segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um eu, muitas porções.

Tem certos dias, geralmente os nublados, que eu amanheço cansada. Mal abro os olhos e já desejo fecha-los. Abro a boca e desisto, finjo um bocejo, finjo... Meu cansaço não vem do corpo doído pelo sono mal dormido. Quem dera assim fosse, quem me dera assim padecer. O cansaço das manhãs nubladas vem da alma que já não se aguenta, coitada, contida. Sabe? Queria usar as palavras mais ácidas e áridas, não queria ser boazinha, sensata, gentil. Sou doce, impregnada da doçura que conquista, que agrada. Não, eu não queria ser agradável. Tem aqui dentro, bem guardada, uma porção selvagem, desagradável e sobretudo divertida. Diverte-me e, tenho certeza, poderia diverti-los também. Essa porção - que é muito mais eu do que esses eus que por aqui passeiam - diz o que pensa. Aliás, apenas diz, porque não pensa, não pensa como nós pensamos assim de pensamento na cabeça que fica o dia martelando. Não pensar pode pesar como um defeito, mas não é, ou é, e eu não me importo. Adoraria não pensar. Imagina um dia inteiro livre de pensamentos? Cabeça leve sustentando apenas o ser. Geralmente leio, pondero se essas palavras cabem aqui, escrevo para quem, afinal? Pondero, deleto, não digo, calo. Mas essa porção divertida resolveu que hoje não, e eu cansada demais para resistir, cedo, fecho os olhos, volto a dormir.

Explico que não sou eu esse eu que aqui escreve? Não, não explico nada ... assim é mais divertido...

7 comentários:

Anônimo disse...

olá.

adorei as porções, imagina se fosse possível que a gente vivesse de acordo com cada uma delas, acho que a gente conseguiria direcionar com mais eficiências os nossos sentimentos.


sorte e luz.

Luciana Andrade disse...

Flor,
Hoje tõ meio sem saber quais palvras usar...
Uma linda semana pra você!

:: Daniel :: disse...

Às vezes é melhor esperar acordar de fato.
Eu tenho acordado com o corpo cansado. Mente também, mas o banho ajuda nessas horas.
Fica bem.
Beijos

Laís disse...

Sabe quando vc só acompanha as palavras de um texto e concorda, entende, sem ter o que completar? Foi assim que eu li seu texto agora. Às vezes a gente reluta, mas acaba aceitando as palavras que escreve, elas são mais fortes do que o nosso "eu sensato".

Clarice disse...

Afobório, o dificil é escolher ...com qual roupa vou hoje?

Lu, tem dias que as palavras faltam mesmo ...

Daniel, tem dias que só banho de cachoeira para ajudar mesmo. Que bom que voltou!

Laís, me rendi e elas ... como disse o grande Drummond ... Lutar com palavras é a luta mais vã ...
beijos

Flávio Borgneth disse...

Tem coisa que não cabe, aí a gente inventa um abraço e bota uns verbos no meio. Enfim. Hoje nem acredito em amor utilitário ou ligo para abandono. O bom mesmo é quando as coisas são, e pronto. Mas... Você tem boas crianças por aqui. “Prazer”, eu volto!

Clarice disse...

Flávio,
O divertido é inventar e fazer caber tudo o que der na telha depois da "inventança"
Volte sempre!