segunda-feira, 30 de junho de 2008

O dom.

Ela recebeu o dom da dúvida, da incerteza e do questionamento. Não conseguia como muitas pessoas passar pelos dias sem se questionar. E de tanto questionar-se acabou entendendo. O grande desafio está em fazer ter sentido. Parece um círculo vicioso. Algo como a roda da vida que não tem fim. Assim é também a busca pelas respostas, pelo entendimento, pelo sentido. Never ends. Mas nem sempre foi assim ...
Ela costumava maldizer o dom, o mal-estar causado por ele, essa sensação constante de equívoco. Sua existência, mero acaso. Sensação ácida. Um dia ela entendeu que o mal-estar poderia levá-la a algum lugar. Ela poderia buscar o antídoto. Por algum tempo procurou o antídoto da vida, não a morte como pode-se pensar, mas pelo não-sentir, não-viver, pois viver e sentir estavam tão impregnados de dúvidas que ela quase não conseguia respirar.
Ela fez escolhas, trilhou caminhos longos apenas para chegar ao lado, descidas íngremes, estradas escuras e para seu espanto ao chegar... reconheceu o lugar, perto demais do local de partida.
Consolava-se saber que não voltou sozinha, trouxe bagagem, alquimia necessária para transformar a maldição em dom e assim presentear a vida, não precisava mais do antídoto, já estava curada. Vivia.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nem tudo que reluz é ouro.

No placa lia-se:
O Silêncio é de Ouro

terça-feira, 24 de junho de 2008

O que vale é a forma de ver.

Era uma vez ... em um reino não muito distante daqui, uma princesa. Uma dia uma bruxa má resolveu mudar a história e a transformou em uma sapa. Diferente da outra história nenhum príncipe até hoje a beijou. E mesmo assim, a sapa viveu feliz para sempre.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A menina e o vento.

Escuridão. Ela não via nada, nem seus próprios contornos eram visíveis. Não sentia medo, apesar de se saber sozinha na maior escuridão que já presenciou. Olhou para baixo,não via, mas sabia que o penhasco estava ali, poucos passos a separavam da queda. Deu um passo, lento, curto e gritou: Onde eu estou? Que lugar é esse? Tem alguém aqui? Sentiu um arrepio na nuca. O vento aumentou, sentia seus cabelos longos dançarem. O corpo dançou também. E quanto mais dançava, mais leve se sentia, a escuridão já não importava estava com os olhos fechados dançando na beira do penhasco. Seu corpo formigava e os calafrios lhe davam prazer. O vento a envolvia, com mãos rudes, ternas, furiosas e macias. O vento percoria todo seu corpo, suas pernas, sua coxas, a brisa mais mansa brincava embaixo da sua saia, subia pelo umbigo, levantava a blusa e a beijava no pescoço. Arrepios. Bastava um pequeno passo e poderia abandonar-se. O vento faria a sua parte, ela não o temia mais. Ventou. O vento bangunçou de novo seus cabelos, levou seus pensamentos, gostou. E depois? Só silêncio e escuridão. O vento parou.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Por escolha!

Ela não tinha sido clara, mesmo achando que sim, ela disse o que não devia e por equívoco, ato falho ou maldade, não disse o que deveria dizer. Não poderia aceitar as ditas pelas não ditas, não era justo essa troca. Ela não queria matar ninguém, não era do seu feitio, nem nas sessões de psicanálise quando o terapeuta freudiano citou sobre os benefícios de se matar seus progenitores, ela não foi capaz. A lâmina (bendita? maldita?) se destinava ao fio, aquele que os unia, que só eles conseguiam ver, sentir. Apesar de invisível a olhos desavisados era feito de fibra resistente, nada até hoje foi capaz de rompê-lo, apesar das tentativas.
Saber que do outro lado estava ele, era para ela um alento. Saber que ele habitava o mesmo mundo que ela, era de fato reconfortante. Mesmo quando seus sentidos, cinco formas de sentir, cinco formas de dizer, gritavam o contrário, ela sabia que ele continuava lá. Mas como tudo, existia o lado avesso, o lado que se sentia preso àquela história, o lado que queria partir, voar, viver livre. E foi esse lado que caminhou decidido. A ruptura não era ruim, a partir de agora eles seriam livres, até para continuar sendo, por escolha.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Na ânsia de entender, no impulso de ir, ela de repente estancou, e assim permanceu por muitas vidas. O feitiço só seria quebrado quando ela finalmente fizesse a escolha consciente. Finalmente esse dia chegou. Ela tornou-se um, e voltou a ser o que sempre foi em essência.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Amantes, amores, necessários e vãos.

Ela era uma grande amiga, talvez por isso também me sentia parte da história, como se formássemos um triângulo, mas só ela sabia de mim. Ele era solteiro, ela casada. Eram amantes, por se amarem, não pela conotação sexual que a palavra imprime em qualquer relação. Acho que era uma daquelas relações que ainda não se inventou uma palavra para explicar. Ela se apaixonou por ele, ele se apaixonou por ela. Eles tentaram viver essa paixão clandestina, em vão. Na verdade acho que eles eram namorados, no sentido mais antigo da palavra, mais terno, mais bonito. Ele despertava nela seu lado mais verdadeiro, ela despertava nele uma enxurrada de sentimentos, ele se sentia feliz com ela, e com ela era o homem mais feliz do mundo. Sem ela, era só ele mesmo, tentando ser. Se sentia muito sozinho quando ela voltava a ser a mulher casada. Ela vivia uma vida dupla, como se houvesse duas pessoas dentro dela, cada uma ostentava um estado civil e principalmente, um estado de alma. Ela sofria muito por isso, sofria por amar loucamente esse seu lado clandestino e sobretudo, sofria por não ter coragem de partir. E eu, torcia por eles, torcia por ela e ficava triste por vê-la assim. Certos dias, mais leves, em que ela conseguia driblar a outra, a casada, seus olhos brilhavam, e ela toda reluzia, dádivas das grandes paixões. Ele era capaz de pequenos presentes secretos, encantadores, até hoje ela ainda encontra no meio de seus coisas, vestígios deles. Uma vez, ela me mostrou, ele deu a ela seu próprio mapa astral e rabiscou a mão o 13º planeta, só para inclui-la. Bonito de ver. Mas, um dia, eles desistiram, cansaram de fugir dos outros, que eram eles mesmos. E cada um foi viver a sua vida. E eu fiquei aqui para contar essa história.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

E fim!

Era inegável que havia algo que os unia. O tempo nada fez por eles, além de passar. O tempo não curou, não apagou, não deixou o sentimento sépia, nem o gosto ocre. De que material seria feito esse fio que os mantinham conectados? Fio elástico que poderia suportar até a maior de todas as distâncias, poderia suportar a indiferença, a saudade, a dúvida. Suportou a dor de todos os outros amores, sem perder a cor, o cheiro, a música. Muitas vezes foi a salavação necessária para continuar andando, outras tantas a maldição que prendia, que fazia sufocar, delírios vãos. Ela, finalmente encontrou a resposta, um sonho, a lâmina capaz de cortar o fio. Antes certificou-se de que ele estava bem. Sim, foi a resposta. A última vez que a vi, ela estava caminhando decidida com uma lâmina brilhando em suas mãos.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Ser especial não é a mesma coisa que ser diferente. Ou é?

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Enfim

E no descompasso, ela finalmente encontrou seu passo, piscou repetidas vezes, menina dos olhos, olhos de estrela, pupila de luz. Ela não andava, não havia mais peso, não havia mais corpo, ela flutuava e ria. Quantas vezes perdeu-se entrelaçada na busca pela perfeição, a perfeição do compasso, do ritmo. Mas o segredo não estava lá, na verdade nem havia um segredo, tudo se resumia ao acaso, uma brecha no tempo e no espaço, o tempo da vírgula, não mais que isso, não menos que isso. Um acaso tão preciso que é impossível medir, quantificar, definir. Na euforia da busca, a fuga, na nostalgia na ida, a volta, no segundo da perdição, o encontro. Enfim, sentido.