sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Brincando de Louco

Ela queria dizer tantas coisas, não gostava de censura e abominava a auto-censura, mas achava que a sensatez e a insensatez são relativas. O sensato de hoje pode ser o insensato de amanhã, mas como saber, se é hoje que se deve tomar uma decisão? Na verdade, ela sabia que não havia decisão nenhuma para ser tomada, tudo era, apenas isso, era e, é. Sem que ela com seus conceitos malucos, suas meias-palavras e suas entrelinhas pudessem fazer nada. É e pronto, sou porque é. Ela sentia tudo, com tanta intensidade, que há dias não respirava, e não ousava dizer, porque dizer é tornar concreto e de concreto chega o Mundo ao seu redor.
Ele havia se enganado, não é de faz de conta que ela queria brincar, nem de castelos onde seria rainha, não é nesse mundo que ela queria ficar. Mas como dizer isso? Ela se esforçou tanto para chegar e quando chegou teve medo, medo de não saber o que fazer dai para frente, medo de ser sensata, e entender que a sensatez não é o oposto da loucura, mas que a sensatez é a loucura. A sensatez é como brincar de louco. Não, ela não queria ser sensata e entendia que palavras como sensata, formidável, razoável não faziam parte dela. Na maioria das vezes ela fala demais, escreve demais, brinca demais, sente demais, sem que essas ações estejam necessariamente ligadas. Mas, ontem, à tarde, depois das três, enquanto chovia e o céu era cinza, ela entendeu e por entender não disse o essencial, disse palavras rasas, de sentimentos rasos. E depois se sentiu rasa como suas palavras, vazias. Dessa vez, não. Sabe que está sendo insensata, mas adora brincar de louco, mas tem que ser de louco lúcido ... que é muito mais legal!

2 comentários:

a calma alma má disse...

Clarice, é isso.

Anônimo disse...

muito legal!!!

http://www.youtube.com/watch?v=K1kyDCkMZrI&feature=rec-fresh+div-r-11-HM