segunda-feira, 13 de julho de 2009

Manifesto em Defesa do Mundo - Parte 1

Foi caminhando pelos ruas de pedra de uma cidadezinha encantadora que ela percebeu que seu amigo estava seriamente desencantado e descrente com esse Mundo. Ela se preocupou, afinal, o Mundo é o nosso lar e estar no lar deve ser sempre reconfortante. Fez graça falando em nome da humanidade, não em causa própria, apesar de sentir desesperadamente vontade de fazê-lo, desejava enumerar razões de ordem muito pessoal para trazê-lo mais perto, queria dizer coisas sérias rindo, sobretudo poesia. Ou gritar palavrões terríveis, desses de fazer corar a tia, sabia que também poderia dizer docilidades acidamente só para chamar sua atenção. Mas ela não fez nada disso, ali naquele fim de tarde, limitou-se a olhar o rio e dizer algumas frases desconexas, ainda em nome da humanidade. Não era ela que falava, ou era, mas não exatamente o que queria dizer. Apesar disso, acreditava nas suas palavras, mesmo aquelas, mesmo as ingênuas que enalteciam o mundo. Só não conseguiu convencê-lo. E de repente se viu invadida por um cansaço enorme, estava confusa, com frio ... Caminharam mais um pouco juntos, ela não conseguia se concentrar em mais nada, não tinha mais argumentos brilhantes, via vultos ao seu redor e via seu amigo distante, mesmo quando seus corpos se tocaram em um brevíssimo abraço, caminhavam em direções opostas, lado a lado. Despediram-se, ela ainda com vontade de gritar obscenidades da forma mais doce possível. E ele? Ele ... procurava a Rua da Lapa esquina com a Rua do Comércio.

2 comentários:

entremares disse...

"O Mundo é esse lugar imperfeito, mas perfeitamente viável. "

Acredito nisso. Acredito na imperfeição... acredito que este tudo só faz sentido enquanto se mantiver imperfeito, enquanto que aquilo que nos mova seja a procura... da perfeição.

Afinal de contas... poderá haver melhor destino que a própria viagem ?

Uma óptima semana para si...

Poeta Mauro Rocha disse...

Belo manifesto!! Um abraço!!