ao meu lado. E alguma coisa, muito leve, muito minha, tipo sina, mexe dentro ...."mexe qualquer coisa dentro doida, já qualquer coisa doida dentro mexe" Mexe embalando, embalando-me no tempo, que sorrateiro, não.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E no meio das palavras, FIM!

Ultimamente ela andava falando demais. Escreveu e-mails, cartas, bilhetes, manifestos e recados. Gritou, sussurrou, verbalizou. Escreveu mais um pouco, mandou um torpedo, deixou uma mensagem. Falou pelos cotovelos, pelos joelhos e pelos calcanhares. Escreveu um Romance, alguns contos e um Tratado. Usou tinta azul, vermelha e preta, escreveu a máquina, dedilhou no teclado, riscou no muro, pichou viadutos. Falou mais um pouco, ficou quase rouca e falou bem baixinho. Pediu desculpas, cobrou notícias, contou histórias, esmiuçou sentimentos, aumentou uns pontos. Falou muito sério, mentiu um pouco, brincou com verdades, riu de si mesma. Falava pra cá, colocava um ponto final aqui, mas faltava outro ali. E nada de achar que já tinha dito tudo. Ela queria falar mais, eloquência sem fim. E falou mais um pouco ... dias e dias. E no meio de tantas palavras, recebeu um bilhete que dizia assim:

Cala a boca que Eu te amo.

Fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os outros que aqui habitam.

- Meu Deus, como tenho encontrado respostas!
Ela ria de si mesma, se achava e se perdia mil vezes ao dia, mil vezes sabia de tudo, era senhora de seus passos, senhora de si. E em segundos ... se perdia, nem sabia mais onde pisava, nem quem era, nem para onde ia. Mas mesmo assim ia, mesmo quando não sabia. Ontem, entendeu que não era UMA só, não adiantava tentar reduzir-se.
- São muitos os seres que me habitam!
Era isso ... uma pessoa, muitas formas de expressão, por isso, às vezes não se reconhecia. Mas, matar qualquer um deles seria impossível, seria como matar a si mesma. Chegou a escrever uma carta de despedida. Mas como poderia dela mesma se despedir?
Não, não era dela que se despedia, se despedia dos olhos dos outros, dos olhos dos que conheceram as outras.
- Será que deixamos de existir por não haver olhos que nos vejam?
... não, acho que não, pois não somos vistos apenas pelos olhos ... existem os outros sentidos... e são eles que nos salvam, me salvam, a salvam.
Amém!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SOLITUDE

"Não podemos crer na total transparência dos seres, é necessário aceitar que os outros tenham segredos, regiões de SOLITUDE. A maior prova de amor, será colocar-se à distância e não querer ai penetrar"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A arte de dizer algo ... não dizendo.

"Eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer
Eu amo você
Mas não sei o quê
Isso quer dizer...
Eu não sei por que
Eu teimo em dizer
Que amo você
Se eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer..."

Lenha - Zeca Baleiro

Carta

À você,



Deixei para enviar a despedida um dia antes de partir, não só porque nunca é fácil de despedir, mas principalmente porque sabia que você só receberia quando fosse algo consumado. Não sei se você tentaria me impedir ou se ficaria em silêncio, não gosto de nenhuma das alternativas, por isso parto assim mesmo.


não havia outra alternativa, fiquei muito tempo em terra firme, e a solidez da terra e das pessoas me faz mal, preciso navegar, uma ilha a procura de outras ilhas. Você bem sabe que há no mundo muitas ilhas desconhecidas, há mais ainda pessoas porntas para lançar-se ao mar e conhecê-las. E isso é um alto, às ilhas que precisam ser conhecidas para tornarem-se ilhas, realizadas em sua condição, porque dizem que somos o que somos porque há alguém que nos vê. Somos como os átomos que teimam em se comportar diferente quando não há ninguém olhando. O olhar interfere, sempre.


Se eu ficasse, morreria, disso tenho certeza. Ela preferiu que eu partisse e eu também, acrediamos no livre-arbitrio e nas escolhas que fazemos, somos sempre responsáveis, sempre. Até pelas não escolhas. Não ir, não fazer, não dizer, também são escolhas, só que inversas.


Fui feliz, muito feliz enquanto estive em terra. Muito feliz em ter bons amigos, mesmo que

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Coração...

Ela finalmente entendeu, desperdiçava energia, deixava seu coração bater errado. - Meu Deus, como tenho me enganado ultimamente! - Deixei meu coração bater descompassado por ai, era só uma caminhada, e ele, danado, batia como se estivesse em uma maratona. Leu esses dias que as emoções eram como cavalos selvagens. Seu coração galopava. O que poderia fazer para evitar? O coração que ouve seu dono é menos um coração. Coração que se preza tem que ser assim mesmo, desobediente. E deve, sob pena de virar um não-coração, bater forte quando bem entender. Ela sabia, seu coração é um tambor que dita o ritmo. Durante muito tempo fingia que não ouvia, ele lá, batendo, batendo, batendo e ela cá, fingindo, fingindo, fingindo. Até que não foi mais possível, coração tem suas manhas, sabe o que fazer, sobretudo, como fazer. Mas não posso aqui relevar, é segredo. Segredo de coração. Pergunte ai para seu, ele há de saber.

sábado, 1 de agosto de 2009

E no novo ... de novo, o amor!

Ela percebeu alarmada que faltava algo, algo importante, que por algum motivo que não conseguia entender, deixou faltar. Sabia que não tinha sido intencional, substituiu a descrença por um sentimento de praticidade moderno e o pragmatismo veio com o tempo. Ela deixou ele entrar, deu a sua permissão, sorrateiro instalou-se.
O que faltava era o amor, o amor ... como energia ... que mobiliza, que traz ar fresco ... Mas como pode o amor arejar se ela deixou que a descrença fizesse morada? O amor que faltava não era aquele do cotidiano ... todo dia ela faz tudo sempre igual ... esse, ela tinha. Achou que fosse suficiente, até entender que vivia um tempo de enganos. - Meus Deus, como tenho me enganado ultimamente. Lembrou-se de Rubem Bragra "Ultimamente tem se passado muitas anos."
O tempo para ela sempre foi relativo, não se apegava a dias, meses, anos, sempre a vidas. Quantos vidas foram necessárias? Intuia que o tempo dos enganos findava-se. Dera lugar a um novo tempo, brisa fresca, que mobiliza. Era o tempo do amor ... como energia que move. Movia-se de encontro a ele, ao que fazia falta ...