terça-feira, 5 de junho de 2012

Carta que é uma oração.

Querido,

Finalmente fez sol e eu pude caminhar pela redondeza, estou chegando e quanto mais me aproximo, mais feliz me sinto. É bom ter de novo um lar. E sei que meu lar está próximo. Mesmo sabendo que levo meu lar comigo, dentro do peito, me sinto me aproximando dele. Parece estranho, mas faz sentido daqui. Hoje durante a minha caminhada encontrei a ruína de uma antiga igreja, não resisti e acabei entrando, o teto estava destruído, mas restava alguma coisa do altar, me aproximei, havia uma cruz feita de pedras. Achei bonito. E quando percebi estava rezando. Logo eu que há anos não entrava em uma igreja, estava em frente a cruz rezando. Rezei por nós. Pedi para que Deus te devolvesse olhos felizes. Rezei para que fizessemos escolhas certas e que tivessemos fé e sabedoria. Me pareceu certo pedir fé e sabedoria. Você que entende mais de Deus o que acha? Ele vai me atender? E depois, chorei.

Estou chegando. Já escrevo com o novo endereço.

Com todo meu amor.

Clarice



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bilhete

Meu deus como chove por aqui. A jornada fica mais silenciosa com a chuva, não tenho muita vontade de falar, em compensação tenho uma vontade absurda de escrever. Parei um pouco para tomar café e esticar as pernas. E vasculhei minha bolsa para achar um pedacinho de papel e lápis. Você sabe da minha predileção por lápis. Tive um grande insight essa noite, queria contar para você porque é importante. Quando não escrevo me sinto amordaçada, pior do que não falar. Porque escrever é falar duas vezes, é falar com sentimentos, é falar de dentro de mim para dentro de você. Entendeu a dimensão disso?
Fico feliz por sempre ter selos comigo. Desculpe pelo envelope meio amassado e pelo bilhete nesse papelzinho de fundo de bolsa. Era importante dizer.
Uma pena não ter noticias suas, queria tanto saber. quando eu chegar e tiver endereço fixo, tenho certeza que suas cartas chegarão a mim.
love.
C.

sábado, 2 de junho de 2012

Só que não.

Eu poderia ter acordado boazinha, vestido uma roupa confortável e ido caminhar no parque, como tenho feito todo dia # só que não.
Eu poderia ter concordado com você, e dessa forma ter achado que assim é porque é # só que não.
Eu poderia ter ignorado a fúria das palavras que insistiam em chegar até você # só que não.
Eu poderia ter gritado no meio da chuva de ontem e molhado as palavras, essas mesmas que driblaram a promessa não feita # só que não.
Eu poderia ter ficado sem luz, sem wi fi, sem 3g, e principalmente sem vontade # só que não.
Eu poderia ter ido dormir sem inundar em vão palavras que ficarão para sempre aqui # só que não.

Azar o meu # só que não.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Carta no meio da Jornada

Dear,
Eu sei que não prometi que escreveria, não fizemos promessas quanto a isso durante essa viagem maluca. Nem cheguei ainda. A jornada é longa. O caminho nem sempre é fácil, nunca achei que seria, mas muitas vezes me pergunto o que estou fazendo aqui sozinha. Meus olhos estão diferentes, consigo ver coisas lindas, outras nem tanto. Tenho vontade de compartilhar detalhes que só você entenderia, como o cheiro que eu senti no meio do nada ontem,  ou a cor que resolvi pintar as unhas, o trecho do livro que eu queria ler mil vezes em voz alta, detalhes sem importância, mas que eu queria que você soubesse. Tenho sonhado muito, sonhos estranhos, sonhos com bocas sendo beijadas, acordo assustada, refaço o caminho, me desmancho no lençol até entender que é só um sonho ruim. Mas, e a vida, não é?
Essa noite não dormi, tive insônia, vaguei pela casa, dormi já clareando, acordei com o dia cinza e triste. Não poderia refletir melhor o que tenho por dentro. Não, a jornada não está sendo triste, não pense assim.  Mas está sendo extremamente dificil, dolorida, mas, e a vida, não é?
Tenho certeza que um dia de caminhada e uma boa noite de sono irão desfazer essa sensação e a próxima carta será mais feliz. Não vou fazer promessa. Não fizemos promessa quanto a nada nessa viagem maluca.
Fique com meu amor,
C.