“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm
a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam
sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos
fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos” – Fernando Pessoa
No tempo da travessia é necessário coragem, a coragem do desapego. A coragem de deixar ir ao mesmo tempo que se vai. Além das roupas, é preciso abandonar velhos hábitos, o perfume conhecido, os livros lidos, as palavras ditas (mesmo que não ouvidas). É tempo de medo, medo do escuro, de não saber, não conseguir, não querer. Mas também e principalmente, é tempo de confiar que tudo passa, inclusive o tempo da travessia. É tempo de esperar a chegada. E esperando, partir.
Clarice partiu.