quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Regiões de solidão
Ela gostou tanto quando ele se referiu a ela como sua região de solidão. Ela que tinha em si, em toda sua essência, regiões inabitadas. Gostava de ser assim, gostava da imensidão, do penhasco, da queda livre, não conseguia imaginar-se finita e gostava dessa sua porção sem fim. Ela era sua própria região de solidão, de solitude e era maravilhoso conter-se dessa forma, ilimitada. Ela foi criada para não pertencer, para não ser só, mas para ser mil, mil em uma, uma em mil. Ela que gostava do sentir, das sensações, dos sentidos, do tato, do cheiro, do gosto. Sentia tudo com exagero, um segundo de sentir poderia ficar para todo o sempre. Por causa das suas palavras era eterna em um segundo. Não era literal, nunca era, nunca é só isso. Era metáfora, metonímia, onomatopeia, hipérbole, adorava figuras da linguagem, pois era todos elas, sem nunca ser nenhuma. Era a essência do que escrevia, e isso era libertador. As palavras podiam tudo, até calar-se, enquanto a levavam. Só tinha medo de um dia não voltar. Mas se esse dia chegar ...
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