sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Meu desejo de paz!

Tem dias que não consigo me conter, no sentido de estar contida em mim mesma, não caibo, sobra alma no corpo, falta calma, transborda. Queria exorcizar de mim o grande amor, o amante e o amigo, o emprego que não foi, o dom que não cala, a palavra que não diz. O vazio que não acaba, a paz que nunca chega. Queria exorcizar essas dores crônicas que por costume não se sabe mais viver sem. Queria fechar o olhos e não pensar, queria dormir e não sonhar. E logo eu que nunca escrevo em primeira pessoa, minhas palavras na boca alheia, para que eu, alheia a tudo isso, possa usar sua boca para encontrar a minhas palavras. Palavras definitivas para esvaziar a alma. Mas enquanto minha alma transborda a boca sussurra nos ouvidos alheios, aos olhos alheios, meu desejo de paz.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

SIM!

No corpo uma sensação boa, era um prazer sutil. Ela precisava prestar atenção em si mesma para senti-lo. E no meio do dia, de repente ela se lembrava da sensação, parava, fechava os olhos e abandonava-se por alguns segundos, sutilmente. E nesse momento parecia que ela fazia sentido, parecia que sua existência não era fruto do acaso. Parecia que sim! Ela tinha um porquê. E sim! Ela deveria mesmo estar ali. E, por Deus, sim, ela deveria estar sentindo aquilo. Sim! Sim! Sim! Ela tinha vontade de gritar, era um grito rouco, visceral, primal. SIM! Ela queria mais.
Mas ela não dizia, não gritava, quase não existia, só sorria, sorriso debochado, luxuria pura. Esse intenso e breve momento deixava em seu corpo uma marca, como se nela morasse uma brisa, leveza de carícia, sutil. Parecia pouco, mas era muito.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Inédito

Ela olhou pela janela. Os carros passavam como naquelas fotos em que se vê a luz e seus contornos, mas não o carro em si. Como se os carros fossem borrões de luz. Luz branca, luz vermelha. Indo. Vindo. E ela ali, parada, olhando, sem ver. E os pensamentos correndo, deixando também borrões de luzes, multicoloridas. Ela não se fixava em nenhum pensamento, deixava-os flutuando, podiam ir e vir. Ela não queria ordená-los. A ordem era essa: não há ordem. E isso era inédito.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Além do entendimento...

Eu acredito na beleza além do entendimento. Mesmo não entendendo, gosto, talvez por intuir a poesia. A poesia, muitas vezes, mora nas entrelinhas. Como em um jogo, gosto de adivinhar sentimentos, inventar sensações, ver entre as linhas, ver além das linhas. Sou levada pelo ritmo das palavras, mesmo as estáticas, mesmo as que fingem não ser o que são. Discretamente, com o canto do olho, vejo o que está atrás da sentença. As palavras mais doces sussurram seus segredos. Gosto do que não entendo, mas que sinto, assim mesmo, ou por isso.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Será que há uma questão?

Termino com uma questão que talvez só você possa me ajudar: Será que há uma questão?

Ele primeiro achou graça da pergunta. Até sorriu ao terminar de ler, em seguida pensou em respostas espirituosas que pudessem mostrar como ele era inteligente e bem humorado. Todo mundo quer ser inteligente e bem humorado, alguns são, outros demonstram ser. Mas acabou achando que não tinha graça nenhuma, aliás que tipo de pergunta era aquela? Lógico que há uma questão. Sempre há. Ou não? Ele era o amigo imaginário dela, ela queria ter um amigo. Primeiro criou ela mesma, que é para ter alguém, antes de ter o amigo. E ele apareceu. Ela fez o teste: Por favor, Sir, desenha-me um carneiro? Ele disse que sim, quantos carneiros ela quisesse. Ela só quis um. E a partir desse dia eles se tornaram amigos. Mas voltando a questão ... e ele finalmente entendeu. Era um adeus. Ela sabia a hora de partir e a hora de deixar partir. Grandes amigos são assim. Talvez fosse essa a questão. Talvez, ele pensou.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Catarse

Transbordar. Revelar. Assumir. Ela desejava. Era mais que desejo, ou era o maior dos desejos. E por ser, transbordou. E por não poder conter, revelou-se. E na revelação veio a sabedoria, a entrega, a redenção. Não havia outra alternativa. Não havia outro caminho possível. O atalho não existia, não se pode passar pela vida, sem vivê-la. Desistiu do mapa, dos esquemas orientativos, das palavras alheias. Desistiu do fácil. Afinal, era simples. A simplicidade do encontro, do entendimento, da resposta. A resposta perseguida, enfim, com grandes asas pousa no seu colo. Para ela não restava nada, além de tudo. Isso, por enquanto, era suficiente. Assumiu.